Os Modestos (Porto).

domingo, 15 de outubro de 2023

Em 1856, foi construído um edifício para servir de sede à Associação de Socorros Mútuos das Classes Laboriosas.

Segundo Germano Silva, no ano de 1906, o edifício, que se situava na Rua de Gonçalo Cristóvão, encontrava-se abandonado e foi nesse ano que "Os Modestos" o ocuparam, fizeram dele a sua sede e o transformaram, diga-se em abono da verdade, numa bela casa de espectáculos.      

   Entrada do edifício. Cliché do blogue A Cidade Deprimente

Em 25 de Setembro de 1902 um conjunto de rapazes, amigos da arte, representou "Os sinos de Bonneville", numa loja de um prédio na Rua do Almada. Em 1908, fixou a sua sede na Rua de Gonçalo Cristóvão. O "Grupo dos Modestos" está nas páginas da história da cidade do Porto. Foi escola de muitos actores de teatro, como é o caso de António Reis, que também passou pela direcção do grupo teatral. Ali funcionou até fechar portas, no início dos anos 80. O edifício, que pertenceu à Associação Portuense de Socorros Mútuos das Classes Laboriosas, permaneceu devoluto, desde então. Até ser comprado para ali ser construído um hotel. Antes da demolição, o imóvel esteve mais de 30 anos submetido ao total abandono.

Fontes parciais:
- JN
- Visão 

Elevador do Município (Lisboa).

terça-feira, 11 de julho de 2023

Elevador do Município 
Cliché de Eduardo Portugal in afCML 

O Elevador da Biblioteca (também conhecido por Elevador de São Julião, ou Elevador do Município) foi inaugurado a 12 de Janeiro de 1897 e foi o primeiro elevador público vertical ao ar livre de Lisboa, constituindo assim um primeiro ensaio para o famoso Elevador de Santa Justa, construído pouco depois e inaugurado em 1901. Até essa data, só existia um elevador público vertical – o do Chiado, inaugurado em 1892 –, mas estava incluído dentro de um prédio. O seu projecto foi da autoria do engenheiro Raul Mesnier de Ponsard (1849-1914), mas o financiamento e a exploração ficaram a cargo de Ayres de Campos, então Conde do Ameal, à frente da Empresa do Ascensor Município-Bibliotheca.

Ao contrário dos ascensores do Lavra, da Glória, da Bica ou da Graça, sistematicamente em plano inclinado e aproveitando carros eléctricos sobre carris - chamados por isso ascensores e não propriamente elevadores, embora, na época, os termos fossem indistintamente utilizados -, o Elevador da Biblioteca era integralmente vertical e fazia uso de duas torres paralelas, unidas no topo por uma plataforma gradeada, da qual se obtinha uma panorâmica deslumbrante sobre parte dos telhados da Baixa Pombalina.

«Ascenseur public - "Pelourinho - Biblioteque"» Francisco Camacho (1833-1898) 1898 Papel fotográfico sobre cartão. Museu de Lisboa - MC.FOT.1908

A rapidez com que foi construído, ao abrigo de uma moda de mobilidade urbana que pretendia tornar mais cómodo o acesso entre várias áreas desniveladas da cidade, levou até a que fossem canalizados para a empreitada espaços particulares. No Largo de São Julião, para se aceder ao equipamento, era preciso entrar numa casa privada (n.º 13); e o mesmo acontecia no topo, ao chegar ao Largo da Academia Nacional de Belas Artes, onde era necessário passar pelo terraço do Palácio do Visconde de Coruche (também n.º 13).

A 28 de Janeiro de 1908, o elevador foi palco de uma intentona republicana comandada por Afonso Costa (1871-1937). A estratégia passava por eliminar João Franco (1855-1929), presidente do conselho de ministros que, ao tempo, governava na prática em ditadura. O equipamento era um ponto militar que se impunha controlar, mas o golpe estava condenado a falhar graças ao pré-aviso das forças governamentais, acabando os revoltosos por dispersar.

Doado à Câmara Municipal de Lisboa em 1915, o elevador acabou por ser desmantelado após 1926, num processo administrativo que teve duas hastas públicas. Em 1915, já os materiais se encontravam bastante oxidados e requeriam intervenção urgente. Mais de dez anos depois, a opção foi o seu total desmantelamento, não sem críticas na imprensa periódica, e, a seu tempo, a perda de memória na cidade actual, no exacto local onde este equipamento existiu.

Bibliografia: Museu de Lisboa

A viela do Cirne e o crime do homem salgado (Porto).

quinta-feira, 18 de maio de 2023

O Largo do Laranjal, que já abordamos em outras publicações, era atravessado pela rua do mesmo nome e limitado, ao norte, pela Viela do Cirne; ao sul, pela Rua de D. Pedro e Travessa dos Lavadouros; e a oriente, pela Cancela Velha. Em meados do século XIX, o Largo do Laranjal era alumiado durante a noite apenas por dois lampiões de azeite. Soa a algo bucólico, mas na prática tornava o local soturno e pouco acolhedor. 

Rua do Laranjal, vendo-se a igreja da Trindade, c.1900 Cliché da Casa Alvão 

Neste mesmo Largo do Laranjal ergueu-se em Fevereiro de 1854 um chafariz vindo do Largo de S. Domingos, mais tarde seria recolhido nos jardins do SMAS de onde retornaria, mais tarde ainda, para o actual Largo da Trindade. 
Largo do Laranjal e Cancela Velha 
Largo da Trindade, local aproximado do antigo Largo do Laranjal, vendo-se o palacete da "Ferreirinha", já demolido. Cliché da Casa Alvão 


O tortuoso caminho da obscura Viela do Cirne recortava-se nas ruas do Laranjal, de D. Pedro e da Cancela Velha. No dia 13 de Março de 1825 foi encontrado na viela um barril cheio da sal. No interior do barril e mergulhado no sal, estava o cadáver desmembrado de um homem. Este crime foi muito debatido na época, com a agravante de nunca ter sido explicado, nem nunca se terem encontrado os responsáveis pelo mesmo.  Citando:
"Foi esta Viela do Cirne, “que vai da Cancela Velha ter ao cimo da Rua do Laranjal, à esquina do Palácio Ferreirinha, no Largo da Trindade”, teatro de um horroroso crime que Pinto Leal narra pormenorizadamente no seu “Portugal Antigo e Moderno. Ficou conhecido pelo crime do homem salgado por a vítima ter sido encontrada, em 13 de Marco de 1825, dentro de um grande barril cheio de sal – crime que fez a maior sensação na cidade."

In jornal “O Primeiro de Janeiro”, rubrica “Toponímia Portuense”, 05-08-1975