Cruz das Regateiras, vendo-se a demolida capela. Em segundo plano, o Hospital dos alienados Conde de Ferreira
Fonte da imagem in JN. Autor desconhecido
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Segundo o grande conhecedor do passado portuense, Germano Silva, na sua habitual crónica no Jornal de Notícias, por muitos anos, a cruz ergueu-se num largo que depois veio a chamar-se Largo da Cruz das Regateiras.
O sítio, naquele tempo, ficava longe da cidade, na parte arrabaldina, onde, em 1883, se inaugurou o hospital do Conde de Ferreira e onde, também, se situava um posto municipal de cobrança de impostos.
As mulheres que vinham vender produtos à cidade, tinham, obrigatoriamente, de parar para pagar o imposto devido sobre os géneros que transportavam. E, como sempre, regateavam com os fiscais o preço a pagar. Daí o epíteto de "regateiras" .
No mesmo largo havia uma pequena capela, "pertença dos moradores da freguesia", lê-se nas "Memórias paroquiais" de 1758, que tinha anexa uma Confraria do Santíssimo Sacramento e que passou a ser conhecida, também, pela capela do Senhor da Cruz das Regateiras.
Cruz das Regateiras. Phototipia da Photo Moderna. Clique para ampliar
Cruz das Regateiras. Phototipia recortada. Em segundo plano, o Hospital dos alienados Conde de Ferreira
Era bem curiosa esta ermida. Na parte de cima da fachada, sobre a padieira da porta principal, ostentava esta legenda: "Obra de caridade do ano de 1732". No interior, junto ao altar-mor, do lado da Epístola, havia uma porta e por cima estava esta inscrição: "Entrada para beijar o Senhor morto".
No altar-mor, em lugar de destaque figurava uma belíssima imagem de Nossa Senhora das Dores em louvor da qual todos os anos se fazia uma festa no último domingo de Julho.
Diz um panfleto dos começos do século XIX que no dia da festa "havia animado arraial com embandeiramentos, ornamentações, danças ao som gemebundo de violas chuleiras". Consta do mesmo documento que "ao declinar do dia saía uma procissão com o andor da virgem, em miniatura, sobre uma simulada nuvem feita de algodão em rama e ladeado por homens empunhando lanternas e cruzes que eram precedidos de um reduzido grupo de zés-pereiras".
Durante o Cerco do Porto (1832/1833) as tropas miguelistas montaram um reduto na Cruz das Regateiras. No dia 25 de Março de 1833, os soldados do exército de D. Pedro IV lançaram um duro ataque contra este reduto pondo os soldados miguelistas em fuga. Quando a guerra civil acabou, foi dado ao lugar da Cruz das Regateiras o nome de lugar de 25 de Março, evocativo do combate referido. Mas esta denominação durou muito pouco tempo.
Em 1900, ainda se fazia a grande festa de Julho. Nesse ano, conta Horácio Marçal na sua obra "S. Veríssimo de Paranhos", um tal Francisco dos Santos Fonseca e sua mulher, Sofia Ermelinda Braga da Fonseca, ofereceram "para adornar as imagens de Nossa senhora das Dores e do Senhor do Socorro da capela da Cruz das Regateiras, uns brincos e um broche cravejados de pedras finas para a primeira imagem; e para o Senhor do Socorro um artístico resplendor de prata com o competente dístico".
Dezasseis anos depois, em 12 de Setembro de 1916, a Câmara Municipal do Porto, com o pretexto de que necessitava de proceder ao alinhamento da Rua de Costa Cabral, expropriou a capela que, logo a seguir, mandou demolir, providenciando, ao mesmo tempo, no sentido de que o cruzeiro fosse removido do local onde estava, sendo então colocado onde agora se encontra. Está atrás da igreja paroquial de Paranhos.
Hospital Conde de Ferreira (vista aérea) in Virtual Earth 3D
Vemos assinalado com um círculo vermelho, o local que foi conhecido por "Cruz das Regateiras"
O topónimo Cruz das Regateiras foi dado também à estrada que passava ao lado do cruzeiro e circundava, se assim se pode dizer, o casal do Vale que pertencia à antiquíssima quinta do Paço, já referida com esta designação em documentos de 1673, mas que, pela proximidade com o cruzeiro, também se chamou quinta da Cruz das Regateiras.
Fontes e bibliografia:
- JN
- Photo Moderna
- Photo Moderna
- Germano Silva
- Virtual Earth 3D
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1 comment
Agora entendi a razão do nome da Rua da Cruz !...
4 de março de 2015 às 19:07Muito obrigado.
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