José Maria Eça de Queiroz/Queirós. (1845-1900)

domingo, 22 de dezembro de 2013

Escritor português, José Maria Eça de Queirós nasceu a 25 de Novembro de 1845, na Póvoa de Varzim, filho de um magistrado, também ele escritor, e morreu a 16 de Agosto de 1900, em Paris. 
Celebração de 1906 na Póvoa de Varzim com a colocação de uma placa comemorando o nascimento de Eça naquela casa da Praça do Almada
Eça de Queirós é considerado um dos maiores romancistas de toda a literatura portuguesa, o primeiro e principal escritor realista português, renovador profundo e perspicaz da nossa prosa literária.
Eça de Queirós c. 1882
Entrou para o Curso de Direito em 1861, em Coimbra, onde conviveu com muitos dos futuros representantes da Geração de 70, já então aglutinados em torno da figura carismática de Antero de Quental, e onde acedeu às recentes ou redescobertas correntes ideológicas e literárias europeias: o Positivismo, o Socialismo, o Realismo-Naturalismo, sem, contudo, participar activamente na que seria a primeira polémica dessa geração, a Questão Coimbrã (1865-1866).
Terminado o curso, fundou o jornal O Distrito de Évora, em 1866, órgão no qual iniciou a sua experiência jornalística como redactor. Colaborou ainda na Gazeta de Portugal, onde publicou muitos dos textos - indiciadores de uma nova estilística imaginativa - postumamente reeditados no volume das Prosas Bárbaras. No final desse ano, formou-se o "Cenáculo", de que viriam a fazer parte, nesta primeira fase, além de Eça, Jaime Batalha Reis, Ramalho Ortigão, Oliveira Martins e Salomão Saragga, entre outros.
Após uma viagem pelo Oriente, para assistir à inauguração do canal de Suez como correspondente do Diário Nacional, regressou a Lisboa, onde participou, com Antero de Quental e Jaime Batalha Reis, na criação do poeta satânico Carlos Fradique Mendes e escreveu, em 1870, em parceria com Ramalho Ortigão, o Mistério da Estrada de Sintra. No ano seguinte, proferiu a conferência "O Realismo como nova expressão da Arte", integrada nas Conferências do Casino Lisbonense e produto da evolução estética que o encaminha no sentido do Realismo-Naturalismo de Flaubert e Zola, com influência das doutrinas de Proudhon e Taine. No mesmo ano, iniciou, novamente com Ramalho, a publicação de As Farpas, crónicas satíricas de inquérito à vida portuguesa.
Emília de Castro - c. 1880
Fotog., Emilio Biel & Cª, Porto c. 1880
"Foi Santo Ovídio e a sua paz de convento, que a fez assim quiet and composed".
Carta a Emília de Castro, 18 Out. 1885
Eça de Queiroz e sua esposa D. Emília de Castro na Quinta de St.ª Ovídio, no Porto
Eça de Queirós e a filha Maria - c. 1887
Fotog., Cox & Durrant, Torquay, c. 1887
F.E.Q. 97
Biblioteca Nacional

"Estamos perdidos há muito tempo... O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada. Os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita.
Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo. A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências. Diz-se por toda a parte, o país está perdido! Algum opositor do actual governo? Não! "
Em 1872, iniciou também a sua carreira diplomática, ao longo da qual ocuparia o cargo de cônsul sucessivamente em Havana (1872), Newcastle (1874), Bristol (1878) e Paris (1888). O afastamento do meio português - aonde só ia muito espaçadamente - não o impediu de colaborar na nossa imprensa, com crónicas e contos, em jornais como A Actualidade, a Gazeta de Notícias, a Revista Moderna, o Diário de Portugal, e de fundar a Revista de Portugal (1889), dando-lhe um critério de observação mais objectivo e crítico da sociedade portuguesa, sobretudo das camadas mais altas. Aliás, foi em Inglaterra que Eça escreveu a parte mais significativa da sua obra, através da qual se revelou um dos mais notáveis artistas da língua portuguesa. Foi, pois, com o distanciamento crítico que a experiência de vida no estrangeiro lhe permitiu que concebeu a maior parte da sua obra romanesca, consagrada à crítica da vida social portuguesa, de onde se destacam O Primo Basílio (1878), O Crime do Padre Amaro (2.ª edição em livro, 1880), A Relíquia (1887) e Os Maias (1888), este último considerado a sua obra-prima. Parte da restante obra foi publicada já depois da sua morte, cuja comemoração do seu centenário teve lugar no ano 2000.
Os “Vencidos da Vida” fundado em 1888
António Maria Vasco de Melo César e Meneses, Luís Augusto Pinto de Soveral, Carlos Félix de Lima Mayer, Francisco Manuel de Melo Breyner, Guerra Junqueiro, Ramalho Ortigão, Carlos Lobo d'Ávila, Bernardo Pinheiro Correia de Melo, Eça de Queirós e J. P. de Oliveira Martins. Cliché de P. Marinho
O Grupo dos Cinco (Sábios) 
Na fotografia e da esquerda para a direita: Eça de Queirós, Oliveira Martins, Antero de Quental, Ramalho Ortigão e Guerra Junqueiro. Fotografados no Palácio de Cristal

Na obra deste vulto máximo da literatura portuguesa, criador do romance moderno, distinguem-se usualmente três fases estéticas: a primeira, de influência romântica, que engloba os textos posteriormente incluídos nas Prosas Bárbaras e vai até ao Mistério da Estrada de Sintra; a segunda, de afirmação do Realismo, que se inicia com a participação nas Conferências do Casino Lisbonense e se manifesta plenamente nos romances O Primo Basílio e O Crime do Padre Amaro; e a terceira, de superação do Realismo-Naturalismo, espelhada nos romances Os Maias, A Ilustre Casa de Ramires e A Cidade e as Serras.
A (sobrevivente) Torre da Lagariça, mais conhecida por "A Illustre Casa de Ramires" do romance de Eça de Queirós, na freguesia de S. Cipriano em Resende
“A torre, antiquíssima, quadrada e negra, sobre os limoeiros do pomar que em redor cresceram, com uma pouca de hera num cunhal rachado, as fundas frestas gradeadas de ferro, as ameias e a miradoura bem cortadas no azul de Junho, robusta sobrevivência do Paço acastelado da falada Honra de Santa Ireneia solar dos Mendes Ramires desde os meados do século X”.

- in "A Illustre Casa de Ramires"
Torre da Lagariça - A Illustre Casa de Ramires

Fonte parcial:
- In Infopédia. Porto: Porto Editora, 2003-2013. 
- BNP

1 comment

Unknown disse...

Grande homem das letras que continua bem vivo na nossa memória.
E uns homens pequeninos que o quiseram banir do estudo da lingua e costumes pátrios.

22 de outubro de 2018 às 18:34

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