Eléctricos na Invicta. (Porto)

domingo, 21 de julho de 2013

O «Americano» antecessor do eléctrico, passando junto a igreja St.º Ildefonso
Imagens obtidas a partir do mesmo cliché. Vista geral do largo de santo Ildefonso, da igreja com o mesmo nome e de algumas casas comerciais como a alfaiataria de Afonso Brandão, tirada da praça da Batalha
O «Americano» na rua dos Clérigos
Vista geral da fachada das igrejas, do Carmo e dos Carmelitas, tirada da praça de Gomes Teixeira com «Americanos» a circular
Vista geral da fachada das igrejas, do Carmo e dos Carmelitas, tirada da praça de Gomes Teixeira, já com os Eléctricos a circular
Praça dos Voluntários da Rainha. Vista de Poente, junto das igrejas do Carmo e Carmelitas, em 1903. Cliché de Aurélio da Paz dos Reis. Arquivos CPF

No ano de 1870, é autorizada, ao Barão de Trovisqueira, a concessão de um serviço de transportes públicos ; a primeira linha, ligando as zonas do Infante e Carmo à Foz ao longo do Rio Douro, foi aberta em 1872 pela Companhia Carril Americano do Porto. Os serviços eram efectuados entre a Foz e, alternadamente, o Infante e o Carmo. Os veículos utilizados eram Carros Americanos, que consistiam em carruagens rebocadas por animais. As linhas seriam, no ano seguinte, ampliadas até Matosinhos, ao longo do Oceano Atlântico.
O «Americano» na extinta Praça de D. Pedro in CPF
O «Americano» na Praça de D. Pedro, Porto
Em 1893, a Companhia Carril Americano do Porto é adquirida pela Companhia Carris de Ferro do Porto, e, em 12 de Setembro de 1895, é electrificada a linha entre o Carmo e a Arrábida, utilizando a energia fornecida por uma central própria, na Arrábida; esta foi a primeira linha a tracção eléctrica que entrou ao serviço na Península Ibérica.
Eléctrico da Companhia da Carris de Ferro do Porto, c. 1908 in AMP
Eléctrico no tabuleiro superior da ponte Luís I  em 1912 
Eléctrico na rua de Santa Catarina em 1911
Eléctrico na rua de Santo António em 1910
Eléctrico na Rua Senhora da Luz, c. 1910
O eléctrico da Linha 8, com destino ao Campo Lindo, passando na Praça de Carlos Alberto, junto ao Palacete dos Viscondes de Balsemão
O eléctrico descendo a rua dos Clérigos
Eléctricos na Praça Almeida Garrett e início da Rua de St.º António / 31 de Janeiro, nos anos 50
Em 1896, a ligação entre o Infante e Massarelos também passa a usar este tipo de tracção, e, no ano seguinte, é completada a electrificação das linhas até à Foz, a 2 de Abril, ao Castelo do Queijo, em 24 de Maio, e Matosinhos, em 29 de Outubro. Em 19 de Maio de 1899, é a vez da ligação entre a Praça Dom Pedro (posteriormente denominada Praça da Liberdade) e a Praça Marquês de Pombal.
Em 22 de Setembro de 1904, termina a tracção animal, com a introdução da tracção eléctrica na linha entre o Carmo e Paranhos. Em 28 de Outubro do ano seguinte, é aberta à exploração a ligação até Gaia, atravessando o tabuleiro superior da Ponte Luís I, e, em 1912, é introduzido um sistema de numeração nas linhas.
Eléctricos na Ponte Luís I 
Em baixo: Arquivo da Phot.ª Guedes
O eléctrico na Av. de Carreiros, na Foz. (1900-1910)
Avenida de Carreiros, c.1910
 BPI - Editor: Grandes Armazéns Hermínios
A tracção a vapor é terminada em 1914, com a electrificação da Avenida da Boavista em substituição do trajecto entre Fonte da Moura, Cadouços e Rua de Gondarém. No ano seguinte, abre a estação de geração em Massarelos, que substitui as instalações na Arrábida; neste ano, já existiam 19 linhas em circulação.
Em 1946, a Companhia Carris de Ferro do Porto é nacionalizada pela Câmara Municipal do Porto, que forma o Serviço de Transportes Colectivos do Porto para gerir o sistema de carros eléctricos. A primeira linha de autocarros, entre a Avenida dos Aliados e Carvalhido, abriu a 1 de Abril de 1948.
Em 1950, atinge-se o apogeu da rede dos carros eléctricos, com 150 quilómetros de via divididos em 38 linhas, e um parque de material circulante com 193 carros eléctricos e 24 reboques; no ano seguinte, é construído um protótipo, com o número 500, para uma nova geração de carros eléctricos, de traços mais modernos, que dispunha de portas automáticas operadas de forma pneumática pelo condutor. Uma outra característica inovadora deste protótipo é que incluía cadeiras para o condutor e para o técnico de revisão. No entanto, não chegaram a ser construídos mais veículos desta série.4
No entanto, em 1957, é encerrada a estação de geração de electricidade de Massarelos, encontrando-se, em serviço, no ano seguinte, apenas 81 quilómetros de via, circulando 192 carros eléctricos.4 As primeiras linhas de eléctricos são encerradas a 1 de Janeiro de 1959, enquanto que as primeiras 4 linhas de troleicarros iniciam a sua exploração a 3 de Maio do mesmo ano. Além da concorrência destas novas modalidades de transporte, o serviço de carros eléctricos também começou a sofrer de limitações económicas e técnicas, como a circulação nas exíguas ruas e avenidas da cidade.
Em 1966, ainda restavam 72 quilómetros de via ao serviço, percorrida por 184 eléctricos, sendo os últimos atrelados retirados ao serviço no dia 31 de Dezembro desse ano. No ano seguinte, são substituídas as primeiras linhas de eléctricos por autocarros, passando a rede a contar apenas com 44 quilómetros de via e 130 eléctricos. Em 1968, o serviço de eléctricos é, de novo, reduzido, possuindo apenas 127 veículos que circulam em 38 quilómetros de via.
O eléctrico da Linha 1, na Praça de Almeida Garrett, vendo-se a Rua das Flores, c.1967. Cliché de autor desconhecido
Eléctrico na rua de Cedofeita
Praça Gomes Teixeira - Eléctricos a circular
O eléctrico n. 136 da Linha 7 (dois traços) que fazia ligação da Praça da Batalha a S. Mamede, circulando na Rua Sá da Bandeira, cruzamento com a rua Fernandes Tomás, circa 1970. Cliché de autor desconhecido
Eléctrico a circular na rua dos Mártires da Liberdade, c.1974
A "Zorra" n. 53, na Praça da Liberdade, em inícios dos anos 70 do séc. XX
Eléctrico n. 122 da Linha 17, circulando na Praça Mouzinho de Albuquerque (rotunda da Boavista). Vemos a entrada da Rua 5 de Outubro.
Este eléctrico fazia o percurso: Praça da Batalha - Passeio Alegre (Foz). Passava sobre o viaduto da Rua Gonçalo Cristóvão, pela Praça da República e pela Rua da Boavista! Cliché de autor desconhecido
A partir de 1978, extinguem-se todos os serviços de eléctricos que circulam após as 21 horas; neste ano, a rede dispunha de 84 veículos e 21 quilómetros de via. Em 1983, são eliminados os serviços aos domingos.
Em 1988, data em que a Estação de Recolha da Boavista é substituída pela de Massarelos para o serviço normal, a rede de eléctricos dispunha apenas de 18 quilómetros de linha e 50 veículos. Entre Março e Julho de 1991, os eléctricos foram recolhidos nas instalações da Boavista devido a obras nas ruas da cidade.
Em 1996, só restava uma linha de eléctricos, a 18, com 14 quilómetros de via, efectuado por três veículos, que funcionava entre as 9 e as 19 horas, com uma frequência de 35 minutos; os serviços ao Domingo são retomados. Em meados da década de 1990 grande parte da frota remanescente foi alienada, no âmbito da retracção da rede e do serviço planeada pela gestão, e a exemplo da congénere lisboeta, passando para as mãos de particulares, museus, e outros sistemas de transporte. Até finais de 1996 haviam sido vendidas unidades para sete destinos estrangeiros, nomeadamente Estados Unidos (31 veículos), Inglaterra (oito carros de linha e quatro zorras), e Canadá, Argentina, Escócia, Espanha, e Itália (uma ou duas unidades para cada). Os preços de venda neste período variam entre 1,5 e 5 milhões de escudos, consoante o estado de conservação de cada veículo.
O 187 da linha 13 atravessando a ponte Luís I
Um eléctrico "Belga" da Linha 9, que ligava a estação ferroviária de Ermesinde ao centro do Porto, circula perto do cruzamento denominado por "Alto-da-Maia". 
O edifício de restauração (café) denominado "Coutinho" pertencente na época, ao Sr. João Mendes, é actualmente um restaurante do grupo "Madureiras". Este local teve sempre muito comércio (algum dele antigo) que permaneceu ao longo das décadas, como a "Confeitaria do Alto da Maia", propriedade do Sr. Alberto, a "Drogaria Coelho", cujo nome deriva do seu proprietário, a (desaparecida) "Churrasqueira Portugalia" que infelizmente ardeu há alguns anos, ou a "Farmácia do Alto da Maia" que era propriedade do Sr. Aleixo
O 187 no términus da linha 10 em São Pedro da Cova. À esquerda, a linha para as minas
 O 361 no términus da linha 10 em Gondomar
 Em baixo, a zorra 60 no ramal da escombreira, no Alto da Serra de São Pedro da Cova

Fontes:
- CMP
- STCP
- Brazão, Carlos. (1992). "Los eléctricos de Oporto"

Imagens:
- Arquivo fotográfico dos STCP
- Tabacaria Africana
Aurélio da Paz dos Reis
- CPF
- P. Eaton
- Phot.ª Guedes
- Emílio Biel
- Alvão

4 comentários

Gomesccs disse...

Foi pena terem acabado com as carreiras dos electricos, quer no Porto quer nas vizinhanças, era o transporte mais comodo, rapido e barato, esses tempos dão-me uma saudade tão grande que me faz pensar o porque de fazerem desaparecer tal transporte. Não havia carros particulares parados de qualquer modo, nem em cima dos passeios, nessa altura até as autoridades actuavam, agora até a policia para a par e em cima dos passeios, será que é assim o novo código de estrada ou essas autoridades não prestão? Antigamente a PSP era Policia de Segurança Pública, agora sendo a mesma sigla PSP que segnifica policia de segurança privada. .\\.

23 de novembro de 2020 às 16:23

Muito interessante e instrutiva esta historia! Eu vivi no Porto desde 1952 ate 1976 e, portanto, vivi e utilisei esta epopeia dos electricos de que, ainda hoje, tenho imensas saudades.

14 de maio de 2021 às 16:51
Unknown disse...

Comecei a trabalhar com 13 anos na Rua do Almada nº. 10 1º andar, cheguei a fazer uma lista dos eléctricos existentes, não cheguei a viajar em todos porque alguns tiveram acidentes e não voltaram a circular - Morava em Soutelo Rio Tinto viajava todos os dias nos eléctricos , tinha o passe simestral ( 6 meses ) custava cerca de 300 escudos
Também tenho muitas saudades .

13 de março de 2022 às 18:01

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