Nas duas primeiras imagens que se seguem, vemos o efeito da grande cheia do Douro ocorrida em 1860.
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Embora de enormes proporção (observemos o nível da água perto do tabuleiro da extinta ponte Pênsil) o facto é que, a catastrófica cheia de 1860, ficou cerca de um metro abaixo da cheia do Douro, que viria a ocorrer em 1909.
Cheia de 1909 comparada com a cheia de 1860 in Ilustração Portuguesa
Nas imagens de baixo podemos visualizar o efeito impressionante da grade cheia ocorrida em Dezembro de 1909. Aconselhamos o nosso estimado leitor a "clicar" sobre as fotografias, de modo a ampliar as mesmas.
Na Madrugada de 21 de Dezembro detectou-se uma subida do rio, fora do normal. No Cais dos Guindais, no Porto, onde os rabelos descarregavam os produtos agrícolas vindos do Alto-Douro, estava tudo inundado. As balanças e os guindastes para o descarregamento das mercadorias, tinham só a parte superior de fora.
Durante a tarde afundam-se duas barcaças no lado de Gaia, com elas desaparecem os carregamentos que traziam toros de pinheiro e de carvão. A chuva continuava a cair com intensidade, sem parar. A maré subia e invadia com suas águas os estabelecimentos comerciais e habitações das zonas ribeirinhas do Porto e de Gaia.
Em Gaia mais 11 barcas de carga eram arrastadas pela corrente, acabando por se despedaçarem contra os vapores fundeados no Cais do Cavaco.
Na manhã do dia 22, o mercado ribeirinho da Gaia «fugira» para a Rua Direita. No Porto, a Praça da Ribeira estava meia encoberta de água.
Entretanto, da Régua chegava um telegrama nada animador, que informava que o Douro continuava a crescer. Nesse dia perderam-se mais de 60 barcas de carga, a maior parte foi barra fora. Uma delas, carregada de toros de pinheiro, engatou à passagem nos cabos que seguravam o iate inglês "Ceylon" e levá-lo-ia até à desgraça, não fora a intervenção corajosa de alguns pescadores da Afurada.
Ao fim do dia, no Porto, a Praça da Ribeira, estava submersa. Na noite desse sinistro dia 22 de Dezembro, o céu estava negro, o vento sul soprava demolidor, as águas corriam fortes e barrentas. A medição da velocidade do caudal registava as 11 milhas horárias, entretanto um novo telegrama chegava da Régua, o qual dizia que as águas continuavam a subir, sem parar.
Cheia do Douro em Dezembro de 1909. Praça da Ribeira. Cliché Alvão
Praça da Ribeira
Miragaia. Cheia do Rio Douro de 1909. Postal Fotográfico Alvão
Vista Panorâmica da Ribeira. Cheia de 1909. Postal Fotográfico Alvão
Às primeiras horas do dia 23, o rio galgava o Muro dos Bacalhoeiros, no Porto. O pânico estava instalado entre os moradores das duas margens do Douro. A força das águas arrastou tudo, a Foz parecia um cemitério de restos de embarcações.
Ao meio-dia, com a preia-mar, o nível do
rio estava a cerca de 80 centímetros do tabuleiro inferior da ponte Luís I. È
programada a demolição deste com explosivos. Está batido em um metro o recorde
das cheias de 1860.
Os episódios trágicos multiplicam-se. No
início da tarde, perante os olhares atónitos dos milhares de pessoas que se
encontravam nas margens, um pequeno bote faz a sua descida para a morte —
no interior apenas um vulto, o de um homem, vindo sabe-se lá donde, de joelhos,
as mãos postas a bradar a Deus e aos homens que o salvem. Num repente, defronte
da Alfândega, a embarcação vira-se e é engolida, desaparecendo para nunca mais
ser vista.
Em Gaia, um comerciante, proprietário de
muitas barcas afundadas, enlouquece e dá entrada no Hospital do Conde de
Ferreira. As notícias da época falam de suicídios, gente que ficou na miséria e
desesperou.
Ao anoitecer do dia 23, a chuva e o vento
abrandam.
Na
manhã do dia 24 a cheia retrocede. No dia 25 o Sol brilha radioso. Podia-se
enfim, dar atenção ao Natal e aos desafortunados moradores ribeirinhos que
tinham ficado sem lar.
Carruagem dos bombeiros, descendo da Praça de Almeida Garrett, durante as cheias de 1909
Cheia do Douro em Dezembro de 1909. Alfândega. Cliché Alvão
Mais ou menos antigas, as cheias sempre foram uma tragédia
Arcos de Miragaia. Cheia do Rio Douro de 1909. Postal Fotográfico Alvão
Cheia no Douro - Vista geral
Fonte parcial:
- Junta de Freguesia de Santa Marinha
- BPI, Edições da "Tabacaria Cubana"
- Joshua Benoliel
- Alvão
- AMP
- Joshua Benoliel
- Alvão
- AMP
Boa tarde caro Sr.,
ResponderEliminarApesar dos 9 anos já decorridos após a publicação deste interessante "post", resolvi comentá-lo, para lhe fazer notar que todas as fotos e postais, como aliás consta no
corpo das imagens, estão relacionadas com a cheia de 1909. Mas é possível que haja uma excepção; trata-se da
2ª foto, com o Muro dos Bacalhoeiros em grande plano. Reparei que não está lá a rasca "Mendonça 2º", como se vê nas outras fotos mostrando o mesmo local, o que me leva a suspeitar tratar-se da cheia de 1900, que teve, também, resultados devastadores.
Cumprimentos, Reinaldo Delgado