Honra de Barbosa. Entre os edifícios das antigas câmara e cadeia, vemos o pelourinho. Atrás do pelourinho o solar, onde sobressai a torre ameada
Muito resumidamente, pode-se descrever a "Honra de Barbosa" como um conjunto formado por solar, torre, residência, pelourinho, prisão, fonte e capela.
A residência senhorial com torre ameada, foi fundada no século XII por Mem Moniz de Ribadouro.
A residência apresenta um corpo construído de planta composta em U que integra ao centro a torre ameada, reconstruída entre os séculos XV e XVI, de planta quadrangular, dividida em dois pisos e rematada por merlões manuelinos. No piso superior da torre destaca-se uma janela de lintel manuelino, sobre a qual existe um pequeno cordão que circunda o edifício e de onde sobressaem quatro gárgulas em forma de canhão. No perímetro da Honra existe ainda a capela do Menino Deus, do século XVII, a antiga Câmara, a cadeia e o pelourinho, com remate em pinha, símbolo da sua autonomia e jurisdição própria.
Câmara, cadeia e o pelourinho
Segundo informações do IPAAR, a actual configuração da torre da Barbosa poderá esconder um dos mais antigos testemunhos de arquitectura militar medieval no nosso país. A tradição tem apontado o ano de 866 como o da construção de uma primitiva estrutura militar neste local, na sequência da doação do lugar de Bordalo (topónimo que tem sido interpretado como o mesmo a que corresponde a actual torre), feita por Afonso III das Astúrias ao conde D. Hermenegildo. No entanto, até ao momento não se identificaram quaisquer vestígios dessa primitiva estrutura e só um programa de intervenção arqueológica o poderá esclarecer.
No século XII, possuímos informações mais seguras acerca do monumento. Reinando D. Afonso Henriques, a Terra de Penafiel esteve na posse de D. Mem Moniz (irmão de D. Egas Moniz), nobre a que se atribui a construção de um paço fortificado no local. Por testamento, a propriedade passou a sua filha, D. Teresa Mendes e, por casamento desta, para a mão de D. Sancho Nunes de Barbosa, o primeiro nobre a usar este apelido no nosso país e a cuja existência se deve a alteração do topónimo.
Infelizmente, dessa fase românica da propriedade nenhum testemunho material chegou até hoje, mas a sua antiguidade é atestada logo no reinado de D. Dinis. Nas Inquirições então efectuadas, a quinta é mencionada como “honra de Barbosa Velha”, certamente por contraste com outras propriedades nas imediações de instituição mais recente.
O aspecto actual da torre medieval data de meados do século XIV e, posteriormente, de duas reformas levadas a cabo nos reinados de D. João I e de D. Manuel. Em 1334, a honra foi repartida por vários herdeiros, cabendo a parte que incluía a torre senhorial a D. Leonor Mendes e a seu marido, D. Martim Anes de Sousa. Com a subida ao poder da nova dinastia de Avis, a propriedade foi doada aos Malafaias e Azevedo, que a transformaram em solar familiar. Datará destas duas alterações de posse a construção que actualmente subsiste, tendo sido mais difundida a hipótese que a situa no século XV, embora as suas características a pareçam colocar um pouco mais atrás no tempo.
A torre é uma estrutura de planta quadrangular, de dois andares marcados por vãos abertos nos alçados, e encimada por uma linha de ameias a toda a sua volta. O “aparato denso dos muros”, que aparecem aqui “desprovidos de aberturas”, confere-lhe um aspecto mais arcaico que aquele que seria de supor numa construção do século XV, embora esta seja uma convicção com base em analogias estilísticas, não se alicerçando em datações absolutas.
No reinado de D. Manuel, a torre foi objecto de uma modernização, cujo alcance é ainda mal conhecido. As janelas do piso superior foram modificadas, para albergar um arco polilobado abatido de perfil manuelino. Dessa campanha, deverão datar também as ameias chanfradas que rodeiam o edifício e as gárgulas de canhão dispostas nos seus ângulos, aspectos que “denunciam a sensibilidade da época manuelina”.
Por essa mesma altura, ter-se-ão dado importantes transformações nas partes habitacionais, alterações que a época moderna se encarregariam de aprofundar. Actualmente, um corpo de dois andares, mas bastante mais baixo que a torre, adossa-se-lhe a uma das faces laterais e possui planta em L. A entrada principal é no piso nobre do corpo menor, com patim alpendrado e acesso através de uma escadaria paralela ao corpo maior. No piso térreo, abrem-se várias portas e janelas, de carácter utilitário e de vocação agrícola e de serviço. O piso superior é fenestrado regularmente por janelas em guilhotina, elementos que conferem clara monumentalidade e carácter nobre a esta parte do conjunto.
Outras transformações foram, entretanto realizadas, tendo a quinta chegado aos nossos dias como uma soma de múltiplas fases construtivas, cujo estudo rigoroso se impõe como única via de melhor se conhecer a sua história.
Pelourinho, símbolo de autonomia
Capela do Menino Deus (Natividade)
Sobre a porta da capela, a data de 1698
Lenda de Rans:
«Há muitos anos havia no lugar de Lordasa a freguesia de Rans, uma presa de água onde se juntava a agua que servia para regar os campos. Nessa presa havia muitas rãs que cantavam muito, e de noite ouviam-se a grande distância. Conta-se a que a princesa Teresa passava junto de uma presa, quando vinha para a Honra de Barbosa. Ela gostava muito de ouvir as rãs a cantar e deu o nome a esta freguesia. O nome da freguesia sofreu algumas alterações e hoje tem o nome Rans».
- IPAAR (DGPC)
- CMP
- DGEMN
Imagens:
- Alexandre Silva
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