Elevador do Município (Lisboa).

terça-feira, 11 de julho de 2023

Elevador do Município 
Cliché de Eduardo Portugal in afCML 

O Elevador da Biblioteca (também conhecido por Elevador de São Julião, ou Elevador do Município) foi inaugurado a 12 de Janeiro de 1897 e foi o primeiro elevador público vertical ao ar livre de Lisboa, constituindo assim um primeiro ensaio para o famoso Elevador de Santa Justa, construído pouco depois e inaugurado em 1901. Até essa data, só existia um elevador público vertical – o do Chiado, inaugurado em 1892 –, mas estava incluído dentro de um prédio. O seu projecto foi da autoria do engenheiro Raul Mesnier de Ponsard (1849-1914), mas o financiamento e a exploração ficaram a cargo de Ayres de Campos, então Conde do Ameal, à frente da Empresa do Ascensor Município-Bibliotheca.

Ao contrário dos ascensores do Lavra, da Glória, da Bica ou da Graça, sistematicamente em plano inclinado e aproveitando carros eléctricos sobre carris - chamados por isso ascensores e não propriamente elevadores, embora, na época, os termos fossem indistintamente utilizados -, o Elevador da Biblioteca era integralmente vertical e fazia uso de duas torres paralelas, unidas no topo por uma plataforma gradeada, da qual se obtinha uma panorâmica deslumbrante sobre parte dos telhados da Baixa Pombalina.

«Ascenseur public - "Pelourinho - Biblioteque"» Francisco Camacho (1833-1898) 1898 Papel fotográfico sobre cartão. Museu de Lisboa - MC.FOT.1908

A rapidez com que foi construído, ao abrigo de uma moda de mobilidade urbana que pretendia tornar mais cómodo o acesso entre várias áreas desniveladas da cidade, levou até a que fossem canalizados para a empreitada espaços particulares. No Largo de São Julião, para se aceder ao equipamento, era preciso entrar numa casa privada (n.º 13); e o mesmo acontecia no topo, ao chegar ao Largo da Academia Nacional de Belas Artes, onde era necessário passar pelo terraço do Palácio do Visconde de Coruche (também n.º 13).

A 28 de Janeiro de 1908, o elevador foi palco de uma intentona republicana comandada por Afonso Costa (1871-1937). A estratégia passava por eliminar João Franco (1855-1929), presidente do conselho de ministros que, ao tempo, governava na prática em ditadura. O equipamento era um ponto militar que se impunha controlar, mas o golpe estava condenado a falhar graças ao pré-aviso das forças governamentais, acabando os revoltosos por dispersar.

Doado à Câmara Municipal de Lisboa em 1915, o elevador acabou por ser desmantelado após 1926, num processo administrativo que teve duas hastas públicas. Em 1915, já os materiais se encontravam bastante oxidados e requeriam intervenção urgente. Mais de dez anos depois, a opção foi o seu total desmantelamento, não sem críticas na imprensa periódica, e, a seu tempo, a perda de memória na cidade actual, no exacto local onde este equipamento existiu.

Bibliografia: Museu de Lisboa

A viela do Cirne e o crime do homem salgado (Porto).

quinta-feira, 18 de maio de 2023

O Largo do Laranjal, que já abordamos em outras publicações, era atravessado pela rua do mesmo nome e limitado, ao norte, pela Viela do Cirne; ao sul, pela Rua de D. Pedro e Travessa dos Lavadouros; e a oriente, pela Cancela Velha. Em meados do século XIX, o Largo do Laranjal era alumiado durante a noite apenas por dois lampiões de azeite. Soa a algo bucólico, mas na prática tornava o local soturno e pouco acolhedor. 

Rua do Laranjal, vendo-se a igreja da Trindade, c.1900 Cliché da Casa Alvão 

Neste mesmo Largo do Laranjal ergueu-se em Fevereiro de 1854 um chafariz vindo do Largo de S. Domingos, mais tarde seria recolhido nos jardins do SMAS de onde retornaria, mais tarde ainda, para o actual Largo da Trindade. 
Largo do Laranjal e Cancela Velha 
Largo da Trindade, local aproximado do antigo Largo do Laranjal, vendo-se o palacete da "Ferreirinha", já demolido. Cliché da Casa Alvão 


O tortuoso caminho da obscura Viela do Cirne recortava-se nas ruas do Laranjal, de D. Pedro e da Cancela Velha. No dia 13 de Março de 1825 foi encontrado na viela um barril cheio da sal. No interior do barril e mergulhado no sal, estava o cadáver desmembrado de um homem. Este crime foi muito debatido na época, com a agravante de nunca ter sido explicado, nem nunca se terem encontrado os responsáveis pelo mesmo.  Citando:
"Foi esta Viela do Cirne, “que vai da Cancela Velha ter ao cimo da Rua do Laranjal, à esquina do Palácio Ferreirinha, no Largo da Trindade”, teatro de um horroroso crime que Pinto Leal narra pormenorizadamente no seu “Portugal Antigo e Moderno. Ficou conhecido pelo crime do homem salgado por a vítima ter sido encontrada, em 13 de Marco de 1825, dentro de um grande barril cheio de sal – crime que fez a maior sensação na cidade."

In jornal “O Primeiro de Janeiro”, rubrica “Toponímia Portuense”, 05-08-1975