Mosteiro de Santa Maria de Cárquere. (Resende)

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Não sendo um monumento desaparecido, este Mosteiro felizmente é um exemplo de resistência ao tempo e da preocupação que existiu em recuperar e manter o nosso património mais valioso.
Vista panorâmica do Mosteiro de Cárquere, c.1931
Vista geral da fachada setentrional da Igreja Paroquial de Cárquere, c.1931
Cárquere em 1957
Edificado na encosta norte do maciço da serra de Montemuro, quase à vista do Douro, o complexo monástico de Cárquere notabiliza-se não apenas pelo conjunto arquitectónico e artístico, mas pela profunda ligação aos primeiros anos da nacionalidade. 
Considerado, primeiramente, o local onde o pequeno infante Afonso Henriques se curara a pedido do seu aio Egas Moniz pela intercessão da Virgem Maria, constituiu mais tarde o panteão da poderosa família dos Resendes, até à sua dispersão, nos finais do século XV.
As lendas urdidas pelos cónegos regrantes que aqui governaram no espiritual e no temporal até ao século XVI faziam parte de uma estratégia de consolidação e promoção que notabilizasse um património naturalmente apoiado por um extenso conjunto de bens fundiários e contributivos, numa vasta região a sul do Douro. E foram as riquezas que falaram mais alto quando coube reformar o Mosteiro, entregue no século XV a alguns eclesiásticos menos cientes das suas funções. 
A chegada dos jesuítas, no século XVI, determinou um novo fôlego na ampliação e consolidação do domínio em Cárquere. 
O Mosteiro num BPI não datado (anos 80?)
Deste instituto partiu a missionação e a evangelização que ajudou a formar o muito afamado santuário da Senhora da Lapa, a sudeste, nos confins dos planaltos da Nave. 
A posse de Cárquere foi pacífica até ao século XVIII, quando a perseguição aos jesuítas pelo marquês de Pombal atingiu esta pequena comunidade.
Este percurso, não obstante as vicissitudes dos homens e a sua cobiça, ficou de certa forma registado nos espaços e nos elementos artísticos que definem o actual conjunto. 
Embora do período românico os vestígios - contemporâneos do tempo de Egas Moniz e Afonso Henriques - sejam pouco expressivos são, no entanto, dignos de registo a fresta da capela familiar dos Resendes e a torre, hoje imersa no conjunto, mas que teria estado destacada do edifício eclesial e anexos. 
No que concerne à fresta da parede testeira do panteão dos Resendes deve-se destacar que surge ornamentada de ambos os lados. Se no interior prevalece uma linguagem geométrica, não obstante o desalinhamento que se sente ao nível da composição das aduelas, é numa das arquivoltas do exterior que surge um dos seus elementos mais originais, as chamadas beak-heads, motivo de importação anglo-saxónica e que se caracteriza pela concepção, em cada uma das aduelas, de animais unifrontados carregados de grafismo. 
Nos capitéis optaram pela representação de aves, ora com pescoços enlaçados, ora sozinha, com as asas abertas. 
Em relação à torre, fundada sobre afloramento granítico, de natureza defensiva e senhorial, poderá ter sido edificada na mesma ocasião do conjunto monástico e que alguns autores colocam no último quartel do século XII ou já no XIII. 
No Mosteiro, a distribuição dos espaços, quer dentro da Igreja, quer exteriormente ao nível do atual cemitério (antigo claustro), denuncia a espacialidade românica. Todavia aquilo que ainda hoje podemos apreciar quando entramos na Igreja é fruto de uma apropriação manuelina da fábrica românica primitiva, pontilhada por prévias intervenções góticas, de que é expressão maior a cabeceira, com sua abóbada nervurada e janela mainelada, apenas visível a partir do exterior. 
Da época manuelina destaca-se o portal principal e o lateral norte. As pinturas murais preservadas (sob retábulos-colaterais de correr) contêm do lado da Epístola uma representação de Santo António e Santa Luzia e, no lado oposto, um conjunto de anjos esvoaçantes. 
Da medievalidade são ainda as imagens da Virgem de Cárquere e do Leite. A primeira tem despertado a curiosidade dos devotos pelas suas dimensões e, sobretudo, por ligar-se-lhe a já referida lenda.
A Época Moderna, coincidente com a presença jesuítica, trouxe consigo a reforma e sobretudo o barroco, de que salientaríamos o trabalho dos altares maior, lateral e o de São Sebastião (actualmente exposto na sacristia), todos integrados no período nacional.
O declínio de Cárquere começou em meados do século XVIII. Esvaziado dos seus guardiões e exposto o seu património à cobiça, viu-se reduzido à condição de igreja paroquial. Ao longo do século XIX a crescente secularização e laicismo da sociedade ditaram que muito do património religioso fosse alienado ou decaísse em ruínas.
Nesta imagem, vemos um pormenor, que seria alterado nas grande obras de restauro realizadas pelo Estado Novo
 O telheiro, bem como a coluna em granito que o sustenta, seria retirado desta entrada da igreja
Fachada principal da Igreja Paroquial de Cárquere, c.1931
O século XX, pela mão de alguns investigadores e do crescente nacionalismo que buscava na história e no património os símbolos para reabilitar a nação e o novo regime republicano, olharam para Cárquere com a atenção devida a um dos legendários esteios da nossa nacionalidade.
Na imagem de baixo, constatamos que a coluna de sustentação foi removida, pois não integrava a estrutura original
O conjunto remanescente do Mosteiro de Santa Maria de Cárquere tem sido alvo de diversas intervenções de conservação desde 1950, tendo as mais importantes sido realizadas pelo Estado Novo.
Vista geral do Mosteiro de Santa Maria de Cárquere durante as obras de restauro realizadas pelo Estado Novo

Bibliografia:
 - Rota do Românico
Imagens:
 - AHMP
 - Arquivos SIPA
 - BPI (digitalização)
 - Autores desconhecidos

Teatro Chalet. (Porto)

terça-feira, 27 de maio de 2014

Teatro Chalet 
O Teatro Chalet situava-se no lugar da Feira dos Carneiros, local onde mais tarde seria construída a estação de comboios da Trindade e mais recentemente, a estação do Metro com o mesmo nome. 
A sua existência chegaria ao fim com a apresentação do drama “A escravatura na América”. 
O último espectáculo ocorreria em 02 de Abril de 1899, tendo de seguida sido demolido para a ampliação do Horto Municipal. 

Chafariz do Laranjal. (Porto)

Chafariz do Laranjal
O Chafariz do Laranjal não desapareceu, mas, tal como outras fontes, foi deslocado mais que uma vez. Esteve originalmente no Largo de S. Domingos. Seria alterado e colocado no Laranjal em Fevereiro de 1854 e passou a receber água do manancial de Camões. 
Foi desmontado em 1916 quando da abertura da Avenida dos Aliados. Em 1943 foi reconstruído nos jardins dos SMAS. Posteriormente seria colocado no Largo da Trindade em frente da Igreja.

Citando:
“No alto do Laranjal, quase à entrada da demolida Viela do Cirne, houve outrora uma fonte conhecida pelo burlesco chamadoiro de Fonte do Olho do C…, cujo acesso, por ficar em nível inferior da rua era feito por alguns degraus de pedra. No fundo, via-se a bica a deitar água para uma pequena pia e dela se abasteciam os moradores de vizinhança. Em meados do Séc. XIX, contudo, desta fonte já não se lobrigavam vestígios". 
 Largo do Laranjal e Cancela Velha
Imagens: 
- Les Temps Perdu
- AMP

Fonte do Largo do Padrão. (Porto)

Fonte do Largo do Padrão
A Fonte do Largo do Padrão localizava-se originalmente na esquina das Ruas de Santo Ildefonso e Coelho Neto, no local denominado justamente por Largo do Padrão.
Não desapareceu, embora tenha sido remodelada, tendo-lhe sido acrescentados uma concha e um peixe.
Foi no entanto deslocada para o seu local actual, na confluência das Rua dos Mártires da Liberdade e General Silveira. 

 Imagem:
- Les Temps Perdu

Palácio da Batalha. (Porto)

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Clique na imagem para a ampliar
Palácio da Batalha. Edifício dos correios em 1905
No lado oriental da praça da Batalha, no coração da cidade do Porto, podemos ver um palacete brasonado mandado construir nos fins do século XVIII por José Anastácio da Silva da Fonseca, cavaleiro da Casa Real.
Na altura do Cerco do Porto os proprietários pró-miguelistas abandonaram o palacete, o que fez com que o governo liberal lá se instalasse, usando-o para várias instituições públicas e hospital de sangue. Foi aqui que Bernardo de Sá Nogueira, mais tarde Marquês de Sá da Bandeira, foi internado após ter sido gravemente ferido, acabando-se por lhe amputar o braço direito ferido. Em 1842, foi restituído aos antigos donos e, em 1861, quando a câmara mandou terraplanar o largo, o palácio ficou cerca de um metro mais alto que o pavimento da praça.
Antigo edifício dos Correios, na praça da Batalha em 1905
Palácio da Batalha ou Palácio dos Guedes
 Praça da Batalha no Porto
Observamos o Hotel Universal na direita e o palacete dos Guedes na esquerda
 Praça da Batalha no Porto
Observamos o High-Life na esquerda junto ao Palacete dos Guedes, 
posterior edifício dos correios e actual Hotel
Praça da Batalha, c.1910 
BPI - Editor: Grandes Armazéns Hermínios
A câmara deu ao proprietário 800 mil réis de indemnização, dinheiro usado para rebaixar o pavimento do palácio. Estação central dos Correios, Telégrafos e Telefones ao longo de grande parte do século XX, em 2009 o edifício foi vendido ao grupo hoteleiro Hotel Dona Inês que actualmente se encontra a elaborar profundas obras neste edifício para o transformar em mais um hotel de luxo.
Aditamento (Março de 2015): O actual Hotel pode ser visualizado, clicando aqui.

Imagens:
- Phot.ª Guedes
- AHMP
- BPI (Digitalização)

Comemorações Henriquinas de 1894. (Porto)

terça-feira, 20 de maio de 2014

As "Comemorações Henriquinas" de 1894, foram em suma, celebrar o nascimento do Infante D. Henrique em 1394. O Infante faleceria em 1460.
Comemorações Henriquinas no Porto em 1894 
Obelisco do Campo da Regeneração, actual Praça da Republica
Bancada em semi-círculo para execução do hino composto por Alfredo Keil, nas comemorações Henriquinas de 1894. Cliché da Foto. Santos, Travessa da Fábrica, 32, Porto
A Família Real na varanda do Quartel de Infantaria 18 
Comemorações Henriquinas de 1894. Cliché da Fotografia Santos
 Comemorações Henriquinas, 1894
Cortejo de Carros Alegóricos passando na Praça de Almeida Garrett
 Ao fundo vemos a Igreja dos Congregados
Na direita da imagem, o Mosteiro de S. Bento de Avé-Maria (actual Estação de S. Bento). De notar que na altura em que foram obtidos estes clichés, o edifício já havia sofrido uma "amputação" para alargamento da via, que lhe custou o pátio de entrada e uma pequena parte do edifício.
 O progredir do desfile
 O Povo assistindo
Cortejo Fluvial, no contexto das comemorações Henriquinas de 1894
Frente à Praça da Ribeira
Zona de Miragaia
Embarcação ancorada
Na Foz do Douro, sendo visível entre outros, a Igreja de S. João da Foz e o Farol de S. Miguel

 Ilustres a bordo
Auto da cerimónia de colocação da primeira pedra do Monumento ao Infante D. Henrique, na Praça com o mesmo nome, em 04-03-1894

 Imagens:
- in Arquivo Municipal do Porto

Batalhão de Sapadores Bombeiros do Porto.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

O acórdão municipal de 17 de Outubro de 1722 determinou a eleição de 100 homens para acudir aos incêndios, dando origem a uma organização de combate aos fogos na cidade do Porto. 
Com a reestruturação efectuada ao abrigo da Provisão de D. João V de 9 de Setembro de 1728, os efectivos duplicam, passando este corpo a designar-se Companhia do Fogo ou da Bomba. A partir de 1832 a Companhia da Bomba toma o nome de Companhia de Incêndios.
Em 1858, o Senado da Câmara cria o Pelouro dos Incêndios, o que vai permitir uma melhor articulação entre o município e os bombeiros.
Aprovado o novo regulamento e o quadro de pessoal que começou a vigorar a partir de Janeiro de 1888, a Companhia de Incêndios volta a mudar de nome para Corpo de Salvação Pública. Em Janeiro de 1941, com a entrada em vigor da nova organização dos serviços da Câmara Municipal do Porto, o Corpo de Salvação Pública evolui para Batalhão de Sapadores Bombeiros, ficando subordinado à Direcção dos Serviços de Urbanização e Obras.
Entre os séculos XVIII e XX os bombeiros municipais dispuseram de estações de apoio que estavam distribuídas pela cidade. A estação principal de comando estava situada no edifício junto aos Paços do Concelho.
Quartel de Bombeiros na Rua Gonçalo Cristóvão, em 1911
Um esplêndido salto em altura, por um Bombeiro Municipal do Porto, nas festas de beneficência realizadas na Parada do Quartel da Rua Gonçalo Cristóvão, no dia 5 de Julho [c. 1909-07]
Em 1904 iniciou-se a construção de um edifício para quartel dos bombeiros municipais, situado na Rua de Gonçalo Cristóvão. 
Homenagem a Guilherme Gomes Fernandes 
Destaque para o denominado "edifício-esqueleto" onde os Bombeiros faziam os seus treinos
A necessidade de instalações modernas levou à transferência para um novo quartel na Rua da Constituição que é inaugurado em 1959, recebendo o nome de Quartel Guilherme Gomes Fernandes.

Fontes:
- Arquivo nacional Torre do Tombo
- AMP

Praça de Touros da Rua da Alegria. (Porto)

sábado, 3 de maio de 2014

Praça de Touros da Rua da Alegria em 1909
Embora e de forma correcta, estejam mais associadas ao sul de Portugal, as touradas também tiveram a sua época de ouro na cidade do Porto. 
Na Invicta e povoações vizinhas, contaram-se inúmeros Tauródromos, alguns já aqui abordados em anteriores publicações.
A Praça de Touros da Rua da Alegria, foi inaugurada em 04 de Maio de 1902 e situava-se no término da Rua da Alegria, junto à Rua do Lima, tendo no entanto mantido a sua actividade por poucos anos.
Entrada dos Cavaleiros e um coche real, na arena, da antiga Praça de Touros da Alegria
Cliché da Phot.ª Guedes in AMP
Praça d'Alegria. BPI - Editor, Estrela Vermelha
Largada de um balão de ar quente na Praça de Touros da Rua da Alegria
Desapareceu antes de 1920, visto que foi nesse mesmo ano que se formou a Sociedade Tauromáquica Portuense, com o fim de construir uma grande praça de touros na Areosa. 

Imagem:
- Les temps Perdu
- Phot.ª Guedes
- Estrela Vermelha