Palácios, Pontes, Mosteiros, Aldeias, Igrejas e Edifícios. Tudo aquilo que fez parte da História de Portugal e foi destruido ou submerso em nome do progresso...
sexta-feira, 1 de agosto de 2025
Das Peixeiras Ambulantes: Memória, História e Desaparecimento.
terça-feira, 8 de julho de 2025
A Cruz do Senhor da Pedra Fria (Porto).
No ermo Campo das Malvas, nasceu um símbolo de piedade e temor.
Antes da imponência barroca da Torre dos Clérigos, o local era um campo silencioso e sombrio, conhecido como Campo das Malvas. Fora das muralhas da cidade, o lugar servia como cemitério dos indesejados — salteadores, condenados e criminosos que, por suas acções, não tinham direito a repousar em solo sagrado.
Mas mesmo esses homens esquecidos eram, aos olhos do povo, filhos de Deus. E foi essa piedade simples e comovente que levou à erecção de um cruzeiro de pedra, conhecido como a Cruz do Senhor da Pedra Fria. No cruzeiro, uma imagem de Cristo pintada evocava redenção e esperança. E por cima dela, um lampião de ferro sustentava uma lamparina de purgueira, alimentada por azeite — cuja luz fraca, oscilante, lançava sombras espectrais e criava uma atmosfera fantasmagórica, que muitos descreviam como tenebrosa.
Cruz do Senhor da Pedra Fria, no Campo das Malvas (imagem fictícia)
Hoje, essa cruz sobrevive — não já ao ar livre, mas resguardada no Museu do Cristo, no interior da igreja dos Clérigos. Uma memória de pedra, luz e compaixão que antecede e funda espiritualmente o local onde a torre ergueu o céu.
Cruz do Senhor da Pedra Fria. Imagem actual
Torre dos Clérigos
terça-feira, 20 de maio de 2025
Entreposto Frigorífico do Peixe (Porto).
Da Lota à Hotelaria: Metamorfose de um Ícone da Arquitectura Industrial Portuense.
O edifício conhecido como Entreposto Frigorífico do Peixe, também designado por «Bolsa do Pescado» ou «Lota do Peixe de Massarelos», constitui um notável testemunho da arquitectura industrial moderna em Portugal. Projectado pelo arquitecto Januário Godinho e edificado entre 1933 e 1935, este imóvel situado na confluência da Alameda Basílio Teles com a Rua D. Pedro V, na cidade do Porto, foi concebido para acolher a primeira lota mecanizada do país, dedicada à receção, conservação e comercialização de pescado
A sua arquitectura funcionalista, marcada pelo uso inovador do betão armado e por uma linguagem estética depurada, reflecte as correntes modernistas da época. No seu interior, destacavam-se a ampla nave da bolsa e os armazéns frigoríficos no piso inferior, essenciais ao armazenamento do pescado.
Após a cessação da sua função original, o edifício conheceu diversos usos. Em 1961, foi adquirido pela Companhia de Cimentos de Leiria, sendo reconvertido em armazém. Na sequência da Revolução de Abril de 1974, foi ocupado por movimentos populares, passando a albergar uma associação de moradores que o adaptou para fins sociais e culturais, nomeadamente creche, lar de dia e centro de actividades lúdicas.
Em 2013, findou essa ocupação, e em 2014 iniciou-se a sua reabilitação profunda, conduzida pelo Grupo Nelson Quintas, que culminou na transformação do imóvel num hotel de quatro estrelas. A intervenção preservou a integridade da fachada original, bem como alguns elementos decorativos de relevo, como os baixos-relevos alusivos à faina piscatória, reinterpretando o espaço com respeito pela sua memória histórica.
Actualmente, o antigo entreposto subsiste como o Hotel Bolsa do Pescado, integrando-se na paisagem urbana ribeirinha do Porto como um exemplar requalificado do património industrial da cidade.
Clichés in Centro Português de Fotografia (CPF)
segunda-feira, 12 de maio de 2025
Restaurante Garrafão (Leça da Palmeira).
O Restaurante Garrafão foi, indubitavelmente, uma das mais prestigiadas instituições gastronómicas de Leça da Palmeira, situado na Rua António Nobre, nº 53. Instalado num edifício de valor histórico, datado do século XIX, o restaurante destacou-se pela sua oferta culinária de excelência, fiel à tradição portuguesa. Entre os pratos mais emblemáticos da sua carta, merecem destaque os linguadinhos fritos panados com ovo e pão ralado, acompanhados por uma açorda de marisco, que se tornaram símbolos da sua cozinha requintada. Este notável padrão de qualidade e a atmosfera sofisticada fizeram do Garrafão um local de eleição, sendo frequentemente associado a um público de maior poder aquisitivo.
Embora o Garrafão tenha encerrado as suas portas, o legado do restaurante perdura na memória coletiva da população local e de todos aqueles que frequentaram o espaço. Este marco da gastronomia de Leça da Palmeira permanece como um símbolo de uma era de grande prestígio na cena culinária da região.