O contrato para o abastecimento de água ao domicílio, feito entre a Câmara do Porto e a Companhia (Compagnie Général des Eaux pour l'Etranger) é de 22 de Março de 1882.
Isto quer dizer que, até àquele ano, os cidadãos do Porto que não tivessem poços privados, se abasteciam nas fontes e nos chafarizes que havia espalhados por toda a cidade.
Por sua vez, as fontes e chafarizes eram abastecidos por água proveniente de vários mananciais. Os mais célebres eram o de Paranhos ou Arca d'Água, por ter nesta última localidade as nascentes, que eram três; o de Camões e o da Aguardente (actual Praça do Marquês de Pombal); e outros, entre os quais estava o manancial ou aqueduto do Campo Grande, de que se não tem falado muito, embora abastecesse um significativo número de fontes e chafarizes.
O Campo Grande é o actual Campo de 24 de Agosto. Este concorrido local do Porto teve várias denominações ao longo dos tempos. Tinha, na Idade Média, a pitoresca denominação de Campo de Mijavelhas; depois deram-lhe o nome de Poço das Patas, o que até se compreende se tivermos em conta as características alagadiças do terreno onde se formavam enormes poças que aquelas aves frequentavam com assiduidade; por 1833, era o Campo da Feira do Gado, porque nesse espaço se realizava um importante mercado de gado bovino; seis anos depois, já era só o Campo Grande; e a actual designação foi-lhe dada por deliberação camarária de 1 de Agosto de 1860.
Como atrás ficou dito, o Manancial do Campo Grande tem sido, em comparação com os demais, o que menos atenção tem despertado a quem se tem debruçado sobre a história do abastecimento de água à cidade do Porto. Daí que escasseiem alguns dados históricos, nomeadamente, o da data da sua construção. Sabe-se, no entanto, que é anterior ao ano de 1849, pois existe um documento que fala de "uma biqueira" (telha por onde corre a água) que lançava no Manancial do Campo Grande água que vinha de uma mina do Visconde de Castelões.
O abastecimento deste manancial era feito por nascentes "nativas" ou seja, que ficavam por ali muito perto; e ainda pela água de uma mina pertencente a José de Melo Peixoto, da Póvoa de Baixo (na confluência da Rua de Santos Pousada com o Campo de 24 de Agosto); e de uma outra mina de que era proprietário Florido Rodrigues Pereira Ferraz, situada na "Estrada do senhor do Bonfim", a Rua do Bonfim dos nossos dias. Em data que não é possível confirmar, a Misericórdia do Porto comprou a Manuel Correia Espadeiro e mulher, moradores no Poço das Patas, "huma poça d'Agua, no Monte de Mijavelhas, junto aonde antigamente estivera a forca" para ser introduzida no manancial e daí seguir para o recolhimento das Órfãs (Nossa Senhora da Esperança).
Vejamos agora quais eram as fontes e os chafarizes que beneficiavam da água deste manancial. Em primeiro lugar, naturalmente, a "Fonte de Mijavelhas" , aquela que foi encontrada aquando da construção da estação do Metro e cujas pedras a administração daquela empresa em boa hora resolveu conservar, dentro da própria estação, como memória histórica do sítio. As "vertentes" (águas que sobravam) iam abastecer "os magníficos lavadouros públicos" que ali havia e, após isso, continuavam a céu aberto e a sua força era aproveitada para mover os moinhos das Fontainhas.
A água do Campo Grande abastecia mais as seguintes fontes públicas uma na Rua das Fontainhas, que ficava mesmo à entrada desta artéria; o chafariz da Praça da Batalha, obra monumental "que evocava os melhoramentos feitos nesta praça nos tempos passados"; seguia depois "o encanamento" pela "Rua da Senhora do Terço" e pela Rua Chã, até ao chafariz do Anjo (S. Miguel), construído por iniciativa do Cabido, no antigo Largo da Sé, acima do sítio onde estava a Porta de Vandoma e onde ainda está; o célebre chafariz da Rua Chã, que ficava entre a rua deste nome e a Rua do Cativo, em frente à casa conhecida pelo Paço da Marquesa, por nela ter vivido a última Marquesa de Abrantes; a Fonte do Largo de S. Sebastião, uma das mais antigas que havia na cidade, actualmente no Largo do Dr. Pedro Vitorino.
A água do Manancial do Campo Grande seguia, também, devidamente encanada, por baixo da Rua da Murta (Rua do Morgado de Mateus) e saia em S. Lázaro, "defronte onde estava a Igreja Velha dos religiosos Antoninos" (edifício da Biblioteca Pública Municipal) para onde seguia um anel de água. Um anel equivalia a oito penas e cada pena correspondia a um fornecimento diário de 1.272 litros. Era com um anel de água, por exemplo, que o aqueduto abastecia a Fonte de S. Lázaro.
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