Honra de Barbosa. (Rans, Penafiel)

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Honra de Barbosa. Entre os edifícios das antigas câmara e cadeia, vemos o pelourinho. Atrás do pelourinho o solar, onde sobressai a torre ameada
Muito resumidamente, pode-se descrever a "Honra de Barbosa" como um conjunto formado por solar, torre, residência, pelourinho, prisão, fonte e capela.
A residência senhorial com torre ameada, foi fundada no século XII por Mem Moniz de Ribadouro. 
A residência apresenta um corpo construído de planta composta em U que integra ao centro a torre ameada, reconstruída entre os séculos XV e XVI, de planta quadrangular, dividida em dois pisos e rematada por merlões manuelinos. No piso superior da torre destaca-se uma janela de lintel manuelino, sobre a qual existe um pequeno cordão que circunda o edifício e de onde sobressaem quatro gárgulas em forma de canhão. No perímetro da Honra existe ainda a capela do Menino Deus, do século XVII, a antiga Câmara, a cadeia e o pelourinho, com remate em pinha, símbolo da sua autonomia e jurisdição própria.
 Câmara, cadeia e o pelourinho
Segundo informações do IPAAR, a actual configuração da torre da Barbosa poderá esconder um dos mais antigos testemunhos de arquitectura militar medieval no nosso país. A tradição tem apontado o ano de 866 como o da construção de uma primitiva estrutura militar neste local, na sequência da doação do lugar de Bordalo (topónimo que tem sido interpretado como o mesmo a que corresponde a actual torre), feita por Afonso III das Astúrias ao conde D. Hermenegildo. No entanto, até ao momento não se identificaram quaisquer vestígios dessa primitiva estrutura e só um programa de intervenção arqueológica o poderá esclarecer.
No século XII, possuímos informações mais seguras acerca do monumento. Reinando D. Afonso Henriques, a Terra de Penafiel esteve na posse de D. Mem Moniz (irmão de D. Egas Moniz), nobre a que se atribui a construção de um paço fortificado no local. Por testamento, a propriedade passou a sua filha, D. Teresa Mendes e, por casamento desta, para a mão de D. Sancho Nunes de Barbosa, o primeiro nobre a usar este apelido no nosso país e a cuja existência se deve a alteração do topónimo.
Infelizmente, dessa fase românica da propriedade nenhum testemunho material chegou até hoje, mas a sua antiguidade é atestada logo no reinado de D. Dinis. Nas Inquirições então efectuadas, a quinta é mencionada como “honra de Barbosa Velha”, certamente por contraste com outras propriedades nas imediações de instituição mais recente.
O aspecto actual da torre medieval data de meados do século XIV e, posteriormente, de duas reformas levadas a cabo nos reinados de D. João I e de D. Manuel. Em 1334, a honra foi repartida por vários herdeiros, cabendo a parte que incluía a torre senhorial a D. Leonor Mendes e a seu marido, D. Martim Anes de Sousa. Com a subida ao poder da nova dinastia de Avis, a propriedade foi doada aos Malafaias e Azevedo, que a transformaram em solar familiar. Datará destas duas alterações de posse a construção que actualmente subsiste, tendo sido mais difundida a hipótese que a situa no século XV, embora as suas características a pareçam colocar um pouco mais atrás no tempo.
A torre é uma estrutura de planta quadrangular, de dois andares marcados por vãos abertos nos alçados, e encimada por uma linha de ameias a toda a sua volta. O “aparato denso dos muros”, que aparecem aqui “desprovidos de aberturas”, confere-lhe um aspecto mais arcaico que aquele que seria de supor numa construção do século XV, embora esta seja uma convicção com base em analogias estilísticas, não se alicerçando em datações absolutas.
No reinado de D. Manuel, a torre foi objecto de uma modernização, cujo alcance é ainda mal conhecido. As janelas do piso superior foram modificadas, para albergar um arco polilobado abatido de perfil manuelino. Dessa campanha, deverão datar também as ameias chanfradas que rodeiam o edifício e as gárgulas de canhão dispostas nos seus ângulos, aspectos que “denunciam a sensibilidade da época manuelina”.
Por essa mesma altura, ter-se-ão dado importantes transformações nas partes habitacionais, alterações que a época moderna se encarregariam de aprofundar. Actualmente, um corpo de dois andares, mas bastante mais baixo que a torre, adossa-se-lhe a uma das faces laterais e possui planta em L. A entrada principal é no piso nobre do corpo menor, com patim alpendrado e acesso através de uma escadaria paralela ao corpo maior. No piso térreo, abrem-se várias portas e janelas, de carácter utilitário e de vocação agrícola e de serviço. O piso superior é fenestrado regularmente por janelas em guilhotina, elementos que conferem clara monumentalidade e carácter nobre a esta parte do conjunto.
Outras transformações foram, entretanto realizadas, tendo a quinta chegado aos nossos dias como uma soma de múltiplas fases construtivas, cujo estudo rigoroso se impõe como única via de melhor se conhecer a sua história.
 Pelourinho, símbolo de autonomia
 Capela do Menino Deus (Natividade)
 Sobre a porta da capela, a data de 1698
Lenda de Rans:
«Há muitos anos havia no lugar de Lordasa a freguesia de Rans, uma presa de água onde se juntava a agua que servia para regar os campos. Nessa presa havia muitas rãs que cantavam muito, e de noite ouviam-se a grande distância. Conta-se a que a princesa Teresa passava junto de uma presa, quando vinha para a Honra de Barbosa. Ela gostava muito de ouvir as rãs a cantar e deu o nome a esta freguesia. O nome da freguesia sofreu algumas alterações e hoje tem o nome Rans».

Fontes:
- IPAAR (DGPC)
- CMP
- DGEMN
Imagens:
- Alexandre Silva

Hotel Boa-Vista. (Porto)

Hotel Boa-Vista
Como muitos já o saberão, este Hotel felizmente não desapareceu. É facto que sofreu grandes modificações (indispensáveis com o decorrer das décadas), começando pela sua dimensão, que actualmente é bastante superior aquela apresentada nestas imagens.
 Hotel Boa-Vista na década de 40 do séc. XX
O Hotel Boa-Vista  foi fundado em 1835, sendo nas décadas de 60 e 70 do séc. XIX um dos locais mais frequentados pelos banhistas das praias adjacentes. Este Hotel possuía um restaurante e uma boa sala de bilhares que atraíam muitos clientes, principalmente no Verão.
Se desejar ver o Hotel Boa-Vista com o seu aspecto actual, clique AQUI

Imagens:
- AMP
- BPI (Digitalização)

Carvalhido. (Porto)

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Carvalhido. Cliché de 1930 in AMP
O Carvalhido deve o seu nome à concentração de soutos de carvalheiras. Desconhece-se a data de origem deste topónimo. Sabe-se que era um grande conjunto de propriedades rústicas foreiro à Misericórdia do Porto, pertencente aos Noronhas, da vizinha Quinta da Prelada, e como tal o encontramos denominado numa carta de demarcação com o vizinho Casal das Vendas, em 1638.
Em 18 de Junho de 1692 a Misericórdia fez Prazo do Carvalhido a D. Garcia Martins de Mesquita e Noronha, como sucessor de seu pai D. Bartolomeu Martins de Mesquita e Noronha e D. Manuel Martins de Mesquita e Noronha.
Igreja do Carvalhido nos anos 50 - Cliché de Teófilo Rego
Data de 1738 a construção do Cruzeiro do Senhor do Padrão que saúda os viajantes que seguiam pelo caminho para Norte, nomeadamente para Santiago de Compostela. Por seu lado, a capela do Carvalhido é pela primeira vez mencionada em registo paroquial de Santo Ildefonso de 1760. Começou por ter como padroeira Nossa Senhora da Anunciação e o Espírito Santo.
O lugar do Carvalhido surge na "Planta das Linhas do Porto", do coronel Arbués Moreira, de 1833, a propósito das posições de liberais e absolutistas durante o Cerco do Porto. E foi precisamente em honra dos hostes de D. Pedro que a Câmara Municipal do Porto, em sessão de 28 de Outubro de 1835, decretou que a Praça do Carvalhido se passasse a denominar Praça do Exército Libertador.
No inventário que se fez em 1904, por morte de D. Francisco de Noronha e Meneses, da Prelada, foi descrito o Casal do Carvalhido, com sua morada de casas sobradas, palheiro, aido e a Rua da Prelada dos Castelos e rua particular, do nascente com a Rua Nova de Paranhos, sendo avaliado em nove contos de réis. Esta Rua Nova de Paranhos é a actual Rua do Carvalhido.
A Paróquia do Coração de Jesus do Carvalhido foi criada por provisão do bispo do Porto, António Augusto de Castro Meireles, de 24 de Dezembro de 1940. Serviu de primeira igreja paroquial do Carvalhido a capela que está na Praça do Exército Libertador e que pertencia, desde 1886, à Confraria de Nossa Senhora da Conceição. Só em 1969 se pôde celebrar a primeira missa na nova igreja, projecto do arquitecto Luís Cunha. Esta nova igreja é consagrada ao Sagrado Coração de Jesus, Maria e José.
Igreja do Carvalhido nos anos 50 - Cliché de Teófilo Rego
O Carvalhido em 1974. Cliché de autor desconhecido

Fontes parciais:
- Comunidade Paroquial do Carvalhido
- Comunidade do Monte Pedral - Diocese do Porto
- Wikipédia 

Escadaria exterior da Igreja dos Congregados. (Porto)

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Igreja dos Congregados, num cliché obtido a partir do demolido Mosteiro de São Bento de Avé-Maria
O convento dos frades de S. Filipe de Nery, com janelas voltadas para a antiga Praça de D. Pedro (actual Praça da Liberdade), desapareceu quase por completo. Dele apenas sobrou o templo da invocação de Santo António e ainda hoje conhecido por Igreja dos Congregados, com a fachada voltada para a Praça de Almeida Garrett onde em tempos passados se localizou a velha Porta de Carros (entrada no Burgo) da conhecida Muralha Fernandina.
Praça de D. Pedro, vista da entrada da rua dos Clérigos
Atrás da estátua equestre do Rei, vemos o palacete que albergou os Paços do Concelho
Na direita da imagem, a igreja dos Congregados
Sobre a escadaria exterior da igreja, "misteriosamente desaparecida" e já muitas vezes questionada pelos nossos leitores, falaremos então agora um pouco. 
Começando pelo fim, tenhamos desde já a consciência que esta escadaria não desapareceu... pelo menos por completo. Tiraram-na da parte de fora da fachada da igreja e reconstruíram-na, embora em escala menor, na parte de dentro da porta principal. A razão principal é simples: - Uma questão de topografia.
O pavimento da praça variou de nível ao longo dos anos, o que forçou o desaparecimento das primitivas escadas que davam acesso à porta principal da igreja.
Cliché da actual praça Almeida Garrett, obtido do término da extinta praça de D. Pedro
Na esquerda vemos a igreja dos Congregados, com a sua antiga escadaria exterior. Ao centro da imagem, vemos a rua de Santo António (31 de Janeiro) à direita da qual visualizamos, a actual rua da Madeira
Segundo uma planta, desenhada por D. José Champalimaud de Nussane em 1790, verifica-se com facilidade que as primitivas escadas eram constituídas por degraus paralelos à fachada como também o demonstra o artista J. C. Vila Nova num dos seus belos desenhos da colecção que publicou em 1834. Olhando atentamente o desenho de Vila Nova verifica-se que eram 7 ou 8 os degraus em frente à porta principal do templo. Chega-se à mesma conclusão olhando para um belo desenho de autor anónimo que existe (pelo menos estava lá há anos) no Museu Nacional de Soares dos Reis e que nos mostra um aspecto do "Largo da Feira de S. Bento e Porta de Carros nos finais do século XVIII".
Praça Almeida Garrett vista da Rua de Santo António
Na direita da imagem vemos o início da Rua do Bonjardim e a Igreja dos Congregados
 Palácio das Cardosas, vendo-se a rua dos Clérigos
Vendedeiras e transeuntes na Praça de Almeida Garrett, entre a igreja dos Congregados, que ainda apresentava a sua escadaria exterior e a gare provisória, da Estação de S. Bento, circa 1900
Carruagem dos bombeiros, descendo da Praça de Almeida Garrett, durante as cheias de 1909
Igreja dos Congregados. A estreita artéria na direita da imagem, era o início da rua do Bonjardim, antes da abertura da rua Sá da Bandeira
Na Planta de 1839 aparecem umas escadas diferentes daquelas a que nos temos referido. Ocupam um espaço mais reduzido do que as primitivas mas ficavam sobre o passeio estorvando, dessa maneira, o trânsito que por essa época era já considerável. A diferença mais acentuada em relação ás anteriores era a de que, enquanto as escadas primitivas apareciam na situação de paralelas a fachada, na Planta de 1839 eram perpendiculares. Mantiveram-se perpendiculares até 1913, ano em que foram definitivamente retiradas e substituídas por outras, as actuais, metidas dentro do corpo da própria igreja, conforme projecto aprovado em sessão da Câmara de 8 de maio daquele ano.
Igreja dos Congregados, sem a escadaria exterior. Cliché de Domingos Alvão

Fontes parciais:
- CMP
- Jornal de Notícias
- AMP
- Alvão

Viela da Polé. (Porto)

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Praça de D. Pedro. Primeiros anos da República. Vemos  a extinta Viela da Polé do lado direito da imagem, no seguimento das escadas. Cliché de Aurélio da Paz dos Reis
Sobre esta viela, escrevia Alberto Pimentel em 1913: "a antiga viela da Polé, hoje entaipada, em atenção à higiene pública, por duas portas de ferro, numa e noutra extremidade".
A Viela da Polé, era uma travessia estreita existente no meio da frente urbana poente da praça, ligando esta à Rua do Almada (antiga Rua das Hortas). Era um local frequentado por ladrões e prostitutas.
Praça de D. Pedro, vendo-se os antigos Paços do Concelho
Na esquerda do cliché (não visível) situava-se a antiga Viela da Polé
Derrube dos antigos Paços do Concelho e demais casario envolvente, para a abertura da Avenida dos Aliados 
É visível a Viela da Polé à esquerda do eléctrico. Cliché de Aurélio Maria de Matos Lobão (cedido a este blogue)
Quando se iniciou a abertura da Avenida dos Aliados, com o derrube do casario existente e a edificação de novos prédios mais modernos e majestosos, o Banco de Portugal adquiriu vários imóveis e terrenos no local, com o objectivo de erguer aí, a sua nova delegação no Porto. As aquisições englobaram a velha viela, o que permitiu aumentar ainda mais a fachada do Banco.
S. Gens. Pedras para edificar o Banco de Portugal
Construção do Banco de Portugal na Praça da Liberdade - 1923

Imagens:
- Aurélio da Paz dos Reis
Aurélio Maria de Matos Lobão
- AMP