O Rinoceronte de Dürer / O Rinoceronte de D. Manuel I.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Xilogravura de Albrecht Dürer
"Em Maio do ano de 1515, depois do nascimento de Cristo, trouxeram ao poderosíssimo Rei de Portugal, Manuel, em Lisboa, vindo da Índia um animal vivo chamado rinoceronte. Aqui se encontra desenhada toda a sua figura. Tem a cor duma tartaruga salpicada, é enormemente maciço e coberto de escamas. E do tamanho de um elefante, mas mais baixo, e muitíssimo capaz de se defender. Na parte anterior do focinho tem um corno aguçado e forte, que afia logo que se encontre ao pé de pedras. O abrutalhado animal é inimigo mortal do elefante, que lhe tem um medo tremendo. Quando se aproxima corre o animal metendo a cabeça entre as patas dianteiras do elefante, do que se não pode defender, por o animal estar tão bem armado que o elefante nada pode fazer; rasga e abre-lhe a barriga, dando cabo dele. Dizem também que o rinoceronte é lesto alegre e manhoso". 

Tradução da legenda da xilogravura de Dürer

Em 1514 Afonso de Albuquerque foi finalmente autorizado, pelo rei D. Manuel I, a enviar uma embaixada ao rei de Cambaia, solicitando autorização para construir uma fortaleza em Diu, cidade situada no reino de Cambaia, governado pelo rei Modofar. O rei Modofar não cedeu ao pedido mas, apreciando as oferendas recebidas, deu a Afonso de Albuquerque um rinoceronte. Como era impossível mantê-lo em Goa, Afonso de Albuquerque decidiu enviar o rinoceronte ao rei D. Manuel I, como presente.
A chegada do rinoceronte a Lisboa causou muito alarido e curiosidade, não só em Portugal como no resto da Europa devido, sobretudo, ao seu aspecto - o rinoceronte pesava mais de duas toneladas e tinha uma pele espessa e rugosa formando três grandes pregas que lhe davam a estranha aparência de usar uma armadura. Era o primeiro rinoceronte vivo em solo europeu desde o séc. III. O rinoceronte ficou instalado no parque do Palácio da Ribeira. Lembrando ao rei as histórias romanas sobre o ódio mortal entre elefantes e rinocerontes, D. Manuel I tinha agora a possibilidade de verificar se tal era verdade. 
Foi então organizado um combate entre os dois animais, a que assistiram o rei, a rainha e as suas damas de companhia, bem como muitos outros convidados importantes. Quando os dois animais se encontraram frente a frente, o elefante, que parecia ser o mais nervoso, entrou em pânico e fugiu mal o rinoceronte se começou a aproximar.
Em 1515, o rei D. Manuel I decidiu organizar uma nova embaixada extraordinária a Roma, para garantir o apoio do Papa, na sequência dos crescentes sucessos dos navegadores portugueses no Oriente, e com vista a consolidar o prestígio internacional do reino. Entre as ofertas encontrava-se o rinoceronte, que usava uma coleira em veludo verde com rosas e cravos dourados. A nau partiu de Lisboa em Dezembro de 1515. Ao largo de Génova surgiu uma violenta tempestade, tendo o navio afundado, perecendo toda a tripulação. O rinoceronte, embora soubesse nadar, acabou por se afogar, por causa das amarras. No entanto, foi possível recuperar o seu corpo. Ao saber da notícia, D. Manuel I ordenou que o rinoceronte fosse empalhado e enviado ao Papa, como se nada tivesse acontecido. Mas este animal não fez tanto sucesso junto do Papa como anteriormente tinha feito o elefante!
Em Portugal o rinoceronte foi imortalizado, encontrando-se representado numa das guaritas da Torre de Belém e também no Mosteiro de Alcobaça, onde existe uma representação naturalista do animal de corpo inteiro, com função de gárgula, no Claustro do Silêncio. 
O animal também foi desenhado pelo grande mestre impressor Albrecht Dürer, baseando-se numa carta  de um mercador português que continha um desenho do rinoceronte.

Fontes:
- torrebelem.pt
- cvc.instituto-camoes.pt

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