Ponte das Barcas. (Porto / Gaia)

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Respondendo a várias solicitações, dos nossos estimados leitores, sobre a "Ponte das Barcas", vamos tornar a abordar o assunto e aprofundar mais, uma breve publicação que havíamos feito no blogue, em 14 de Outubro de 2009. 
Esta nova publicação irá dessa forma, substituir a antiga.
A inegável necessidade de haver uma travessia para a margem Sul do Douro para circulação de pessoas e mercadorias do Porto, constituiu uma preocupação permanente ao longo dos séculos.
Existiram diversas "Pontes das Barcas" ligando o Porto a Vila Nova de Gaia, tal era importante a ligação entre estas duas povoações vizinhas, separadas apenas pelo Rio Douro.
Ponte das barcas em 1817. Henry L'Eveque. Clique para ampliar
 Gravura de J. J. Forrester, 1835. Ponte das barcas
A Ponte das Barcas, construída com objectivos mais duradouros, foi projectada por Carlos Amarante e inaugurada a 15 de Agosto de 1806. Era constituída por vinte barcas ligadas por cabos de aço e que podia abrir em duas partes para dar passagem ao tráfego fluvial.
Foi nessa ponte que se deu a tristemente célebre catástrofe da Ponte das Barcas, em que milhares de vítimas pereceram quando fugiam, através da ponte, às cargas de baioneta das tropas da segunda invasão francesa, comandada pelo marechal Soult, em 29 de Março de 1809. Mais de quatro mil pessoas morreram.
Citando o relato do sucedido:
"Alguns soldados franceses desgarrados tinham sido apanhados pelos portugueses, que para se vingarem duma derrota em parte atribuível à sua cobardia, arrastaram estes desgraçados para a rua principal, a Rua Nova, e aí os mataram barbaramente, crucificando-os de cabeça para baixo, para além de os mutilarem da forma mais horrível.
"Quando três dias depois o Exército francês forçou as defesas do Porto, não só o espectáculo dos seus compatriotas assassinados logo se lhes apresentou mas, como para provocar ao máximo as malvadas paixões da força invasora, aqueles soldados portugueses que tinham fugido a enfrentar os franceses em campo aberto, faziam agora fogo dos telhados, aumentando com cada tiro a fúria dos franceses que passavam em baixo, e que cedo se manifestou fazendo correr rios de sangue.
"Quando estas tropas francesas desciam a Rua Nova com as suas espadas banhadas no sangue dos habitantes indefesos, milhares destes procuraram escapar pela ponte de barcos que estabelecia a ligação com a povoação e o Convento de Vila Nova.
"O inimigo tinha penetrado na cidade de forma tão inesperada que não restava outra esperança de refúgio senão aquele temporário que se conseguiria na margem oposta do rio: uma massa de seres desprotegidos - homens, mulheres, crianças - foi vista a fugir aterrorizada para a ponte.
"Que pena poderá descrever as atrocidades que foram perpetradas em todos os cantos da cidade nesse momento terrível. À medida que cada casa se tornava por sua vez num local de assassínio e violação, aumentava o horror; e como se a esperança de prolongar a obra de destruição se misturasse com os bárbaros desejos do momento, um corpo de cavalaria inimigo galopou para interceptar os fugitivos que se dirigiam à ponte, enquanto que várias peças de artilharia começaram um fogo mortal na mesma direcção.
"Há medida que os dragões franceses pressionavam na direcção da ponte que constituía a última esperança dos infelizes habitantes, teve lugar uma cena de horror excedendo talvez qualquer outra das que têm conspurcado os anais da guerra.
"Com ferocidade impiedosa os soldados sedentos de sangue espadeiravam para todos os lados, não poupando idade nem sexo. Inumeráveis vítimas indefesas foram assim destruídas e, como que para aumentar a intensidade do sofrimento, os primeiros dois barcos que suportavam a ponte afundaram-se sob a pressão do enorme peso, e massas de seres humanos foram precipitadas na torrente tumultuosa. Viam-se perseguidores e perseguidos agarrados freneticamente uns aos outros nos últimos momentos duma luta mortal, à medida que a forte corrente os arrastava do local da luta para a quietude da morte".

"Alminhas da Ponte" na Ribeira do Porto, circa 1905-10
É um memorial representado num baixo relevo em bronze e realizado em 1897 pelo grande escultor Teixeira Lopes, (pai). A "memória" remete-se ao dia 29 de Março de 1809.
Centenas de portuenses, fugindo das tropas do Marechal Soult que atacavam a cidade do Porto sob ordens de Napoleão, durante as invasões francesas morreram nas águas do Douro, durante a travessia da "Ponte das Barcas". 
A ponte cedeu com o excesso de população a atravessar em simultâneo e a correr.
"Alminhas da Ponte", c.1905-10
Crianças, junto às "Alminhas da Ponte"
Reconstruída depois da tragédia, a Ponte das Barcas acabaria por ser substituída definitivamente pela Ponte D. Maria II ou Pênsil em 1843. Sobre essa nova ponte, temos uma publicação específica neste blogue.
Ponte D. Maria II ou Pênsil. A primeira ponte feita para durar e resistir
Prova actual em papel salgado, tendo por base um Calótipo de Frederick William Flower
Ponte D. Maria II. Frederick William Flower
Aspecto da cidade do Porto, desde a Igreja da Sé à Igreja da Vitória, vendo-se o Cais da Ribeira, a Ponte Pênsil e as Escadas da Rainha
Reprodução realizada em finais dos anos 40, de um calótipo de Frederick William Flower, 1849-1859



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