Já aqui colocamos em Outubro de 2009 (cedemos esse texto a parceiros bloggers) um “post” sobre a PONTE DE CANAVESES. Por ser um item que tanto valor Histórico tem e por ter sido a todo o nível tão desprezada, resolvemos após pesquisa mais rigorosa fazer-lhe um tributo mais digno.
NOTA: Este texto requereu várias actualizações, ao longo dos anos, devido à escassa informação e contradições constantes de várias fontes, mais se faz saber que até à data em que o blogue MONUMENTOS DESAPARECIDOS abordou esta questão, não era possível, obter na web, uma única alusão a esta histórica construção, nem mesmo consultando os sites da C. M. do Marco de Canaveses e respectivas Juntas de Freguesia.
NOTA: Este texto requereu várias actualizações, ao longo dos anos, devido à escassa informação e contradições constantes de várias fontes, mais se faz saber que até à data em que o blogue MONUMENTOS DESAPARECIDOS abordou esta questão, não era possível, obter na web, uma única alusão a esta histórica construção, nem mesmo consultando os sites da C. M. do Marco de Canaveses e respectivas Juntas de Freguesia.
A Ponte de Canaveses, antiquíssima, teve como fundadora a Rainha D. Mafalda, sendo edificada por cima de outra ainda mais antiga de origem Romana, foi construída de forma tão sólida que ao longo dos séculos sobreviveu com ligeiras reparações.
Compunha-se por cinco arcos, sendo o do centro mais largo e um pouco mais elevado com uma forma ogival, os outros de volta redonda e diminuíam de altura com tal moderação que mal se apercebia o declive que apresentava a ponte do meio para as extremidades. As guardas da ponte eram guarnecidas de ameias.
Na segunda Invasão Francesa Soult bem tentou atravessar o rio, mas encontrou a oposição de António da Serpa Pinto, capitão-mor do Concelho de Canaveses, Soalhães e Tuías, que deteve a armada Francesa não a deixando atravessar a ponte.
Diz-se ter ficado danificada na contenda, sendo reparada mais tarde, com os seus arcos e guardas ameadas.
Compunha-se por cinco arcos, sendo o do centro mais largo e um pouco mais elevado com uma forma ogival, os outros de volta redonda e diminuíam de altura com tal moderação que mal se apercebia o declive que apresentava a ponte do meio para as extremidades. As guardas da ponte eram guarnecidas de ameias.
Na segunda Invasão Francesa Soult bem tentou atravessar o rio, mas encontrou a oposição de António da Serpa Pinto, capitão-mor do Concelho de Canaveses, Soalhães e Tuías, que deteve a armada Francesa não a deixando atravessar a ponte.
Diz-se ter ficado danificada na contenda, sendo reparada mais tarde, com os seus arcos e guardas ameadas.
Em baixo, imagem da Ponte De Canaveses publicada
em 1864 no Volume VII do Archivo Pittoresco
em 1864 no Volume VII do Archivo Pittoresco
Ponte «Românica» e não «Romana»...
Ponte de Canaveses, vista de Jusante
Cliché com autoria atribuída a: Abreu, José Antunes Marques (1879-1958)
No início da década de 40 do Séc. XX constava-se que estava em mau estado, tendo também dimensões inadequadas por certo para o transito automóvel de ligeiros e pesados que se tornou uma constante, pelo que foi substituída por outra em 1944.
"A Ponte de Canaveses renascida em 1944"
A "nova" Ponte de Canaveses, em baixo, numa fotografia obtida de Montante e que se presume ser da autoria de Jorge Viana Basto.
Clique na imagem para a ampliar.
A Ponte de Canaveses erguida em 1944 respeitou em tudo a memória da sua antecessora, apesar de algumas vozes que já ouvi em contestação.
Era uma ponte também em granito com o mesmo tipo de arcos, pilares e até manteve o pormenor das guardas ameadas, era obviamente de maiores dimensões, mas isso não diminuía em nada sua beleza além de ser extremamente sólida. Quando se concluiu e fechou a Barragem do Torrão em 1988 e as águas do rio Tâmega subiram grandemente, deixou de se ver a Ponte de Canaveses que atravessava o rio ligando as Freguesias de S. Nicolau e Sobretâmega, podendo só ser vistas as ainda existentes igrejas que nas duas margens quase tocavam as extremidades da ponte.
Pesquisa sobre um passado recente:
Durante anos tentamos saber o que teria sucedido a tal construção, indagando a alguns poucos residentes do Marco foi grande a admiração quando não nos deram uma resposta coerente... Desde “não sei” a “parece que ficou submersa” até houve quem nos tenha dito sobre mesma "ter sido desmontada para ser reedificada noutro local". Não residindo no Marco de Canaveses consultou-se o site daquele Órgão Autárquico que, por absurdo que possa parecer não possui qualquer elemento referente à ponte, nem um pequeno texto nem uma única imagem! Contactou-se telefonicamente a C. M. que passou a chamada a um dos seus Gabinetes, senão nos enganamos ao “Posto de Turismo do Marco de Canaveses” (mas não podemos jurar ter sido esse), onde atendeu uma simpática doutora, apesar de ser extremamente amável também não soube dizer nada sobre o destino da ponte… Era como se tivesse simplesmente “evaporado” em 1988, considerou no entanto realmente ser uma lacuna da C. M. não haver referências a mesma e até nos aconselhou um alerta para a C. M. do Marco sobre o assunto, coisa que já havia sido feito (sabemos de outras pessoas que já o fizeram também, mas continuou tudo igual, até recentemente).
Era uma ponte também em granito com o mesmo tipo de arcos, pilares e até manteve o pormenor das guardas ameadas, era obviamente de maiores dimensões, mas isso não diminuía em nada sua beleza além de ser extremamente sólida. Quando se concluiu e fechou a Barragem do Torrão em 1988 e as águas do rio Tâmega subiram grandemente, deixou de se ver a Ponte de Canaveses que atravessava o rio ligando as Freguesias de S. Nicolau e Sobretâmega, podendo só ser vistas as ainda existentes igrejas que nas duas margens quase tocavam as extremidades da ponte.
Ponte de Canaveses. Aguarela, 1966
A «nova» Ponte de Canaveses foi aberta ao trânsito em 12 de Junho de 1944. Posto que em arte fosse inferior à de Entre-os-Rios (Ponte Duarte Pacheco), era no entanto digna de admiração fazendo memória justa a ponte primitiva.
Em cima vemos a Ponte de Canaveses representada numa aguarela datada de 1966, em baixo temos uma digitalização de dois magníficos BPI sendo um deles das Edições Bazar do Marco e de um `calendário de bolso´ datado de 1987, um ano antes da sua infeliz submersão.
Ponte de Canaveses (Estado Novo: 1941-1944, submersa em 1988 e dinamitada em 1991)
Ponte de Canaveses. Duas versões de um mesmo cliché
Ponte de Canaveses - Vista de Montante. Cliché de Joaquim Carvalho
Ponte de Canaveses vista de Jusante (nos três BPI´s) e de Montante no `Calendário de bolso´
Ponte de Canaveses. 1941/44 - 1988/91
Ponte de Canaveses vista de Montante
Pesquisa sobre um passado recente:
Durante anos tentamos saber o que teria sucedido a tal construção, indagando a alguns poucos residentes do Marco foi grande a admiração quando não nos deram uma resposta coerente... Desde “não sei” a “parece que ficou submersa” até houve quem nos tenha dito sobre mesma "ter sido desmontada para ser reedificada noutro local". Não residindo no Marco de Canaveses consultou-se o site daquele Órgão Autárquico que, por absurdo que possa parecer não possui qualquer elemento referente à ponte, nem um pequeno texto nem uma única imagem! Contactou-se telefonicamente a C. M. que passou a chamada a um dos seus Gabinetes, senão nos enganamos ao “Posto de Turismo do Marco de Canaveses” (mas não podemos jurar ter sido esse), onde atendeu uma simpática doutora, apesar de ser extremamente amável também não soube dizer nada sobre o destino da ponte… Era como se tivesse simplesmente “evaporado” em 1988, considerou no entanto realmente ser uma lacuna da C. M. não haver referências a mesma e até nos aconselhou um alerta para a C. M. do Marco sobre o assunto, coisa que já havia sido feito (sabemos de outras pessoas que já o fizeram também, mas continuou tudo igual, até recentemente).
Posteriormente, contactando uma das Juntas de Freguesia do Marco de Canaveses, encontrou-se uma pessoa que parecia ter afinal a solução do “mistério”:
-A Ponte de Canaveses que sobrevivia incólume desde 1944 fazendo, além do seu serviço, memória justa a anterior, teria sido parcialmente desmontada antes da subida das águas do Tâmega em 1988, tendo já, 3 anos depois, em 1991 sido convocado o exército a destruir com cargas explosivas!!!
A imagem de baixo foi publicada no livro de António Monteiro «As Pontes de Canaveses» e mostra o término do tabuleiro da Ponte "nova", junto a Igreja de S. Nicolau.
1.º aditamento em Novembro de 2011:
A informação sobre a suposta destruição da ponte, foi-nos finalmente confirmada.
Pelo que nos foi dito, pelo facto da estrutura não ir ficar totalmente submersa, mesmo depois de lhe retirarem as ameias de pedra, guardas laterais e passeios, tiveram a ideia de destruir esta majestosa estrutura usando cargas de dinamite!!!
A ponte resistiu mais que o previsto, devido à solidez da sua construção em alvenaria de granito, pelo que as detonações não tiveram o resultado desejado. Mais que demolida a ponte foi semi-destruída e vandalizada.
A Câmara Municipal do Marco de Canaveses retirou da estrutura inúmeras pedras para fins básicos. Consta-se que algumas dessas pedras foram servir de "mesas de piquenique" no parque de merendas de Montedeiras em Penha Longa, mas estivemos no local e não vimos indícios de tal.
Sabemos no entanto que, muito granito de boa qualidade (ameias, guardas laterais e passeios) foram retirados da ponte e estiveram "empilhados" perto da igreja da Santa Maria de Sobretâmega, onde após, pelo menos uma tentativa frustrada de serem levadas desse local (segundo nos informaram, numa determinada noite, uns camiões desconhecidos e supostamente a mando da EDP, tentaram levar as pedras, mas foram impedidos pelo então Presidente da Junta de Freguesia local, que tocando o sino a rebate, chamou a população) acabaram mesmo por desaparecer, não se sabendo bem para onde ou por ordem de quem. Aparentemente o fim da ponte fomentou muitas negociatas...
O que resta da ponte de Canaveses (bases dos pilares) encontram-se no fundo do lago artificial de água estagnada, formado pela barragem do Torrão...
Imagens:
- BPI (digitalização)
- Jornal "A Verdade"
- José Manuel Almeida
- Joaquim Carvalho
- Fonte da montagem fotográfica: tovasconcelos.com
- Cedidas por; Diogo Castro, com autoria de Joaquim Carvalho
- Centro Português de Fotografia
- João Silva
- Cedidas por; Juliano Peixoto
- Autores desconhecidos
Ponte de Canaveses e Vale do Tâmega, numa vista de Montante
Nas três imagens, imediatamente em cima e em baixo, podemos observar "O Senhor da Boa Passagem" junto à igreja de S. Nicolau em Canaveses. Devido à subida das águas do Tâmega , em 1988, esta pequena ermida seria deslocada, para um local um pouco mais elevado.
Igreja de S. Nicolau e Senhor da Boa Passagem. Cliché de Joaquim Carvalho
Ponte de Canaveses, vendo-se S. Nicolau. 1946-09-26 PT-CPF-JGGJ-002-000575
Ponte de Canaveses vista de Montante. 1946-09-26 PT-CPF-JGGJ-002-000576
Vale do Tâmega e Ponte de Canaveses, estando a ponte nova em construção a Montante. Clichés de João Silva
Ponte de Canaveses
A informação sobre a suposta destruição da ponte, foi-nos finalmente confirmada.
Pelo que nos foi dito, pelo facto da estrutura não ir ficar totalmente submersa, mesmo depois de lhe retirarem as ameias de pedra, guardas laterais e passeios, tiveram a ideia de destruir esta majestosa estrutura usando cargas de dinamite!!!
A ponte resistiu mais que o previsto, devido à solidez da sua construção em alvenaria de granito, pelo que as detonações não tiveram o resultado desejado. Mais que demolida a ponte foi semi-destruída e vandalizada.
A Câmara Municipal do Marco de Canaveses retirou da estrutura inúmeras pedras para fins básicos. Consta-se que algumas dessas pedras foram servir de "mesas de piquenique" no parque de merendas de Montedeiras em Penha Longa, mas estivemos no local e não vimos indícios de tal.
Sabemos no entanto que, muito granito de boa qualidade (ameias, guardas laterais e passeios) foram retirados da ponte e estiveram "empilhados" perto da igreja da Santa Maria de Sobretâmega, onde após, pelo menos uma tentativa frustrada de serem levadas desse local (segundo nos informaram, numa determinada noite, uns camiões desconhecidos e supostamente a mando da EDP, tentaram levar as pedras, mas foram impedidos pelo então Presidente da Junta de Freguesia local, que tocando o sino a rebate, chamou a população) acabaram mesmo por desaparecer, não se sabendo bem para onde ou por ordem de quem. Aparentemente o fim da ponte fomentou muitas negociatas...
O que resta da ponte de Canaveses (bases dos pilares) encontram-se no fundo do lago artificial de água estagnada, formado pela barragem do Torrão...
NÃO PASSARAM!
Canaveses - Memorial. Cliché de Joaquim Carvalho
Este memorial aos combatentes contra as forças invasoras Francesas e a importância crucial que a Ponte de Canaveses desempenhou nesse bloqueio, é muito correcto eticamente mas de certo modo incorrecto Historicamente A placa encontra-se junto aquela que é actualmente chamada de «Ponte de Canaveses», construção moderna (finais da década de 80) em betão, que rigorosamente nada tem com as suas antecessoras, inclusive a destruída em 1988, como nem sequer se encontra no mesmo sitio das mesmas, mas sim a umas boas centenas de metros do local. Paradoxalmente, no local exacto (margens) das antigas pontes não existe qualquer referência às mesmas ou ao sucedido.
Nota: O memorial em pedra foi finalmente deslocado para o local onde existiu a ponte destruída, entre finais da década de 80 e inícios dos anos 90. Está próximo da capela de S. Nicolau.
Ponte de Canaveses
2.º aditamento em Junho de 2013:
EDP - Crime 11.10.1991
Graças a um leitor, ao qual desde já apresentamos o nosso agradecimento, obtivemos um recorte de uma publicação do jornal "A Verdade" onde podemos testemunhar mais um crime contra o património, com a implosão da, já então descaracterizada (haviam lhe retirado as ameias e guardas laterais) Ponte de Canaveses. Não podemos absolver a EDP da autoria deste crime, tendo em conta que, segundo fonte fidedigna, soubemos que havia grande interesse da EDP em destruir a ponte, o que aconteceria com recurso à Eng. do Exército de Espinho.
O processo envolveria a Comissão de Coordenação da Região Norte, que teve que se pronunciar entregando o assunto a um Engenheiro, que apesar de compreender as supostas "razões", deixou indicações do interesse em preservar a ponte. Apesar de reforçar os seus argumentos com o facto anteriormente referido, que esta já tinha sido amputada dos muros de protecção e ameias, os interesses da EDP prevaleceram e esta construção ímpar foi implodida, como se fosse um simples casebre velho.
Implosão, com cargas de dinamite, da Ponte de Canaveses
Ponte de Canaveses vista de Jusante. (1987?)
Vemos a Igreja de S. Nicolau e o Senhor da Boa Passagem, na margem oposta
Ponte de Canaveses já semi-submersa, vista de Jusante, em 1988
(altura do encerramento das comportas da barragem do Torrão)
Vemos a Igreja de S. Nicolau e o Senhor da Boa Passagem, na margem oposta
Vemos a Igreja de S. Nicolau e o Senhor da Boa Passagem, na margem oposta
Ponte de Canaveses de Jusante. Submersa e sendo desmontada (leia-se, destruída) em Outubro de 1991
Vemos a Igreja de S. Nicolau e o Senhor da Boa Passagem, na margem oposta
EDP - Crime 11.10.1991
O rebentamento da estrutura principal (tabuleiro) da Ponte de Canaveses, com explosivos
A História é apagada e convenientemente "esquecida" por todos...
Obs. Em dado momento, conseguimos obter esta magnífica montagem fotográfica, que podemos observar em baixo. A fotografia a preto e branco (que acredito ser dos anos 60/70) mostra a Ponte de Canaveses de um ângulo singular, com o aspecto que manteve até ser destruída em 1988, o mais interessante nesta imagem é a sobreposição com outra do mesmo exacto local, mas actual, com a albufeira do Torrão cheia.
Clique na imagem para a ampliar
Montagem fotográfica: tovasconcelos.com
Leia também neste blogue : Ponte Medieval de Canaveses (basta "clicar" no título atrás)Montagem fotográfica: tovasconcelos.com
Imagens:
- BPI (digitalização)
- Jornal "A Verdade"
- José Manuel Almeida
- Joaquim Carvalho
- Fonte da montagem fotográfica: tovasconcelos.com
- Cedidas por; Diogo Castro, com autoria de Joaquim Carvalho
- Centro Português de Fotografia
- João Silva
- Cedidas por; Juliano Peixoto
- Autores desconhecidos
2 comentários
Parabéns pelo magnifico trabalho e obrigado por manter viva a nossa história. Na verdade no meu caso chegou a ser o meu presente pois tive ainda a felicidade de ter feito a travessia dessa ponte.
15 de maio de 2019 às 17:58Obrigada pelo documentário. Lembro-me bem desta ponte e de como fiquei triste quando soube que ia ficar submersa. E mais triste fiquei quando a vi destruir. Mesmo submersa, era curioso ver as pessoas a atravessar o rio por ela, como se andassem sobre as águas. Até cheguei a ver quem andasse de bicicleta no meio do rio.
27 de agosto de 2019 às 23:57Enviar um comentário