O Convento dos Remédios. (Cidade de Braga)

sexta-feira, 19 de março de 2010

Clique nas imagens para as ampliar


O Convento dos Remédios, ocupava todo quarteirão oriental do Largo Carlos Amarante, onde se localiza hoje o cinema São Geraldo e o horrível Shopping Santa Cruz. 
Fundado no ano de 1544 por D. Frei André de Torquemada, religioso franciscano coadjutor do Arcebispo D. Manuel de Sousa, foi o primeiro convento a surgir em Braga. Convento feminino da ordem de S. Francisco, ocupava toda a zona Nascente do Largo Carlos Amarante (que durante longo tempo foi logicamente chamado de Campo dos Remédios), desde a Rua de S. Marcos até ao fundo da Rua de S. Lázaro. Do edifício primitivo nada chegou à data da demolição. Do complexo conventual demolido em 1911 é de destacar o monumental edifício setecentista que fazia gaveto com a Rua de S. Marcos.
A igreja, que se observava no início do século passado, foi a terceira que o convento teve. A primeira não durou mais de 70 anos, tendo surgido um novo projecto em 1609, que em 1724 deu lugar àquele que foi demolido. Este último templo foi uma obra do arquitecto vimaranense António Pinto de Sousa, mandado edificar pela Abadessa D.ª Francisca de Serafins, onde se podiam admirar belos exemplares de azulejos setecentistas alusivos à vida de S. Francisco, para além de um fabuloso retábulo barroco que hoje pode ser visto na capela de Santa Marta da Falperra. A igreja tinha uma curiosa fachada com seis estátuas organizadas em três níveis, entre colunas torsas.
Largo dos Remédios e Hospital de S. Marcos ( Ed. Manoel Carneiro) 
Todos os elementos da fachada estão hoje espalhados pelo recinto do Parque da Ponte. As imagens estão colocadas junto ao cruzeiro de D. Frei Bartolomeu dos Mártires, sendo que a imagem de S. João Baptista se encontra na parede traseira da capela de S. João da Ponte assente num dos conjuntos da fachada; as colunas estão no paredão que adorna o adro da capela; alguns dos azulejos do interior da igreja forram hoje as paredes da referida capela; as armas da ordem de S. Francisco que encimavam a fachada estão num recanto, uns metros à frente do portão Sul do parque; e junto a elas, uma pedra que outrora encimava a porta do templo onde se podem ler as seguintes inscrições: ANNO DOMINI MDCCXXV (ano de 1725), que se referem ao ano da edificação deste templo. Além destes elementos ainda podemos admirar, espalhados pelo recinto do parque, alguns capitéis e outras pedras de cantaria provenientes do extinto convento.
A cerca do convento ocupava uma vasta área, e como se encontrava bastante degradado e, havia já alguns anos abandonado, em 1907 o município solicitou ao governo a cedência de parte da cerca para alargamento da futura Avenida João Franco (actual Avenida da Liberdade). As confrarias sediadas no templo solicitaram também, no mesmo ano, a cedência da igreja e sacristia, mas misteriosamente este requerimento desapareceu dos gabinetes estatais. A 13 de Setembro de 1907 foi concedido ao município mais do que havia pedido, sendo agora detentor não só da cerca mas de todo o convento, incluindo o templo. As confrarias voltam a tentar a cedência do templo e, a 31 de Outubro do mesmo ano, o Governo acedeu ao pedido. Contudo a Câmara de Braga opôs-se a esta deliberação por ter resolvido, entretanto, abrir uma rua transversal pela cerca do convento, desde a Avenida João Franco até ao Largo Carlos Amarante, havendo a necessidade de cortar a igreja ao meio para alinhar a artéria com a fachada da igreja de S. Marcos. Porém o templo e dependências são cedidos às confrarias. A Câmara entra, então, em negociações com as confrarias, mas tal não foi necessário pois o decreto que cedia a igreja às confrarias não foi incluído no despacho ministerial, logo ficaram na posse do município. Muitos movimentos cívicos se levantaram, protestando contra a decisão da Câmara de demolir o templo e convento, mas de nada valeu pois no dia 3 de Abril de 1911 foi rezada a última missa na igreja e poucos dias depois foi demolida.
Para além dos elementos transferidos para o Parque da Ponte, algumas telas a óleo foram transferidas para o Arquivo distrital, sendo as imagens do templo espalhadas por várias igrejas da cidade. Do convento saíram ainda algumas fontes incluindo a fonte de Santa Bárbara que actualmente se encontra no jardim do mesmo nome, e outros objectos que hoje se encontram em local desconhecido na posse de particulares.
Com a demolição desta igreja, Braga ganhou uma nova rua (Rua Gonçalo Sampaio) e um fabuloso teatro (Theatro Circo – 1915), todavia perdeu um monumento que marca, indelevelmente, a sua história.

- Bibliografia parcial, remetida por leitores
- Fonte: Biblioteca Municipal

1 comment

Unknown disse...

Simplesmente lamentável. Braga desaparecida.

14 de julho de 2018 às 17:02

Enviar um comentário