Ao contrário dos ascensores do Lavra, da Glória, da Bica ou da Graça, sistematicamente em plano inclinado e aproveitando carros eléctricos sobre carris - chamados por isso ascensores e não propriamente elevadores, embora, na época, os termos fossem indistintamente utilizados -, o Elevador da Biblioteca era integralmente vertical e fazia uso de duas torres paralelas, unidas no topo por uma plataforma gradeada, da qual se obtinha uma panorâmica deslumbrante sobre parte dos telhados da Baixa Pombalina.
«Ascenseur public - "Pelourinho - Biblioteque"» Francisco Camacho (1833-1898) 1898 Papel fotográfico sobre cartão. Museu de Lisboa - MC.FOT.1908
A rapidez com que foi construído, ao abrigo de uma moda de mobilidade urbana que pretendia tornar mais cómodo o acesso entre várias áreas desniveladas da cidade, levou até a que fossem canalizados para a empreitada espaços particulares. No Largo de São Julião, para se aceder ao equipamento, era preciso entrar numa casa privada (n.º 13); e o mesmo acontecia no topo, ao chegar ao Largo da Academia Nacional de Belas Artes, onde era necessário passar pelo terraço do Palácio do Visconde de Coruche (também n.º 13).
A 28 de Janeiro de 1908, o elevador foi palco de uma intentona republicana comandada por Afonso Costa (1871-1937). A estratégia passava por eliminar João Franco (1855-1929), presidente do conselho de ministros que, ao tempo, governava na prática em ditadura. O equipamento era um ponto militar que se impunha controlar, mas o golpe estava condenado a falhar graças ao pré-aviso das forças governamentais, acabando os revoltosos por dispersar.
Doado à Câmara Municipal de Lisboa em 1915, o elevador acabou por ser desmantelado após 1926, num processo administrativo que teve duas hastas públicas. Em 1915, já os materiais se encontravam bastante oxidados e requeriam intervenção urgente. Mais de dez anos depois, a opção foi o seu total desmantelamento, não sem críticas na imprensa periódica, e, a seu tempo, a perda de memória na cidade actual, no exacto local onde este equipamento existiu.
Bibliografia: Museu de Lisboa
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