Localizado na margem direita do rio Douro, perto da barragem do Carrapatelo (a barragem deve o seu nome à propriedade e seu Solar), o Solar de Carrapatelo é uma construção de estilo Barroco, Brasonado, com as armas da família Abreu e Lemos.
Solar de Carrapatelo em 1973. Cliché de A. Cochofel
Sendo na sua época obviamente residência de pessoas com elevado nível económico, a propriedade engloba casa de caseiros, adegas, tulhas e uma capela. De facto, esta propriedade pertencia ao fidalgo José Joaquim de Abreu e Lemos, de 73 anos, sargento-mor das milícias do julgado de Bem-viver a qual a rea geográfica pertencia a casa na época, que aí habitava na companhia de sua filha, D. Ana Vitória de Vasconcelos e Abreu Lopes da Fonseca Lemos, de 39 anos, já esta estava viúva. A sua filha natural D. Rita de Cássia e a sua neta D. Ana Amélia, de 19 anos, que ainda se encontrava solteira para além de todos os criados e criadas da casa. Tinha ainda outra neta, D. Maria de Melo, de 22 anos, que casara havia um ano com João da Silveira Osório de Vasconcelos e vivia na margem de lá do Douro, na Póvoa ou Quintã de Antemil.
Este Solar, ficaria para sempre ligado ao nome do salteador José do Telhado, devido ao assalto efectuado pelo mesmo.
A 3 de Janeiro de 1852 faleceu o sargento-mor. O funeral realizou-se no dia 5 para a Capela do Senhor Preso à Coluna, pertença da família, na Igreja Matriz de Paços de Gaiolo.
Todos os fidalgos e autoridades das redondezas tinham acorrido ao funeral e a apresentar condolências à família enlutada, além do muito povo que comparecera, pois era geral a estima pelos fidalgos de Carrapatelo e conhecida a bondade de D. Ana Vitória.
Durante a tarde do dia 7 iam partindo as últimas visitas.
"Tendo atravessado o Tâmega no Barco do Canal [situado em Abragão, concelho de Penafiel], a quadrilha dirigiu-se para o monte do Castelinho, onde passou parte da tarde fingindo que caçava. Dali foi para a corte de Fandinhães, aonde o Fragas lhe enviou comida. Já noite, dirigiu-se a um alto que fica próximo da casa de Carrapatelo, onde José Teixeira destinou os postos de cada um."
In: Campos Monteiro, obra citada.
Alguns dos assaltantes fizeram a passagem do Canal em pequenos grupos, para não levantarem suspeitas. Levavam com eles duas cadelas (talvez com o intuito de acalmarem os cães da casa) e dois cães.
José do Telhado tinha com ele o seu cavalo. O comandante dera como senhas: Merda, para avançar, e Mesão Frio, para retirar.
Construção da Barragem do Carrapatelo
Podemos ainda avistar nesta foto o Solar do Carrapatelo
O Solar, há algum tempo atrás, aparentava um abandono lamentável (terá entretanto tido obras de restauro?)
Como já mencionamos anteriormente em outras publicações, sabemos que manter estes casarões em bom estado, não fica barato, principalmente se os mesmos não estiveram adaptados a algo (como o turismo rural por exemplo) que permita torná-los auto-sustentáveis, no entanto também conhecemos (e na primeira pessoa) casos em que as propriedades e os edifícios foram herdados em boas condições, mas o desmazelo, desinteresse, preguiça crónica e até mesmo a triste e escusada avareza de quem as herdou (não gastar um tostão em preservação, pois não vai haver lucro de recompensa) conduz propriedades e suas casas centenárias a uma condição de ruína quase absoluta, que as tornará muito mais difíceis de recuperar futuramente pelos próximos herdeiros. A meu ver, esta atitude última, é um desrespeito absoluto à memoria dos familiares falecidos que confiaram estes bens aos seus actuais e apenas temporários proprietários.
Popularmente diz-se:
"Uns são úteis quando vivos, outros
tornam-se úteis, quando o deixam de ser"
tornam-se úteis, quando o deixam de ser"
1 comment
Como descendente de José Joaquim de Abreu e Lemos, ramo Abreu Leitão, gostaria de saber quem são os actuais proprietários.
19 de março de 2022 às 14:23Enviar um comentário