Já falamos em "posts" anteriores, de forma individual, das várias Pontes que existiram entre Matosinhos e Leça da Palmeira, tentamos sempre acompanhar esses textos de imagens da época com a melhor resolução possível. Achamos no entanto que esses itens destruídos, que são verdadeiro património para sempre perdido, merecem um texto mais completo, que os abordem no seu conjunto. É isso que vamos tentar aqui fazer.
Em Leça da Palmeira, antigamente, no norte e para nascente, existiam imensas bouças onde prosperavam
inúmeros pinheiros-bravos, entremeados, aqui e além, de pinheiros mansos.
De exemplares adultos de pinheiro bravo, foram construídas, - em distintas épocas e para diferentes fins, umas pontes, a ligar Leça da Palmeira a Matosinhos.
A primeira, em 1886 (?), a mando da "Companhia dos Carris de Ferro do Porto", - desde frente à R. Roberto Ivens (Juncai de Baixo), Matosinhos, até ao Largo do Amado, - a fim de dar passagem aos utentes, - e não somente, - dos seus transportes colectivos que, então, na dita rua, terminavam.
A 5 de Julho de 1899, declarou-se nela um grande incêndio; salvaram-na os Voluntários de Matosinhos-Leça e os do Porto. Foi abatido, o que dela restava, em 1922.
Aparece um belo panegírico a esta veneranda ponte, em "O Badalo" de 11 de Março de 1917, subscrito por Agenor de Castro, que merece ser reproduzido aqui. Tem por título "A Ponte de Pau", nome por que sempre, - e só essa, - foi conhecida.
Passamos a citar: “Tem escutado os mais ternos namorados, e os mais ciumentos esposos; tem presenciado actos de abnegação heróica, e cenas imoralíssimas de concubinagem; tem sentido o peso de delicados sapatinhos Luís XV, e de chancas crivadas de enormes tachões de cabeça de cravo; tem sentido arrastar as mais custosas sedas, num murmuroso frufru, e as mais miseráveis e fétidas roupagens dos párias que por ela passam, dos desgraçados que, debaixo dela, pernoitam; tem abafado, na sua nudez mortal, vagidos de inocentes crianças, e roncos alcoolizados de seres que mercadejam tudo, desde o anel, à própria honra; desde o fato que vestem, ao corpo imundo e abjecto que possuem (...)”.
Ponte de Pau sobre o rio Leça
A segunda ponte partia do mesmo Largo do Amado mas, ia mais para montante, terminando junto a ponte metálica, do eléctrico. Desta ultima, pouco se escreveu, no entanto sabe-se que servia também para peões.
Ponte metálica, ou do eléctrico
Ponte metálica, ou do eléctrico
Ponte metálica, ou do eléctrico
Uma terceira, foi montada aproximadamente onde está a entrada da doca n.° 1. No entanto, ambas foram
aparelhadas para a construção do porto de Leixões. Logo que se tornaram
desnecessárias, as desarmaram.
Ainda existiu, e era também de pinho, uma outra ponte, - melhor se lhe chamará viaduto-escada, - na Avenida da Liberdade, em frente à R. Heróis de África, para dar passagem segura aos banhistas até à praia, enquanto por aqui e debaixo dela, transitavam as bagonetas com terra e pedra saídas do ventre da doca, para aterro da referida via de acesso. Durou de 1933 a 1937.
Da mesma tão preciosa árvore se fizeram grande parte dos enormes simples ou cimbres, indispensáveis à construção do Porto de Leixões. A ponte de ferro, esteve também intimamente ligada a esta grande construção, e por ela atravessou a pedra necessária à construção do molhe Norte. Viria mais tarde a servir para os comboios da linha da Boavista-Leça e da Póvoa de Varzim.
Ponte do comboio
Por último, a Ponte de Pedra (românica), também chamada Ponte dos 19 Arcos, mandada fazer por D. Afonso V. Era efectivamente constituída por 19 arcos e duas meias laranjas, embora com as obras da urbanização da alameda de Leça, foi-lhe "amputado" um dos seus arcos. Serviu durante muitos anos de passagem para quem ia para Matosinhos, para as conserveiras, vindo de Leça ou Santa Cruz do Bispo, nomeadamente. À semelhança das restantes pontes nada ficou para assinalar a sua existência.
Ponte dos 19 Arcos, Ponte de Pedra, ou simplesmente Ponte sobre o Leça
Ponte dos 19 Arcos ou Ponte de Pedra
Ponte de pedra sobre o Rio Leça, c.1910
BPI - Editor: Grandes Armazéns Hermínios
Ponte dos 19 Arcos, Ponte de Pedra, ou simplesmente Ponte sobre o Leça, numa vista lateral (em cima) e vendo-se a entrada do tabuleiro (em baixo) durante uma altura de forte intempérie
Viatura atravessando a demolida ponte dos 19 Arcos, durante uma cheia do Leça
Esta parece pois, ser a sina das pontes em Leça, tendo em conta que ainda recentemente se chegou a falar também, na demolição da actual ponte móvel...
Adaptado de:
- “Lustrando Antiguidades”
- “Livros Carunchentos”