É imperioso contextualizar a Livraria Alfarrabista Académica não só como um estabelecimento comercial, mas como um repositório histórico e patrimonial da cidade do Porto. A sua génese remonta ao ano de 1912, um período de efervescência social subsequente à implantação da República, sendo fundada pelo livreiro Joaquim Guedes da Silva. A livraria, desde logo, firmou-se como um baluarte do livro antigo e raro, cultivando um acervo que se distingue pela especialização em áreas como a História, a Literatura Portuguesa, a Filosofia e a Arte.
No entanto, a sua resiliente permanência e o seu prestígio atual devem-se primacialmente à figura de Nuno Canavez, cuja biografia se funde indissociavelmente com a da casa. Canavez iniciou a sua peregrinatio profissional em 1948, ingressando na Académica ainda na sua meninice, aos treze anos, exercendo a função de marçano. Esta data marca o início de uma trajectória de mais de sete décadas ao serviço do livro, um feito que o consagra como o alfarrabista em actividade com mais anos de ofício ininterrupto em Portugal.
Com o decurso dos anos e mercê do seu esforço e erudição autodidata, Nuno Canavez ascendeu de colaborador a sócio-gerente e, por fim, a proprietário. Sob a sua gerência, a Livraria Académica conservou o seu carácter secular, mantendo-se fiel à sua vocação de alfarrabista erudito, onde o volume raro é tratado com veneração. A sua vasta e precisa memória bibliográfica permite-lhe guiar bibliófilos e investigadores através das distintas salas do estabelecimento, que funcionam como uma autêntica cronologia impressa.
A Academia do Porto, assim, transcende a mera transação comercial; é um locus de resistência cultural e uma homenagem viva à tradição do livro físico, sendo o Sr. Nuno Canavez o seu mais precioso e inestimável custódio.







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