A Livraria Lopes da Silva, situada nos imóveis sob os números 101 e 103 da histórica Rua Chã, no coração nevrálgico da cidade do Porto, constituiu um relevante polo de difusão de conhecimento especializado.
Formalmente reconhecida pela sua especialização, a livraria dedicava-se à comercialização de literatura técnico-científica e manuais de ensino escolar, suprindo uma necessidade crucial da comunidade académica e profissional da época. O seu acervo era notavelmente enriquecido por obras voluminosas de proveniência estrangeira, nomeadamente nas áreas de desenho e ciências médicas, servindo como um recurso bibliográfico de excelência para o estudo aprofundado e a curiosidade intelectual.
A gestão do estabelecimento estava a cargo dos proprietários, D. Guilhermina e o Sr. Moreira, que habitavam as dependências superiores do edifício, utilizando o primeiro piso como armazém, numa conjugação típica entre habitação e atividade mercantil. O escritório, curiosamente, situava-se num prédio fronteiro.
A cultura laboral da casa distinguia-se pela sua índole humanitária; a proprietária assegurava diariamente a distribuição do lanche aos seus colaboradores, um gesto que sublinha a dimensão social e familiar da instituição. Detalhes do espaço, como a rica decoração em madeira das vitrines interiores e a presença de um cofre de barro em forma de boneco representando um preto, no balcão elevado (destinado a recolher contribuições para missões humanitárias em África), ilustram as convenções estéticas e sociais da época.
A Livraria Lopes da Silva transcendeu a mera função comercial, inscrevendo-se na memória coletiva como um dos esteios do circuito erudito do Porto, onde o comércio especializado se interligava com o quotidiano e as práticas de mecenato social.




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