Esta capela não desapareceu, felizmente. O que desapareceu, ou melhor, se modificou e muito, foi o espaço que a envolvia, que foi absorvido pelo urbanismo crescente da cidade.
Segundo Germano Silva, a nosso ver, um dos mais conceituados eruditos sobre a cidade do Porto, há pouco mais de duzentos anos, antes de toda aquela zona se envolver em urbanismo, aquele local tinha mesmo o aspecto medonho de um barranco inóspito, de um perigoso precipício.
«Aquele morro altíssimo que fica entre a Rua das Antas e a igreja paroquial do Bonfim chamou-se, antigamente, o Fojo - palavra que significa "cova funda com uma abertura disfarçada para apanhar animais".»
No cimo do penhasco foram construídas, há muitos anos, por viandantes piedosos, umas "alminhas" que no século XVIII, mais concretamente em 1767, a generosidade do cónego da Sé do Porto José Maria de Sousa e as esmolas do povo devoto transformaram numa capela sob a invocação do Senhor Jesus do Fojo que, anos mais tarde, passaria a chamar-se Senhor Jesus da Boavista.
O nome de Senhor Jesus da Boavista, assim como o topónimo Montebelo (actual Avenida de Fernão de Magalhães) têm a ver com o ambiente rural que naqueles recuados tempos envolvia o Fojo.
Descrições da zona feitas ainda nos meados do século XIX fazem referências a "amplas zonas cobertas de férteis campos" e de um "panorama verdadeiramente paradisíaco" que, por esses tempos, era possível desfrutar do pequeno adro que havia em frente da capela, "todo circundado de arvoredo, o que o toma (ao adro) muito agradável para quem ali quiser pousar".
Capela do Senhor da Boa-Vista - BPI - Alberto Ferreira N.º 159
Este panorama já não é possível contemplar, devido ao denso urbanismo envolvente.
Durante o Cerco, motivado pela invasões Francesas (1832/1833) foi construída uma linha de defesa do Porto que, nesta zona da cidade, passava junto da capela do Senhor Jesus da Boavista. Por causa disso, o pequeno templo foi muito danificado pelos obuses que a atingiram durante os renhidos combates que se travaram no alto do penhasco do Fojo. O sítio era privilegiado porque dele era possível atingir a sempre muito movimentada estrada de Valongo. A ampliação da capela feita em 1864 teve, também, entre outros, o objectivo de reparar as mazelas causadas pela guerra civil que opôs as tropas de D. Miguel ao exército de D. Pedro IV.
Assim, a capela, depois de ter sido reconstruída e obviamente ampliada em 1864, ainda lá se encontra e nela se celebra a festividade da Senhora do Porto cuja imagem se venera em altar próprio no interior do pequeno templo.
Bibliografia:
- Germano Silva in JORNAL DE NOTÍCIAS de 21-09-2014
- Biblioteca Municipal do Porto
0 comments
Enviar um comentário