Palacete Leite Pereira. (Porto) Será "salvo" pelo turismo?!?

segunda-feira, 3 de julho de 2017

Quem nasceu e cresceu, ou frequentou com assiduidade a cidade do Porto nas últimas décadas, não será estranho ao fenómeno do turismo explosivo, que assolou a mesma a partir de 2005/2008, pouco mais ou menos...
Um centro histórico, no qual se viam os portuenses no seu trabalho diário e que se tornava um "deserto" a partir do fim do expediente, é hoje um "enxame" de turistas estrangeiros. Alemães, Ingleses, Franceses, Chineses, Brasileiros, etc. etc. entopem a Baixa de noite e de dia.
Já correm vozes, que muito brevemente a cidade do Porto terá de tudo, menos portuenses...
Tudo tem o seu lado bom e o seu lado mau. Aqui não será excepção. O lado bom, é obviamente o lado referente à economia. Os cafés e restaurantes da Baixa do Porto, que são cada vez mais, passaram a ostentar preços para bolsos de Alemães e Ingleses, que ganham em média 5 ou 6 vezes mais que o trabalhador português. As casas antigas, ou "velhas" como preferem alguns e nas quais já ninguém podia morar, por falta de condições, estão a ser reconstruídas (umas com mais rigor histórico que outras) e transformadas em "habitação de luxo" vendidas por preços exorbitantes. Os antigos Palacetes de famílias nobres, estão a dar lugar a Hoteis de luxo, um atrás do outro...
O lado mau será o crescente e já evidente despovoamento, por parte dos seus habitantes autóctones, que não possuem possibilidades financeiras, para fazer frente aos seus "concorrentes" estrangeiros.
A cidade velha perde assim o resto dos seus habitantes e com eles as suas características próprias...
Mas, após esta ligeira reflexão, vamos ao verdadeiro item desta publicação: O Palacete Leite Pereira.
Localiza-se na antiga Rua do Olival, sitio onde em 1485, apareceu a peste e para evitar a propagação dessa terrível epidemia, o arruamento foi entaipado. Isso fez com que em 1486 se alterasse o nome para a actualmente conhecida Rua das Taipas.
 Palacete Leite Pereira na Rua das Taipas in AMP
Os Leite Pereira, Viscondes de Alcobaça, eram a família nobre, proprietária desta formidável casa e cujo brasão (ou pedra de armas) ainda se pode observar na fachada.
 Palacete Leite Pereira
 A pedra de armas na casa nº 74 da Rua das Taipas
Tendo deixado de ser residência nobre em data, que neste momento não possuímos dados para referir, o certo é que este espaço serviu posteriormente de sede ao Clube Inglês. Funcionou ainda como uma drogaria durante largos anos.
O Palacete nestes últimos anos... ou décadas
Nos últimos anos o Palacete tem estado neste crescente estado de degradação... será também "salvo" pelo turismo? Se for o caso esperemos que o "salvamento", seja feito de forma mais digna, que outros que temos observado. Edifícios magníficos, onde são derrubadas todas as paredes antigas de pedra (e substituídas por outras de betão) ficando do edifício original, apenas a fachada frontal. 
Exemplos? Passeiem pelo Largo Moinho de Vento, ou pela Rua de Sá Noronha...


Imagens: 
- Arquivo Histórico Municipal do Porto 
- Google Maps

3 comentários

Júlio Coelho disse...

Se não for salvo, tal servirá de gaudio para tidos aqueles que, ou sendo invejosos do êxito alheio ou sendo, convictamente , velhos do Restelo, rejubilarão com a não vinda de turistas. Mas, pergunto eu na minha ignorância, os autóctones, tripeiros de gema, irão habitar aquele prédio tal como está? Terão meios financeiros para o restaurar ou estarão à espera de alguém que invista o dinheiro, restaure, alugue pir tuta e meia (que, dizem, é o que podem pagar) e depous destruirem tudo?

30 de outubro de 2017 às 01:13
Pedro Bessa disse...

Caro Júlio, nem uma coisa nem outra mas a câmara TEM de permitir a venda sim mas DEFENDER o património cultural da cidade. E sim, pode criar ferramentas para isso, vide o recende "Porto de Tradição" em que cada vez mais negócios e espaços históricos da cidade são obrigatoriamente defendidos contra a especulação (e até a lei) imobiliária. Este Palacete merecia um futuro digno...sem ser a sua destruição.

20 de maio de 2019 às 19:10
Unknown disse...

Também serviu de armazém de fruta nomeadamente banana nos anos 70.

14 de abril de 2022 às 11:56

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