segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Honra de Barbosa. (Rans, Penafiel)

Honra de Barbosa. Entre os edifícios das antigas câmara e cadeia, vemos o pelourinho. Atrás do pelourinho o solar, onde sobressai a torre ameada
Muito resumidamente, pode-se descrever a "Honra de Barbosa" como um conjunto formado por solar, torre, residência, pelourinho, prisão, fonte e capela.
A residência senhorial com torre ameada, foi fundada no século XII por Mem Moniz de Ribadouro. 
A residência apresenta um corpo construído de planta composta em U que integra ao centro a torre ameada, reconstruída entre os séculos XV e XVI, de planta quadrangular, dividida em dois pisos e rematada por merlões manuelinos. No piso superior da torre destaca-se uma janela de lintel manuelino, sobre a qual existe um pequeno cordão que circunda o edifício e de onde sobressaem quatro gárgulas em forma de canhão. No perímetro da Honra existe ainda a capela do Menino Deus, do século XVII, a antiga Câmara, a cadeia e o pelourinho, com remate em pinha, símbolo da sua autonomia e jurisdição própria.
 Câmara, cadeia e o pelourinho
Segundo informações do IPAAR, a actual configuração da torre da Barbosa poderá esconder um dos mais antigos testemunhos de arquitectura militar medieval no nosso país. A tradição tem apontado o ano de 866 como o da construção de uma primitiva estrutura militar neste local, na sequência da doação do lugar de Bordalo (topónimo que tem sido interpretado como o mesmo a que corresponde a actual torre), feita por Afonso III das Astúrias ao conde D. Hermenegildo. No entanto, até ao momento não se identificaram quaisquer vestígios dessa primitiva estrutura e só um programa de intervenção arqueológica o poderá esclarecer.
No século XII, possuímos informações mais seguras acerca do monumento. Reinando D. Afonso Henriques, a Terra de Penafiel esteve na posse de D. Mem Moniz (irmão de D. Egas Moniz), nobre a que se atribui a construção de um paço fortificado no local. Por testamento, a propriedade passou a sua filha, D. Teresa Mendes e, por casamento desta, para a mão de D. Sancho Nunes de Barbosa, o primeiro nobre a usar este apelido no nosso país e a cuja existência se deve a alteração do topónimo.
Infelizmente, dessa fase românica da propriedade nenhum testemunho material chegou até hoje, mas a sua antiguidade é atestada logo no reinado de D. Dinis. Nas Inquirições então efectuadas, a quinta é mencionada como “honra de Barbosa Velha”, certamente por contraste com outras propriedades nas imediações de instituição mais recente.
O aspecto actual da torre medieval data de meados do século XIV e, posteriormente, de duas reformas levadas a cabo nos reinados de D. João I e de D. Manuel. Em 1334, a honra foi repartida por vários herdeiros, cabendo a parte que incluía a torre senhorial a D. Leonor Mendes e a seu marido, D. Martim Anes de Sousa. Com a subida ao poder da nova dinastia de Avis, a propriedade foi doada aos Malafaias e Azevedo, que a transformaram em solar familiar. Datará destas duas alterações de posse a construção que actualmente subsiste, tendo sido mais difundida a hipótese que a situa no século XV, embora as suas características a pareçam colocar um pouco mais atrás no tempo.
A torre é uma estrutura de planta quadrangular, de dois andares marcados por vãos abertos nos alçados, e encimada por uma linha de ameias a toda a sua volta. O “aparato denso dos muros”, que aparecem aqui “desprovidos de aberturas”, confere-lhe um aspecto mais arcaico que aquele que seria de supor numa construção do século XV, embora esta seja uma convicção com base em analogias estilísticas, não se alicerçando em datações absolutas.
No reinado de D. Manuel, a torre foi objecto de uma modernização, cujo alcance é ainda mal conhecido. As janelas do piso superior foram modificadas, para albergar um arco polilobado abatido de perfil manuelino. Dessa campanha, deverão datar também as ameias chanfradas que rodeiam o edifício e as gárgulas de canhão dispostas nos seus ângulos, aspectos que “denunciam a sensibilidade da época manuelina”.
Por essa mesma altura, ter-se-ão dado importantes transformações nas partes habitacionais, alterações que a época moderna se encarregariam de aprofundar. Actualmente, um corpo de dois andares, mas bastante mais baixo que a torre, adossa-se-lhe a uma das faces laterais e possui planta em L. A entrada principal é no piso nobre do corpo menor, com patim alpendrado e acesso através de uma escadaria paralela ao corpo maior. No piso térreo, abrem-se várias portas e janelas, de carácter utilitário e de vocação agrícola e de serviço. O piso superior é fenestrado regularmente por janelas em guilhotina, elementos que conferem clara monumentalidade e carácter nobre a esta parte do conjunto.
Outras transformações foram, entretanto realizadas, tendo a quinta chegado aos nossos dias como uma soma de múltiplas fases construtivas, cujo estudo rigoroso se impõe como única via de melhor se conhecer a sua história.
 Pelourinho, símbolo de autonomia
 Capela do Menino Deus (Natividade)
 Sobre a porta da capela, a data de 1698
Lenda de Rans:
«Há muitos anos havia no lugar de Lordasa a freguesia de Rans, uma presa de água onde se juntava a agua que servia para regar os campos. Nessa presa havia muitas rãs que cantavam muito, e de noite ouviam-se a grande distância. Conta-se a que a princesa Teresa passava junto de uma presa, quando vinha para a Honra de Barbosa. Ela gostava muito de ouvir as rãs a cantar e deu o nome a esta freguesia. O nome da freguesia sofreu algumas alterações e hoje tem o nome Rans».

Fontes:
- IPAAR (DGPC)
- CMP
- DGEMN
Imagens:
- Alexandre Silva

Hotel Boa-Vista. (Porto)

Hotel Boa-Vista
Como muitos já o saberão, este Hotel felizmente não desapareceu. É facto que sofreu grandes modificações (indispensáveis com o decorrer das décadas), começando pela sua dimensão, que actualmente é bastante superior aquela apresentada nestas imagens.
 Hotel Boa-Vista na década de 40 do séc. XX
O Hotel Boa-Vista  foi fundado em 1835, sendo nas décadas de 60 e 70 do séc. XIX um dos locais mais frequentados pelos banhistas das praias adjacentes. Este Hotel possuía um restaurante e uma boa sala de bilhares que atraíam muitos clientes, principalmente no Verão.
Se desejar ver o Hotel Boa-Vista com o seu aspecto actual, clique AQUI

Imagens:
- AMP
- BPI (Digitalização)

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Carvalhido. (Porto)

Carvalhido. Cliché de 1930 in AMP
O Carvalhido deve o seu nome à concentração de soutos de carvalheiras. Desconhece-se a data de origem deste topónimo. Sabe-se que era um grande conjunto de propriedades rústicas foreiro à Misericórdia do Porto, pertencente aos Noronhas, da vizinha Quinta da Prelada, e como tal o encontramos denominado numa carta de demarcação com o vizinho Casal das Vendas, em 1638.
Em 18 de Junho de 1692 a Misericórdia fez Prazo do Carvalhido a D. Garcia Martins de Mesquita e Noronha, como sucessor de seu pai D. Bartolomeu Martins de Mesquita e Noronha e D. Manuel Martins de Mesquita e Noronha.
Igreja do Carvalhido nos anos 50 - Cliché de Teófilo Rego
Data de 1738 a construção do Cruzeiro do Senhor do Padrão que saúda os viajantes que seguiam pelo caminho para Norte, nomeadamente para Santiago de Compostela. Por seu lado, a capela do Carvalhido é pela primeira vez mencionada em registo paroquial de Santo Ildefonso de 1760. Começou por ter como padroeira Nossa Senhora da Anunciação e o Espírito Santo.
O lugar do Carvalhido surge na "Planta das Linhas do Porto", do coronel Arbués Moreira, de 1833, a propósito das posições de liberais e absolutistas durante o Cerco do Porto. E foi precisamente em honra dos hostes de D. Pedro que a Câmara Municipal do Porto, em sessão de 28 de Outubro de 1835, decretou que a Praça do Carvalhido se passasse a denominar Praça do Exército Libertador.
No inventário que se fez em 1904, por morte de D. Francisco de Noronha e Meneses, da Prelada, foi descrito o Casal do Carvalhido, com sua morada de casas sobradas, palheiro, aido e a Rua da Prelada dos Castelos e rua particular, do nascente com a Rua Nova de Paranhos, sendo avaliado em nove contos de réis. Esta Rua Nova de Paranhos é a actual Rua do Carvalhido.
A Paróquia do Coração de Jesus do Carvalhido foi criada por provisão do bispo do Porto, António Augusto de Castro Meireles, de 24 de Dezembro de 1940. Serviu de primeira igreja paroquial do Carvalhido a capela que está na Praça do Exército Libertador e que pertencia, desde 1886, à Confraria de Nossa Senhora da Conceição. Só em 1969 se pôde celebrar a primeira missa na nova igreja, projecto do arquitecto Luís Cunha. Esta nova igreja é consagrada ao Sagrado Coração de Jesus, Maria e José.
Igreja do Carvalhido nos anos 50 - Cliché de Teófilo Rego
O Carvalhido em 1974. Cliché de autor desconhecido

Fontes parciais:
- Comunidade Paroquial do Carvalhido
- Comunidade do Monte Pedral - Diocese do Porto
- Wikipédia 

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Escadaria exterior da Igreja dos Congregados. (Porto)

Igreja dos Congregados, num cliché obtido a partir do demolido Mosteiro de São Bento de Avé-Maria
O convento dos frades de S. Filipe de Nery, com janelas voltadas para a antiga Praça de D. Pedro (actual Praça da Liberdade), desapareceu quase por completo. Dele apenas sobrou o templo da invocação de Santo António e ainda hoje conhecido por Igreja dos Congregados, com a fachada voltada para a Praça de Almeida Garrett onde em tempos passados se localizou a velha Porta de Carros (entrada no Burgo) da conhecida Muralha Fernandina.
Praça de D. Pedro, vista da entrada da rua dos Clérigos
Atrás da estátua equestre do Rei, vemos o palacete que albergou os Paços do Concelho
Na direita da imagem, a igreja dos Congregados
Sobre a escadaria exterior da igreja, "misteriosamente desaparecida" e já muitas vezes questionada pelos nossos leitores, falaremos então agora um pouco. 
Começando pelo fim, tenhamos desde já a consciência que esta escadaria não desapareceu... pelo menos por completo. Tiraram-na da parte de fora da fachada da igreja e reconstruíram-na, embora em escala menor, na parte de dentro da porta principal. A razão principal é simples: - Uma questão de topografia.
O pavimento da praça variou de nível ao longo dos anos, o que forçou o desaparecimento das primitivas escadas que davam acesso à porta principal da igreja.
Cliché da actual praça Almeida Garrett, obtido do término da extinta praça de D. Pedro
Na esquerda vemos a igreja dos Congregados, com a sua antiga escadaria exterior. Ao centro da imagem, vemos a rua de Santo António (31 de Janeiro) à direita da qual visualizamos, a actual rua da Madeira
Segundo uma planta, desenhada por D. José Champalimaud de Nussane em 1790, verifica-se com facilidade que as primitivas escadas eram constituídas por degraus paralelos à fachada como também o demonstra o artista J. C. Vila Nova num dos seus belos desenhos da colecção que publicou em 1834. Olhando atentamente o desenho de Vila Nova verifica-se que eram 7 ou 8 os degraus em frente à porta principal do templo. Chega-se à mesma conclusão olhando para um belo desenho de autor anónimo que existe (pelo menos estava lá há anos) no Museu Nacional de Soares dos Reis e que nos mostra um aspecto do "Largo da Feira de S. Bento e Porta de Carros nos finais do século XVIII".
Praça Almeida Garrett vista da Rua de Santo António
Na direita da imagem vemos o início da Rua do Bonjardim e a Igreja dos Congregados
 Palácio das Cardosas, vendo-se a rua dos Clérigos
Vendedeiras e transeuntes na Praça de Almeida Garrett, entre a igreja dos Congregados, que ainda apresentava a sua escadaria exterior e a gare provisória, da Estação de S. Bento, circa 1900
Carruagem dos bombeiros, descendo da Praça de Almeida Garrett, durante as cheias de 1909
Igreja dos Congregados. A estreita artéria na direita da imagem, era o início da rua do Bonjardim, antes da abertura da rua Sá da Bandeira
Na Planta de 1839 aparecem umas escadas diferentes daquelas a que nos temos referido. Ocupam um espaço mais reduzido do que as primitivas mas ficavam sobre o passeio estorvando, dessa maneira, o trânsito que por essa época era já considerável. A diferença mais acentuada em relação ás anteriores era a de que, enquanto as escadas primitivas apareciam na situação de paralelas a fachada, na Planta de 1839 eram perpendiculares. Mantiveram-se perpendiculares até 1913, ano em que foram definitivamente retiradas e substituídas por outras, as actuais, metidas dentro do corpo da própria igreja, conforme projecto aprovado em sessão da Câmara de 8 de maio daquele ano.
Igreja dos Congregados, sem a escadaria exterior. Cliché de Domingos Alvão

Fontes parciais:
- CMP
- Jornal de Notícias
- AMP
- Alvão

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Viela da Polé. (Porto)

Praça de D. Pedro. Primeiros anos da República. Vemos  a extinta Viela da Polé do lado direito da imagem, no seguimento das escadas. Cliché de Aurélio da Paz dos Reis
Sobre esta viela, escrevia Alberto Pimentel em 1913: "a antiga viela da Polé, hoje entaipada, em atenção à higiene pública, por duas portas de ferro, numa e noutra extremidade".
A Viela da Polé, era uma travessia estreita existente no meio da frente urbana poente da praça, ligando esta à Rua do Almada (antiga Rua das Hortas). Era um local frequentado por ladrões e prostitutas.
Praça de D. Pedro, vendo-se os antigos Paços do Concelho
Na esquerda do cliché (não visível) situava-se a antiga Viela da Polé
Derrube dos antigos Paços do Concelho e demais casario envolvente, para a abertura da Avenida dos Aliados 
É visível a Viela da Polé à esquerda do eléctrico. Cliché de Aurélio Maria de Matos Lobão (cedido a este blogue)
Quando se iniciou a abertura da Avenida dos Aliados, com o derrube do casario existente e a edificação de novos prédios mais modernos e majestosos, o Banco de Portugal adquiriu vários imóveis e terrenos no local, com o objectivo de erguer aí, a sua nova delegação no Porto. As aquisições englobaram a velha viela, o que permitiu aumentar ainda mais a fachada do Banco.
S. Gens. Pedras para edificar o Banco de Portugal
Construção do Banco de Portugal na Praça da Liberdade - 1923

Imagens:
- Aurélio da Paz dos Reis
Aurélio Maria de Matos Lobão
- AMP

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Passo do Passeio Alegre. (Passos da freguesia de São João da Foz do Douro)

Passo do Passeio Alegre. Frederick William Flower (1849-1859)
Segundo o Arquivo Paroquial de S. João da Foz do Douro, em meados do séc. XVIII, tornou-se imperativo a fixação dos passos, que eram armados para a procissão que os percorria no quarto Domingo da Quaresma. Isso tornava necessário a construção da algumas capelas, que simbolizassem alguns dos passos de Cristo. Contudo, devido à falta de fundos, só em 15 de Outubro de 1764, foi celebrado o contrato, com o mestre pedreiro Manuel dos Santos Porto, dando-se logo início as obras de construção. Em 1767 as capelas estariam já abertas aos fieis.
Na imagem de cima vemos o Passo do Passeio Alegre, que ainda existe actualmente, tendo no entanto sofrido algumas pequenas modificações. Originalmente possuía um coberto ou telheiro e uma sólida porta em madeira, que entretanto seriam retirados.
Foram cinco as estações da Via Sacra que foram construídas a instâncias da Confraria do Senhor dos Passos e de Nossa Senhora da Soledade. O Passo do Passeio Alegre fica na Rua do Passeio Alegre, ao fundo da rampa de acesso à Igreja de São João da Foz. O Passo de Santa Anastácia situa-se na Rua Padre Luís Cabral. Existe outro Passo na Rua Bela e na Rua do Alto da Vila.

Imagem:
- Frederick William Flower

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Bazar dos Três Vinténs. (Porto)

Clique para ampliar
Painel de azulejos, ainda existente, na rua de Cedofeita, no Porto, alusivo ao desaparecido "Bazar dos Três Vinténs", que esteve estabelecido naquele edifício.
Este painel foi pintado por F. Gonçalves (activo entre c. 1954 e c. 1978) e produzido na Fábrica do Carvalhinho, em Vila Nova de Gaia, como podemos ler na base do mesmo.
O "Bazar dos Três Vinténs", era uma grande loja onde se comercializavam brinquedos, numa época bem anterior às compras on-line, aos Hipermercados, ou "lojas dos Chineses". 
Bazar dos Três Vinténs - JN
Bazar dos Três Vinténs
Bazar dos 3 Vinténs - Factura da Condessa de Vizela, c.1915
Inauguração da Árvore de Natal no Bazar dos Três Vinténs

Actualmente, como sabem, os brinquedos são, comparativamente aquela época, muito mais baratos, a oferta é muito superior e casas como este Bazar, desapareceram
No local do "Bazar dos Três Vinténs", abriria primeiro uma loja da "Zara" e mais recentemente uma loja da "Lefties

Vista da rua de Cedofeita a partir do lado da praça de Carlos Alberto, por volta de 1984. Na direita da imagem, o antigo Bazar dos Três Vinténs (abordado numa publicação do blogue) o Externato Académico e a Casa Camilo, entre outros estabelecimentos comerciais. No centro da rua (actualmente pedonal) é perceptível a linha do eléctrico. Cliché de autor não identificado.

Fonte parcial:
- JN
Imagens:
- Alexandre Silva
- Autor desconhecido

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Casa da Alfândega Velha ou Casa do Infante. (Porto)

Não desapareceu! Pelo contrário, está cada vez mais presente e merece, pelo seu valor patrimonial, uma publicação neste espaço.
O edifício da real "Alfândega Velha", situado na confluência das ruas Infante D. Henrique e Alfândega Velha, é tradicionalmente conhecido como "Casa do Infante", por se acreditar ter sido neste edifício que o infante D. Henrique nasceu. 
É verdade que D. Henrique nasceu na cidade do Porto, mas não existem provas do local exacto. Ainda assim, esta casa é actualmente, um dos edifícios mais antigos da Invicta.
Casa do Infante. Cliché de autor desconhecido, 1909
A denominada "Casa do Infante" localiza-se na primitiva "Alfândega Velha", obra que foi erguida numa zona da cidade intensamente disputada entre o Cabido da Sé e D. Afonso IV. 
Em 1325 D. Afonso IV ordenou a edificação de algumas casas nessa área próxima da Ribeira e que a Igreja portuense reclamava como sua pertença. 
Sanado o conflito em 1354, o "Armazém Régio" e as restantes casas da Coroa continuaram nessa artéria do burgo. No reinado de D. João I abriram-se novos trechos urbanos, com destaque para a Rua Formosa, que corresponde à actual Infante D. Henrique. Nos meados do século XV, D. Afonso V ordenou a reconstrução das arruinadas casas da Coroa localizadas na Rua Nova, entre as quais se incluía a "Alfândega Velha". Uma nova ampliação e remodelação estrutural foi realizada em 1667 pelo futuro D. Pedro II, erguendo-se nessa altura a actual fachada da Casa do Infante e que correspondia ao edifício da já citada "Alfândega Velha". Por ocasião das comemorações do IV Centenário do nascimento do infante D. Henrique, assinalado em 4 de Março de 1894, obras de características revivalistas neogóticas procuraram reconstituir o ambiente e a decoração medieval da Casa do Infante.
Classificado como Monumento Nacional em 1924, o edifício veio a ser alvo de um grande restauro pela Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, no fim da década de 1950. Foi então entregue à Câmara Municipal do Porto e ocupado pelo Gabinete de História da Cidade.
Casa do Infante- Antes, durante e depois da intervenção - José Marques Abreu Júnior 1958
Em 1980, este deu origem ao Arquivo Histórico Municipal do Porto que conserva a documentação camarária desde o período medieval, para além de uma excelente colecção de plantas da cidade e ainda uma boa biblioteca com vasta e variada bibliografia dedicada à história do burgo.
Na década de 1990 foram feitas profundas escavações arqueológicas, cujos resultados, juntamente com o estudo documental e arquitectónico, permitiram conhecer com pormenor o local. As escavações proporcionaram uma visão mais rica dos edifícios e dos homens que os utilizaram. Para além dos objectos do quotidiano, as cerâmicas, os vidros, os selos da alfandegagem, entre outros objectos, constituem importantes indicadores dos fluxos comerciais que a cidade do Porto foi mantendo ao longo dos séculos.
A pesquisa arqueológica permitiu também a descoberta de vestígios de ocupações anteriores, nesta zona ribeirinha. Foram encontrados importantes testemunhos da ocupação romana, destacando-se os primeiros mosaicos do Baixo Império encontrados no Porto. A musealização destes vestígios, no local onde foram descobertos, foi um elemento essencial do projecto de transformação das instalações. Um circuito de visita museológico ilustra a história do local, desde a ocupação romana, com recurso a aplicações multimédia e a uma maqueta interactiva representando o Porto Medieval. Este núcleo museológico está integrado no Museu da Cidade.
A "Casa do Infante" tem a sua entrada principal localizada na Rua da Alfândega Velha e é composta por portal de largo arco abatido. Sobre este pode observar-se uma lápide comemorativa do IV Centenário do nascimento de D. Henrique, obra oitocentista moldurada com arco conopial e o brasão do infante. No lado superior esquerdo do portal é visível um escudo régio do século XVII.
Para além do mencionado portal principal, a extensa fachada seiscentista, remodelada segundo a linguagem revivalista de sabor neogótico do século XIX, é repartida em quatro andares, ritmados por 14 janelas de guilhotina molduradas. Superiormente corre uma arcaria sustentando o saliente beiral do telhado.
Transposta a porta principal, desemboca-se num pátio interior, espaço que estabelece a ligação entre as diversas dependências do edifício. Elementos arquitecturais e decorativos do período medieval gótico e seiscentista caracterizam as salas e acessos dos vários andares da Casa do Infante.

Fontes:
- Casa do Infante
- Porto XXI
- SIPA
- Infopédia

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Desabamento nos Guindais em 27 de Janeiro de 1879. (Porto)

Já abordamos os Guindais, no Porto, sob vários temas, como por exemplo, o Funicular original. 
O local, por alguma razão, parece ser propenso a eventos, muitas vezes pouco agradáveis. Nesta publicação falaremos do terrível desabamento, ocorrido em 27 de Janeiro de 1879.
Clique nas imagens para as ampliar
Derrocada nos Guindais, seguida de incêndio (27 de Janeiro de 1879). Gravura de J. J. Pinto
Em 27 de Janeiro de 1879, a escarpa dos Guindais desabou, levando consigo o casario existente no local, nomeadamente todo aquele que se estendia pela sua sua base. 
Seguidamente, por entre os destroços das casas, deflagrou um grande incêndio que se prolongou por toda a tarde. A catástrofe atingiu tal magnitude, que nem no próprio rio Douro se estava a salvo. Uma embarcação despedaçou-se, após de ter sido atingida por um penedo que, após rolar pela encosta, a alcançou. 
A Ponte Pênsil (Ponte D. Maria II) oscilou com as ondas de choque, originadas pelo impacto da derrocada.
Derrocada e incêndio dos Guindais, em 27 de Janeiro de 1879. Gravura de Soares dos Reis
Desabamento nos Guindais, seguido de incêndio. Gravura de J. J. Pinto
 Guindaes e Ponte Maria Pia. Uma imagem um pouco mais recente
 
Imagens:
- Soares dos Reis
- J. J. Pinto
- BPI (Digitalização)

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Torre da Lagariça / "A Illustre Casa de Ramires". (S. Cipriano, Resende)

Torre da Lagariça. Cliché de A. Cochofel em 1927
                               
Já a abordamos, inúmeras vezes ao longo dos anos, na página do facebook, devido ao seu valor histórico e literário (por muito que tentem, é impossível excluí-la do Circuito Queiroziano) no entanto não sendo um item desaparecido, pois este imóvel ainda existe e resiste, nunca lhe dedicamos uma publicação neste espaço. 
Por a acharmos mais que merecedora, tal será feito agora, englobando a mesma na nossa secção de "Retratos do Passado".
Torre da Lagariça - "A Illustre Casa de Ramires"
 "A Illustre Casa de Ramires" no seu contexto real, fora do imaginário de Eça
Localizada na Freguesia de S. Cipriano, no Concelho de Resende, data da primeira metade do século XII a edificação da Torre da Lagariça, um sólido torreão militar de planta quadrada, que ficaria imortalizado na obra de Eça de Queiroz, "A Illustre Casa de Ramires"
O acesso a este imóvel pode ser feito pela E.N. 222 (ao km 95,5, e a 100 m, por caminho rural).
A fundação da torre teria como primeiro objectivo a defesa da linha do Douro na época da reconquista Cristã, servindo de torre de atalaia, mas a sua função militar perdeu significado com o estabelecimento das fronteiras mais a norte. Como tal, no século XVI a torre seria adquirida pela Brasonada família Pinto, senhores da Torre da Chã e do Paço de Covelas, e em 1610 voltaria a ser vendida, desta vez à família Cochofel, a qual é sua proprietária. 
Deverá datar do início do século XVII a adaptação da torre medieval para habitação senhorial, sendo então edificado um corpo de planimetria em L em volta do núcleo original, integrando-o num dos extremos da casa. O corpo do solar divide-se por três registos distintos e as fachadas são marcadas pela disposição de portas e janelas, de molduras rectangulares, tendo sido construída uma varanda alpendrada no piso superior na fachada principal. A torre não foi alterada, mantendo a planimetria original e as feições das suas fachadas, que se destacam pelo reduzido número de fenestrações.  
Actualmente está classificada como IIP  (Imóvel de Interesse Público).
Torre da Lagariça em S. Cipriano, Resende
“A torre, antiquíssima, quadrada e negra, sobre os limoeiros do pomar que em redor cresceram, com uma pouca de hera num cunhal rachado, as fundas frestas gradeadas de ferro, as ameias e a miradoura bem cortadas no azul de Junho, robusta sobrevivência do Paço acastelado da falada Honra de Santa Ireneia solar dos Mendes Ramires desde os meados do século X."
Eça de Queirós c. 1882
“A sala de jantar da Torre, que abria por três portas envidraçadas para uma funda varanda alpendrada, conservava, do tempo do avô Damião … dois formosos panos de Arrás representando a «Expedição dos Argonautas». Louças da Índia e Japão, desirmanadas e preciosas, recheavam um imenso armário de mogno. E sobre o mármore dos aparadores rebrilhavam os restos, ainda ricos, das pratas famosas dos Ramires que o Bento constantemente areava e polia com amor… almoçava e jantava na varanda luminosa e fresca, bem esteirada, revestida até meio muro por finos azulejos do séc. XVIII, e oferecendo a um canto, para as preguiças do charuto, um profundo canapé de palhinha com almofadas de damasco.”
Torre da Lagariça em S. Cipriano, Resende. Vista geral da "Illustre Casa de Ramires"
“Por baixo da Torre (como lhe contara o papá) ainda negrejava a masmorra feudal, meio atulhada, mas com restos de correntes chumbadas aos pilares, e na abóbada a argola donde pendia o polé, e no lajedo os buracos em que se escorava o potro. E, nessa surda e húmida cova, ovençal, bufarinheiro, clérigos e mesmo burgueses de foro uivavam sob o açoite ou no torniquete, até largarem, agonizado, o derradeiro morabitino. Ah! A romântica torre, cantada tão meigamente ao luar pelo Videirinha, quantos tormentos abafara!...”

“E como o visconde aludia ao desejo, já nele antigo, de admirara de perto a famosa Torre, mais velha que Portugal – ambos desceram ao pomar. O visconde, com o guarda sol ao ombro, pasmou em silêncio para a Torre; reconheceu (apesar de liberal) o prestígio que resulta de uma tão alta linhagem como a dos Ramires…”

- In A Ilustre Casa de Ramires, Eça de Queiroz

Bibliografia e Fontes:
"Roteiro dos Monumentos Militares Portugueses", Lisboa, 1948, ALMEIDA,  João de
 DGPC
Imagens:
- A. Cochofel
- Autor desconhecido
- Emílio Biel
- BPI (digitalização)

domingo, 2 de novembro de 2014

Escola Primária de Cedofeita. (Porto)

Escola Primária de Cedofeita (demolida)
O edifício onde funcionou a Escola Primária de Cedofeita, localizava-se no espaço compreendido entre a velha igreja românica de Cedofeita e o edifício, onde por muitos anos funcionou a Faculdade de Farmácia. A escola era um grande e sólido edifício em granito, composto por cave, rés-do-chão e 1.º andar.
 Igreja de Cedofeita , vendo-se a demolida escola, em segundo plano
 A escola em segundo plano, na esquerda da imagem. Na direita a Faculdade de Farmácia
As imagens traduzem algo que contraria o senso comum. Apesar das grandes obras de restauro realizadas pelo Estado Novo, na recuperação da igreja românica, nos anos 30, tenham tido dimensões surpreendentes no local, não foram as causadoras do derrube da escola, que como muitos habitantes desta zona sabem, funcionaria ainda na década de 50. A explicação para a demolição do edifício está relacionada com o Plano Auzelle, que incluía a reestruturação dos edifícios do Ensino Primário (obviamente com a total demolição de alguns). A isto, talvez não seja demais somar o interesse e a grande necessidade que havia em alargar as ruas envolventes a este edifício.
 Vista geral da igreja. Em segundo plano vemos a escola e a faculdade

Imagens:
- AMP
- BMP