O Mosteiro de São Bento de Avé-Maria.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

O Mosteiro de São Bento de Avé-Maria foi um edifício, localizado na cidade do Porto e demolido em finais do século XIX, que albergou freiras beneditinas.
No seu local foi construída a actual Estação Ferroviária de Porto-São Bento, no início do século XX.

História
No início do século XVI, mais precisamente em 1518, o rei D. Manuel I, que no ano anterior outorgara foral ao Porto, mandou construir à custa de sua fazenda, o Mosteiro da Avé Maria ou da Encarnação das monjas de São Bento, dentro dos muros da cidade, no local chamado das Hortas do Bispo ou da Cividade.
Desejando o rei que os Mosteiros das Religiosas se transferissem dos montes para as cidades, neste foram recolhidas as monjas dos Mosteiros de Rio Tinto, Vila Cova, Tarouquela e Tuías, no dia 6 de Janeiro de 1535. No século XVI recebeu algumas freiras de um extinto mosteiro em Macieira de Sarnes. Foi a sua primeira abadessa D. Maria de Melo, monja de Arouca e, ao mesmo tempo, regedora do Mosteiro de Tarouquela.
Vários testemunhos referem-se ao Real Convento como uma verdadeira maravilha em decoração e magnificência, deduzindo-se ter predominado inicialmente o estilo manuelino. Deduz-se, pois foram muitas as alterações e aditamentos que a igreja e o convento sofreram durante os anos, a última motivada por um incêndio em 1783, que ao tempo da demolição apenas restava um arco manuelino da traça primitiva.
Com a afirmação do Liberalismo no início do séc. XIX, este regime, depois de extintas as ordens religiosas, confiscou os seus bens por decretos de 1832 e 1834, determinando que estes passassem para o Estado após a morte da última religiosa. No caso do Mosteiro de São Bento de Avé-Maria, esta terá falecido em 1892, ficando as instalações devolutas. Contam-se várias histórias de que, em certas noites, ainda é possível ouvir as rezas da monja a ecoar pelos corredores das alas da estação!
A demolição dos claustros inicia-se cerca de 1894 e a da igreja processa-se entre Outubro de 1900 e Outubro de 1901. As ossadas das monjas foram recolhidas numa catacumba mandada construir no cemitério do Prado do Repouso pela Câmara Municipal do Porto, em 1894.
Muito do seu espólio perdeu-se por altura da demolição, incluindo uma grande variedade de azulejos-tapete, alguns dos quais foram recolhidos por Rocha Peixoto. O que resta do espólio pode ser apreciado no Museu do Seminário do Porto (talha), na Igreja de São João das Caldas em Vizela (retábulo-mor da igreja), Paço de S. Cipriano em Guimarães (azulejos do claustro), no Museu Nacional de Arte Antiga em Lisboa (báculo da Abadessa) e no Mosteiro de Singeverga em Roriz (cibório com pedras finas).
Em baixo podemos ver várias fotografias do magnífico Mosteiro de São Bento de Avé-Maria, exactamente como ele era antes de dar lugar a actual conhecida estação de S. BentoUm tesouro para sempre perdido.
 Mosteiro de São Bento de Avé-Maria
(clique nas imagens para as ampliar
Vista geral do extinto edifício
O extinto edifício religioso, em diferentes BPI

Dois ângulos opostos
Igreja do Mosteiro S. Bento de Avé-Maria
Pormenor da esquina do edifício, numa imagem obtida provavelmente pouco após 1850
O mesmo cliché...
Acesso ao Mosteiro de S. Bento de Avé-Maria pelo lado da actual Rua do Loureiro...

A fachada da Igreja...
Vista da rua da Madeira (em frente à direita vemos a ainda existente Praça da Liberdade, ao fundo e a meio, a Torre dos Clérigos)
Em cima e em baixo: Duas imagens obtidas a partir do mesmo cliché
Em baixo uma vista interior, em destaque o Coro Alto
Aspecto geral do Coro Alto
A nave principal da igreja
A "roda" do Mosteiro onde eram deixadas crianças rejeitadas pelos pais. Permitia também a entrada e saída de objectos e mercadorias, num ambiente de clausura
 O pátio interior do Mosteiro, vendo-se o seu Claustro
Claustro do Mosteiro S. Bento de Avé-Maria. Duas variantes do mesmo cliché


Mosteiro São Bento de Avé Maria - Chafariz e Claustro
Claustro do Mosteiro de São Bento de Avé Maria
Vista do alto da Torre dos Clérigos para o Nascente, 1860-70, num cliché com autoria atribuída a Antero Seabra
É perceptível o Mosteiro na direita da imagem (torre sineira). O edifício das Cardosas recebia o seu telhado
Mosteiro S. Bento de Avé Maria  (em baixo) já depois da «amputação» que lhe arrasou o pátio de entrada e parte do edifício...
O mesmo cliché
Na imagem de baixo: O Mosteiro São Bento Avé Maria, visto da Rua da Flores 
Uma imagem desoladora!!! A destruição do Mosteiro para dar lugar a estação de comboios.
Mosteiro São Bento de Avé-Maria - Demolições
A demolição da parte da igreja decorre entre Outubro de 1900 e Outubro de 1901. No canto inferior direito da imagem, vemos já, a gare provisória da futura Estação de S. Bento.
 Demolição da igreja do Mosteiro de São Bento de Avé-Maria
Três variantes do mesmo cliché
Demolição do Mosteiro de São Bento de Avé-Maria
 A demolição da parte da igreja decorre entre Outubro de 1900 e Outubro de 1901
Mosteiro São Bento de Avé-Maria. Destruição
«Um majestoso edifício religioso que nunca deve ser esquecido...»
Mosteiro de São Bento de Avé-Maria. Um tesouro perdido


Arquivos:
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- Phot.ª Perez

4 comentários

Joana Gonçalves disse...

:)Bom texto com boa informação. Vou partilhar. Grata

1 de fevereiro de 2017 às 23:33
Unknown disse...

Estação de São Bento!Foi!"Combento de São Bento Avé Maria!"

1 de março de 2017 às 20:16

Pena e é essa a única nódoa negra do texto, a referência à roda dos expostos. O Mosteiro era de clausura e portanto as monjas para interagirem com o exterior teriam de utilizar a roda. Nunca e em caso algum essa roda foi utilizada para expostos. Para esse fim a Misericórdia tinha a sua roda.

30 de dezembro de 2017 às 22:59
ARTUR disse...

Esses reformadores só destruiram.

2 de junho de 2021 às 15:55

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