Rua das Congostas. (Porto)

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Já a abordamos, quando falamos da Rua do Infante e da abertura do Túnel da Ribeira, bem como da Planta da Rua Mousinho (Mouzinho) da Silveira.
Vamos no entanto, nesta publicação, aprofundar mais o historial deste local.
A abertura da Rua Mouzinho da Silveira veio, como aconteceu em vários outros casos, na cidade do Porto, destruir muito do casario antigo e alguns arruamentos. Esta rua seria construída em duas fases:
- Na primeira fase, a rua foi rasgada desde São Bento até ao cimo da Rua de S. João, terminando onde se localizava a Capela e o Hospital de S. Cris­pim e S. Crispiniano (como sabem, a capela está actualmente na actual Rua de Santos Pousada, próximo da Praça Rainha D. Amélia).
- Na segunda fase, a Rua Mouzinho da Silveira fez literalmente desaparecer a velha Rua das Congostas, tantas vezes citada por Ca­milo Castelo Branco, em especial seu romance "O sangue". Esta antiga rua, fazia a ligação entre o Largo de São Domingos e a Alfândega Velha. 
"Congosta" tende a designar um "caminho estreito e comprido, mais ou menos decli­voso" ou um "caminho estreito entre paredes e mais ou menos em declive."
Cliché obtido provavelmente do local onde se ergue o Palácio da Bolsa
Esta zona, seria futuramente ocupada pela Praça do Infante 
As traseiras do casario, visíveis na imagem, pertenciam às casas da Rua das Congostas, desaparecida durante a segunda fase de abertura da Rua Mouzinho da Silveira
Segundo Germano Silva; "começava essa velha artéria, se assim se pode dizer, junto da antiga Rua Nova, de­pois dos Ingleses e hoje do Infante D. Hen­rique, e acabava, digamos assim, junto à ponte de S. Domingos, ou seja, à entrada do actual Largo de S. Domingos, para quem nele entra pela Rua de Mouzinho da Silveira".
Observação: Para a abertura da Rua foi necessário cobrir o rio da Vila.
"A ponte existia. Atravessava o medieval rio da Vila para permitir o trânsito de pes­soas e animais entre aquele largo e a antiga Rua de S. Crispim, que ficava do outro lado, mais ou menos ao cimo da Rua de S. João, e à entrada da Rua da Bainharia."
Juntamente com o inúmero casario destruído, foi também destruída a monumental Fonte das Congostas e o Solar à qual a mesma estava encostada.
 Fonte das Congostas (demolida) 
Possuía uma frontaria a lembrar um retábulo e em que estava esculpido o escudo real adoptado por D. João II. 
Tinha duas bicas. Uma bica onde se abasteciam os vizinhos e outra destinada exclusivamente aos aguadeiros.
Quando da abertura da Rua Mouzinho da Silveira, havia a ideia de manter, no novo arruamento, o nome "Congostas"... mas a ideia não vingou. Assim, por volta do ano de 1875 (o traçado, foi decidido em sessão camarária de 17 de Junho de 1875) este antiquíssimo arruamento, desapareceria da cidade do Porto.

Imagens:
- In "O Tripeiro" 
- AHMP

O Natal do Sinaleiro.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Como muitos o saberão, já abordamos este assunto várias vezes ao longo dos anos, na nossa página de divulgação do blogue, existente no "facebook". 
Achamos presentemente que o assunto tem interesse suficiente, para integrar uma publicação no próprio blogue.
Natal do Sinaleiro em Lisboa. 24-12-1935. Imagem in ANTT
O Sinaleiro (ou Polícia-Sinaleiro) foi uma profissão relevante, que com o evoluir da tecnologia desapareceu (ficaram os semáforos) e muito recentemente foi ligeiramente reabilitada, mas acreditamos, que apenas como uma espécie de "figura decorativa" ou evocativa de uma realidade passada.
Foi um hábito fazer ofertas de Natal a Polícias-Sinaleiro, principalmente em Lisboa. 
Tal atitude foi muito promovida pelo próprio ACP na década de 30 do séc. XX. De facto o Automóvel Clube de Portugal lançou nos anos 30, com o apoio de algumas empresas, uma campanha nacional intitulada "Natal do Sinaleiro", que se tornou muito popular nas décadas seguintes, com o apoio do Jornal "Diário de Notícias" e de o Jornal "O Século". As ofertas dos cidadãos eram de todo o tipo: Garrafas de azeite, porcos, bacalhaus, garrafões de vinho, sacos de batatas, etc. 
Natal do Sinaleiro em frente dos armazéns do Chiado 
Imagem: Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Natal do Sinaleiro. Promovido pelo ACP. Cais do Sodré

Arco do Triunfo da Rua Augusta. (Lisboa)

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

É verdade. O famoso arco triunfal situado na parte Norte da Praça do Comércio, sobre a Rua Augusta, em Lisboa, não desapareceu, pelo menos aquele que presentemente lá se encontra, o que muitas pessoas não sabem, é que este mesmo arco, não é o original.
A construção do arco começou cerca de 20 anos após o terramoto de 1755, mais concretamente em 1775, mas esta primeira versão, que poderá não ter sido concluída, viria a ser demolida em 1777, após o início do reinado de D. Maria I e a demissão do Marquês de Pombal.
Em 1873, recomeçou a edificação do arco segundo o projecto do arquitecto Veríssimo José da Costa, que remonta a 1843/44, tendo ficado as obras concluídas em 1875.
Lisboa - Arco da Rua Augusta 
Albumina datada de 1862(?)*, com autoria do fotógrafo e daguerreótopista Wenceslau Cifka
Na parte superior do arco, foram incluídas esculturas de Célestin Anatole Calmels, enquanto num plano inferior se incluiriam esculturas de Vítor Bastos. As esculturas de Calmels representam a Glória, coroando o Génio e o Valor. 
As esculturas de Vítor Bastos representam Nuno Álvares Pereira, Viriato, Vasco da Gama e o Marquês de Pombal. O aparelho que serviu para transportar as pesadas colunas encontra-se no Museu Militar, mesmo ao lado.
Estátua equestre de Dom José I e o Arco da Rua Augusta em construção in AML
Rua Augusta em 1890
No horizonte vemos o arco já concluído 
*Nota: Por razões óbvias, questionamos a data exacta da Albumina do fotógrafo e daguerreótopista Wenceslau Cifka, mas por vezes, temos de nos cingir às fontes informativas oficiais.

Colégio Nossa Senhora da Estrela. (Porto)

sábado, 14 de novembro de 2015

O Colégio Nossa Senhora da Estrela, não desapareceu propriamente dito, mas mudou de nome por diversas vezes e foi muito alterado e ampliado, ao longo de muitas décadas.
 Colégio Nossa Senhora da Estrela, Colégio João de Deus, Escola Augusto Gil
Com entradas pela Rua de Santa Catarina n.º 788 e pela Rua da Alegria n. º 200, o colégio era feminino e funcionava em regimes de internato, semi-internato e externato, desde o séc. XIX.

Elogios na imprensa da época:
    (…) em logar salubre, e instalado em edifício amplo hygienico, com uma direcção intelligente e maternal, e um corpo docente escolhido e competentíssimo, observando-se com escrúpulos todos os ensinamentos moraes, este colégio cujo conceito está feito, deve proferido para os que desejarem que as suas filhas tenham uma educação esmerada.” 
- In Jornal A Pátria, 09 de Novembro de 1917

Colégio Nossa Senhora da Estrela. Imagem in; Espólio da Escola E.B. 2,3 Augusto Gil
Grupo de alunas do Colégio Nossa Senhora da Estrela
Em 1928, o Colégio Nossa Senhora da Estrela, seria convertido num colégio masculino, que seria denominado por Colégio João de Deus, transformando-se novamente, anos mais tarde, em 1973, na Escola Preparatória Augusto Gil e posteriormente na Escola E.B. 2,3 Augusto Gil.

Rua Ocidental do Bolhão. (Porto)

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Rua Ocidental do Bolhão (desaparecida). Futuro prolongamento da rua de Sá da Bandeira
Em 2010 falamos do Mercado do Bolhão. Pois a denominada Rua Ocidental do Bolhão, era assim chamada, justamente por ladear a parte ocidental do mercado com o mesmo nome. 
Esta rua ocupava a zona aproximada entre a Rua Formosa e a Rua Fernandes Tomás.
No casario térreo da esquerda, ficavam as cocheiras do "Americano" da Cª. Carris de Ferro do Porto e uma loja de flanelas
Os muares eram trazidos para o início da rua e aí trocados pelos que deixavam o serviço. A Rua Ocidental do Bolhão iria desaparecer com a abertura daquele que podemos classificar pelo "terceiro troço da Rua de Sá da Bandeira", só terminado em 1911. Justamente aquela parte que se localiza entre a Rua Formosa e a Rua Fernandes Tomás.
Empresa de materiais de construção de António Augusto Soares, 
«A Construtora», no ângulo da Rua e Travessa de Sá da Bandeira

Imagens:
- AMP

Vendedeiras da Cordoaria (Porto)

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Já aqui falamos do desaparecido Mercado do Anjo, bem como do igualmente demolido Mercado do Peixe, (clique nos dois links) ambos localizados, muito próximos um do outro.
No entanto havia quem fizesse negócio (ou pelo menos o fosse tentando) entre estes dois mercados oficiais.
Do lado Norte da Cordoaria, perto da Cadeia da Relação e actual C.P.F. encontravam-se muitas vendedeiras a fazer concorrência ao comerciantes do Mercado do Anjo. 
Vendedeiras de castanhas em frente da Torre dos Clérigos, 1912 in AMP
Vendedeiras  no "Mercado da Cordoaria", perto do antigo Mercado do Anjo. Anos 30-40
Vendedeiras no antigo mercado da Cordoaria, nos anos 30-40 do séc. XX Cliché colorido

O verdadeiro "Pica do 7". O Revisor de Eléctrico.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Revisores. O verdadeiro "Pica do 7" e não só...
Alguns dos nossos estimados leitores, ainda se lembrarão por certo dos antigos Revisores de Eléctricos, troleis e autocarros, vulgarmente denominados pelos "Pica", figura que recentemente serviu de inspiração ao tema "Pica do 7", escrito por Miguel Araújo e cantado por António Zambujo.
Os Revisores, usavam bonitas e robustas bolsas em pele para guardar o dinheiro dos bilhetes vendidos. Eram carteiras que colocavam à tiracolo e que envelheciam com o tempo, ficando mais escuras, marcadas pelas mãos dos que as usavam. Andavam também com uma espécie de alicate, o obliterador, que era o que permitia "picar" o bilhete dos viajantes, conferindo assim a sua validade e autenticidade.
Eléctrico n.º 115 da Linha 7
Bilhete de eléctrico, já obliterado pelo "Pica"
Eléctrico n.º 185 da Linha 7, com destino a S. Mamede
A Linha 7, partia da Praça da Liberdade, no Porto, para S. Mamede, mais exactamente até à Ponte da Pedra, sendo desactivada na década de 70 do séc. XX. Paradoxalmente o video de António Zambujo, foi realizado em Lisboa, o que não diminuiu em nada a sua beleza, nem o valor da música.
O eléctrico chega a S. Mamede no dia 19 de Fevereiro de 1910
Eléctrico da Linha 10, com destino a Rio-Tinto 
De notar a presença dos Revisores (o 'Pica') entre os transeuntes
António Zambujo - Pica Do 7

Imagens:
- Museu do Carro Eléctrico 

Arco de Santo André. (Lisboa)

Arco de Santo André. Demolido em Junho de 1913
O Arco de Santo André localizava-se ao cimo da calçada de Santo André e era uma das portas da antiga Cerca Fernandina que, em 1373, Dom Fernando mandou construir para proteger a cidade. 
O Arco situava-se encostado ao Palácio dos Condes da Figueira, edifício datado de 1578 e edificado por D. João de Mendonça, com licença de D. João II, cujo brasão ainda podemos apreciar no seu portal seiscentista. 
Arco de Santo André, memória das 37 Portas da Cerca Fernandina, seria lamentavelmente demolido em Junho de 1913, para facilitar a circulação dos eléctricos.
Arco de Santo André e o Palácio dos Condes da Figueira
Perspectivas do Arco de Santo André
 Arco de Santo André, antes de 1913, visto do término da Costa do Castelo
Cliché de Joshua Benoliel in AML

Imagens:

- AML

Estação Ferroviária da Senhora da Hora.

sábado, 7 de novembro de 2015

Estação Ferroviária da Senhora da Hora. Digitalização. Cliché original: Autor desconhecido
Originalmente denominada de Vila de Bouças, a Estação Ferroviária da Senhora da Hora, entrou ao serviço em 01 de Outubro de 1875, sendo uma interface ferroviária da Linha do Porto à Póvoa e Famalicão, que funcionava como entroncamento com a Linha de Guimarães e o Ramal de Matosinhos, e que servia a localidade de Senhora da Hora, no Concelho de Matosinhos, em Portugal. 
Estação da Senhora da Hora - Locomotiva com destino à Póvoa
Locomotiva na Senhora da Hora. Cliché de autor desconhecido
Com o fim da circulação do comboio, a Estação foi encerrada em 2001, tendo as antigas dependências sido integradas na Estação Senhora da Hora do Metro do Porto.

O Rinoceronte de Dürer / O Rinoceronte de D. Manuel I.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Xilogravura de Albrecht Dürer
"Em Maio do ano de 1515, depois do nascimento de Cristo, trouxeram ao poderosíssimo Rei de Portugal, Manuel, em Lisboa, vindo da Índia um animal vivo chamado rinoceronte. Aqui se encontra desenhada toda a sua figura. Tem a cor duma tartaruga salpicada, é enormemente maciço e coberto de escamas. E do tamanho de um elefante, mas mais baixo, e muitíssimo capaz de se defender. Na parte anterior do focinho tem um corno aguçado e forte, que afia logo que se encontre ao pé de pedras. O abrutalhado animal é inimigo mortal do elefante, que lhe tem um medo tremendo. Quando se aproxima corre o animal metendo a cabeça entre as patas dianteiras do elefante, do que se não pode defender, por o animal estar tão bem armado que o elefante nada pode fazer; rasga e abre-lhe a barriga, dando cabo dele. Dizem também que o rinoceronte é lesto alegre e manhoso". 

Tradução da legenda da xilogravura de Dürer

Em 1514 Afonso de Albuquerque foi finalmente autorizado, pelo rei D. Manuel I, a enviar uma embaixada ao rei de Cambaia, solicitando autorização para construir uma fortaleza em Diu, cidade situada no reino de Cambaia, governado pelo rei Modofar. O rei Modofar não cedeu ao pedido mas, apreciando as oferendas recebidas, deu a Afonso de Albuquerque um rinoceronte. Como era impossível mantê-lo em Goa, Afonso de Albuquerque decidiu enviar o rinoceronte ao rei D. Manuel I, como presente.
A chegada do rinoceronte a Lisboa causou muito alarido e curiosidade, não só em Portugal como no resto da Europa devido, sobretudo, ao seu aspecto - o rinoceronte pesava mais de duas toneladas e tinha uma pele espessa e rugosa formando três grandes pregas que lhe davam a estranha aparência de usar uma armadura. Era o primeiro rinoceronte vivo em solo europeu desde o séc. III. O rinoceronte ficou instalado no parque do Palácio da Ribeira. Lembrando ao rei as histórias romanas sobre o ódio mortal entre elefantes e rinocerontes, D. Manuel I tinha agora a possibilidade de verificar se tal era verdade. 
Foi então organizado um combate entre os dois animais, a que assistiram o rei, a rainha e as suas damas de companhia, bem como muitos outros convidados importantes. Quando os dois animais se encontraram frente a frente, o elefante, que parecia ser o mais nervoso, entrou em pânico e fugiu mal o rinoceronte se começou a aproximar.
Em 1515, o rei D. Manuel I decidiu organizar uma nova embaixada extraordinária a Roma, para garantir o apoio do Papa, na sequência dos crescentes sucessos dos navegadores portugueses no Oriente, e com vista a consolidar o prestígio internacional do reino. Entre as ofertas encontrava-se o rinoceronte, que usava uma coleira em veludo verde com rosas e cravos dourados. A nau partiu de Lisboa em Dezembro de 1515. Ao largo de Génova surgiu uma violenta tempestade, tendo o navio afundado, perecendo toda a tripulação. O rinoceronte, embora soubesse nadar, acabou por se afogar, por causa das amarras. No entanto, foi possível recuperar o seu corpo. Ao saber da notícia, D. Manuel I ordenou que o rinoceronte fosse empalhado e enviado ao Papa, como se nada tivesse acontecido. Mas este animal não fez tanto sucesso junto do Papa como anteriormente tinha feito o elefante!
Em Portugal o rinoceronte foi imortalizado, encontrando-se representado numa das guaritas da Torre de Belém e também no Mosteiro de Alcobaça, onde existe uma representação naturalista do animal de corpo inteiro, com função de gárgula, no Claustro do Silêncio. 
O animal também foi desenhado pelo grande mestre impressor Albrecht Dürer, baseando-se numa carta  de um mercador português que continha um desenho do rinoceronte.

Fontes:
- torrebelem.pt
- cvc.instituto-camoes.pt

Quinta e Casa da Picota. (Alvarenga)

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Casa da Picota
Alguns dos habitantes locais e visitantes, já a classificam como "a casa mais assombrada de Alvarenga" desde há muitos anos, mas se nada tem de assombrada, muito tem de abandonada. 
A quinta da Picota e a casa com o mesmo nome pertenceram a um homem que está considerado como benfeitor da região.
De facto, esta propriedade pertenceu a um médico e sua esposa. O Dr. Manuel Teixeira de Brito, nascido em 1910 e que viria a falecer em 1974.
Sem filhos, a propriedade teria sido vendida numa espécie de «sistema por cotas» em que inúmeras pessoas da região participaram e adquiriram assim, em conjunto, esta propriedade. 
Neste contexto, sendo "de todos e de ninguém", a casa ainda serviu para propósitos secundários, durante anos, sem no entanto escapar a uma degradação constante, inevitável com o passar do tempo, que, acrescida de uma total falta de obras de preservação conduziram o imóvel a uma ruína total, pouco mais restando actualmente, que as paredes exteriores.
Recentemente, leu-se na comunicação social, que a Câmara de Arouca iria adquirir a Quinta da Picota, na freguesia de Alvarenga, para aí criar uma quinta-museu da raça arouquesa destinada a promover o conhecimento sobre aquela espécie bovina autóctone e a sua gastronomia própria. Tendo em declarações à Lusa, o actual presidente da autarquia, José Artur Neves, explicado que o projecto integra a área de influência dos Passadiços do Paiva e deverá funcionar com complemento turístico desse percurso a partir de 2017.
O investimento previsto para a reconversão da Quinta da Picota é na ordem dos 500 mil euros e deverá ser candidatado a financiamento pelo PROVER - Programa de Desenvolvimento Rural ou pelo PEDU - Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano. 
Resta-nos apenas agora ver, se as coisas, são assim tão simples na prática, como o parecem ser na teoria.

Quiosque de Sebastião Vieira de Magalhães, "O Correligionário". (Porto)

Porto - Praça de D. Pedro, vendo-se o edifício dos Paços do Concelho
Em primeiro plano, vemos o quiosque do "Correligionário". Cliché da Phot.ª Guedes
Na Praça de D. Pedro (já aqui abordada) também designada por Praça Nova e presentemente por Praça da Liberdade, existiu um quiosque pertencente a um interessante indivíduo.
Chamava-se Sebastião Vieira de Magalhães, usava o típico barrete judaico e barba, procurando ser afável para com todos os seus clientes, a quem se dirigia, com termos semelhantes a este: "Aqui está o jornal que o ilustre correligionário* procura".
Desta forma, Sebastião Vieira de Magalhães era "correligionário" de todos os seus clientes, ficando o termo para sempre associado à sua pessoa.
Praça de D. Pedro. O quiosque em primeiro plano
Quiosque na Praça de D. Pedro
Praça de D. Pedro c.1900
O quiosque do "Correligionário". Em segundo plano, vemos a igreja dos Congregados e os edifícios adjacentes à mesma, que antecederam os que conhecemos actualmente naquele local. Um deles foi ocupado pelo restaurante "Camanho"
 Praça de D. Pedro. BPI: Editor - Arnaldo Soares
Caricatura do "Correligionário" no seu local de trabalho
Sebastião Vieira de Magalhães, faleceu nos anos 20 do séc. passado e o quiosque, devido às muitas obras que este local sofreria, a partir de 1916, começou por ficar isolado num separador central e mais tarde, inevitavelmente desapareceria.
*Nota:  Correligionário - Aquele que é da mesma religião ou do mesmo partido político que o outro.

Ponte das Barcas. (Porto / Gaia)

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Respondendo a várias solicitações, dos nossos estimados leitores, sobre a "Ponte das Barcas", vamos tornar a abordar o assunto e aprofundar mais, uma breve publicação que havíamos feito no blogue, em 14 de Outubro de 2009. 
Esta nova publicação irá dessa forma, substituir a antiga.
A inegável necessidade de haver uma travessia para a margem Sul do Douro para circulação de pessoas e mercadorias do Porto, constituiu uma preocupação permanente ao longo dos séculos.
Existiram diversas "Pontes das Barcas" ligando o Porto a Vila Nova de Gaia, tal era importante a ligação entre estas duas povoações vizinhas, separadas apenas pelo Rio Douro.
Ponte das barcas em 1817. Henry L'Eveque. Clique para ampliar
 Gravura de J. J. Forrester, 1835. Ponte das barcas
A Ponte das Barcas, construída com objectivos mais duradouros, foi projectada por Carlos Amarante e inaugurada a 15 de Agosto de 1806. Era constituída por vinte barcas ligadas por cabos de aço e que podia abrir em duas partes para dar passagem ao tráfego fluvial.
Foi nessa ponte que se deu a tristemente célebre catástrofe da Ponte das Barcas, em que milhares de vítimas pereceram quando fugiam, através da ponte, às cargas de baioneta das tropas da segunda invasão francesa, comandada pelo marechal Soult, em 29 de Março de 1809. Mais de quatro mil pessoas morreram.
Rio Douro, entre Porto e Gaia, c.1809
Citando o relato do sucedido:
"Alguns soldados franceses desgarrados tinham sido apanhados pelos portugueses, que para se vingarem duma derrota em parte atribuível à sua cobardia, arrastaram estes desgraçados para a rua principal, a Rua Nova, e aí os mataram barbaramente, crucificando-os de cabeça para baixo, para além de os mutilarem da forma mais horrível.
"Quando três dias depois o Exército francês forçou as defesas do Porto, não só o espectáculo dos seus compatriotas assassinados logo se lhes apresentou mas, como para provocar ao máximo as malvadas paixões da força invasora, aqueles soldados portugueses que tinham fugido a enfrentar os franceses em campo aberto, faziam agora fogo dos telhados, aumentando com cada tiro a fúria dos franceses que passavam em baixo, e que cedo se manifestou fazendo correr rios de sangue.
"Quando estas tropas francesas desciam a Rua Nova com as suas espadas banhadas no sangue dos habitantes indefesos, milhares destes procuraram escapar pela ponte de barcos que estabelecia a ligação com a povoação e o Convento de Vila Nova.
"O inimigo tinha penetrado na cidade de forma tão inesperada que não restava outra esperança de refúgio senão aquele temporário que se conseguiria na margem oposta do rio: uma massa de seres desprotegidos - homens, mulheres, crianças - foi vista a fugir aterrorizada para a ponte.
"Que pena poderá descrever as atrocidades que foram perpetradas em todos os cantos da cidade nesse momento terrível. À medida que cada casa se tornava por sua vez num local de assassínio e violação, aumentava o horror; e como se a esperança de prolongar a obra de destruição se misturasse com os bárbaros desejos do momento, um corpo de cavalaria inimigo galopou para interceptar os fugitivos que se dirigiam à ponte, enquanto que várias peças de artilharia começaram um fogo mortal na mesma direcção.
"Há medida que os dragões franceses pressionavam na direcção da ponte que constituía a última esperança dos infelizes habitantes, teve lugar uma cena de horror excedendo talvez qualquer outra das que têm conspurcado os anais da guerra.
"Com ferocidade impiedosa os soldados sedentos de sangue espadeiravam para todos os lados, não poupando idade nem sexo. Inumeráveis vítimas indefesas foram assim destruídas e, como que para aumentar a intensidade do sofrimento, os primeiros dois barcos que suportavam a ponte afundaram-se sob a pressão do enorme peso, e massas de seres humanos foram precipitadas na torrente tumultuosa. Viam-se perseguidores e perseguidos agarrados freneticamente uns aos outros nos últimos momentos duma luta mortal, à medida que a forte corrente os arrastava do local da luta para a quietude da morte".

"Alminhas da Ponte" na Ribeira do Porto, circa 1905-10
É um memorial representado num baixo relevo em bronze e realizado em 1897 pelo grande escultor Teixeira Lopes, (pai). A "memória" remete-se ao dia 29 de Março de 1809.
Centenas de portuenses, fugindo das tropas do Marechal Soult que atacavam a cidade do Porto sob ordens de Napoleão, durante as invasões francesas morreram nas águas do Douro, durante a travessia da "Ponte das Barcas". 
A ponte cedeu com o excesso de população a atravessar em simultâneo e a correr.
"Alminhas da Ponte", c.1905-10
Crianças, junto às "Alminhas da Ponte"
Reconstruída depois da tragédia, a Ponte das Barcas acabaria por ser substituída definitivamente pela Ponte D. Maria II ou Pênsil em 1843. Sobre essa nova ponte, temos uma publicação específica neste blogue.
Ponte D. Maria II ou Pênsil. A primeira ponte feita para durar e resistir
Prova actual em papel salgado, tendo por base um Calótipo de Frederick William Flower
Ponte D. Maria II. Frederick William Flower
Aspecto da cidade do Porto, desde a Igreja da Sé à Igreja da Vitória, vendo-se o Cais da Ribeira, a Ponte Pênsil e as Escadas da Rainha
Reprodução realizada em finais dos anos 40, de um calótipo de Frederick William Flower, 1849-1859



Sítio dos Laranjais e Campo das Hortas. (Porto)

sábado, 31 de outubro de 2015

Planta do Sítio dos Laranjais (...) para nele se construir um novo bairro que os moradores pretendem edificar (...)  1761-01-31 a 1916 in AHMP
Segundo registos da Direcção-Geral do Património Cultural, entre outras fontes oficiais, sabemos que a actual Praça da Liberdade designou-se primitivamente por Casal ou Lugar de Paio de Novais, Sítio ou Fonte da Arca, denominando-se, mais tarde, por Quinta, Campo ou Sítio das Hortas. 
(...) o Campo das Hortas, onde ainda corre o rio de Liceiras e outros pequenos cursos de água (...)
Foi ainda Lugar ou Praça da Natividade, Praça Nova das Hortas, Praça da Constituição e de D. Pedro IV e, mais recentemente, Praça da República.
Já em 1691, a municipalidade do Porto e o Capítulo da Sé-Catedral tinham lançado o projecto de estabelecer no Campo das Hortas, propriedade do Capítulo, uma praça pública, entre a Porta de Carros e o Postigo de Santo Elói. O projecto não foi por diante, tendo sido retomado em 1709, pelo então Bispo do Porto, D. Tomás de Almeida, que propõe a abertura de uma praça de formato quadrangular digna de "rivalizar com a Plaza Mayor de Madrid".
Lugar dos Laranjais, sobrepondo-se a localização da Avenida dos Aliados
Tratava-se do primeiro grande empreendimento urbanístico de Portugal. Chegaram mesmo a efectuar-se os contactos de aforamentos das parcelas a construir e a lançar os alicerces de alguns dos edifícios, contudo, por dificuldades várias também este projecto não teve continuidade.
Em 1718 novo projecto foi lançado, cuja realização teve início quando "o cabido da Sé cedeu a 17 de Fevereiro de 1721 terrenos seus expressamente para uma praça". Novas ruas foram então abertas - a rua do Laranjal das Hortas (futura rua dos Lavadouros, hoje desaparecida) e a rua da Cruz (actual rua da Fábrica).
Rua do Laranjal (desaparecida), vendo-se a torre da Igreja da Trindade

Da concretização deste projecto resultaria a Praça Nova das Hortas (ou só Praça Nova).
Foi aberta no século, XVIII, no então chamado Campo das Hortas, limitada a Norte por dois palacetes (desaparecidos), onde funcionaram os Paços do Concelho até 1915; a Sul pela muralha fernandina, destruída mais tarde em 1788 e substituída por um conjunto monumental - o convento dos Frades de Santo Elói - cuja fachada sobre a praça constitui o edifício "da Cardosa", só terminado no século XIX, mas obedecendo ao primitivo projecto - a praça "tout-court". O lado oriental era ocupado pelo Convento dos Congregados, e o lado poente só mais tarde foi edificado.
Planta do Bairro dos Laranjais ou Bairro do Laranjal
Durante o século XIX, factores vários - a instalação da Câmara no topo Norte (1819); a inauguração da Ponte Luís I (1887); a extensão da via férrea até S. Bento (1896) - contribuem para tornar a Praça definitivamente num importantes centro político, económico e sobretudo social. 
Praça de D. Pedro. Palacete dos Paços do Concelho. BPI
Em meados daquele século, a Praça era já o "ponto predilecto de reunião dos homens graves da política e do jornalismo, da alta mercância tripeira e dos brasileiros". 
Predominavam os botequins: "Guichard", "Porto Clube", "Camacho", "Suíço", "Europa", "Antiga Cascata", "Internacional", etc., aos poucos desaparecidos em consequência da profunda reestruturação daquela área, onde as entidades bancárias, companhias seguradoras ou escritórios conquistaram o seu espaço. 
Rua de D. Pedro (desaparecida). Cliché da Casa Alvão
As obras da Avenida iniciaram-se no dia 1 de Fevereiro de 1916 com a demolição do edifício que serviu de Paços do Concelho, a norte da Praça da Liberdade, acompanhada do desaparecimento das ruas do Laranjal, do bairro com o mesmo nome e da rua de D. Pedro, entre outras.
Demolições, para a abertura da Av. dos Aliados

Fontes:
- DGPC
- AMP