Casa n.º 152 da Rua de Miragaia. (Porto)

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Esta publicação, quase pode ser considerada uma "brincadeirinha" tendo em conta a sua simplicidade. No entanto mostra-nos uma realidade presente: 
A degradação do património, caso não haja intervenção humana no intuito de o preservar.
Como exemplo. vejamos a imagem de baixo, que não tem mais que algumas décadas. 
Trata-se de um pormenor da fachada da casa n.º 152 da Rua de Miragaia, com autoria de Guilherme Bomfim Barreiros.
 Casa n.º 152 da Rua de Miragaia. Bomfim Barreiros
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Rua de Miragaia n.º 152

Crise alimentar de 1917.

Durante a Primeira Grande Guerra Mundial (1914-1918) agravaram-se as debilidades que Portugal apresentava no que respeitava à produção de bens alimentares básicos, nomeadamente os cereais. 
Os preços dispararam, começaram a aparecer fenómenos de açambarcamento e de contrabando. 
Após o inverno de 1916-1917, apareceu a fome e todos os problemas que ela arrasta. 
Nesse inverno, os Aliados tinham reforçado o bloqueio à Alemanha, tendo esta reagido violentamente, com a guerra submarina no Atlântico, procurando cortar o abastecimento às nações aliadas. 
Porto. Crise alimentar. Pessoas à porta de uma casa. 1916-17. Phot.ª Guedes
Crise alimentar de 1916-17 
Interior do posto de venda da padaria de Montebello (actual Av. Fernão de Magalhães)
Crise alimentar de 1916-17 
Posto de venda da Junta de Paróquia de Santo Ildefonso
Crise alimentar de 1916-17
 Posto de venda da Junta de Paróquia do Bonfim
Em todo o lado faltavam todo o tipo de matérias-primas e alimentos. Todos os países, beligerantes ou não, mergulharam no caos. Uns mais que outros, mas a maioria, como Portugal, sofreram uma grave crise de subsistências, inflação e fome, acompanhadas por uma crescente agitação operária e popular, greves, motins de rua, insurreições militares e revoluções.
Entre 19 e 21 de Maio de 1917, deu-se a "Revolução da Batata" que mais não foi que, assaltos a mercearias e armazéns em Lisboa e no Porto devido à falta de alimentos, provocada pelo racionamento. O governo manda reprimir severamente todos os tumultos e declara o estado de sítio em Lisboa e concelhos limítrofes.

Imagem:
- Phot.ª Guedes
- Arquivo Histórico Municipal do Porto

O "Penado de D. Lopo" ou "Penado de Escamarão". (Escamarão)

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Consta-se que Dom  Lopo de Cardia era um senhor feudal, que tinha tanto de poderoso, como de impiedoso.
No relato de Adriano Strecht de Vasconcelos em "O Penado do Escamarão", Dom Lopo tomou-se de afeição por uma rapariga, invulgarmente bela, de nome Maria, filha de um foreiro chamado Inverneiro do lugar de Avessadas, onde lhe cultivava as terras. Querendo desfrutar-se da rapariga, Dom Lopo pretendeu usar da prerrogativa feudal do direito de pernada, impondo-lhe marido, para depois com ela passar a noite de casamento.
Casa em Escamarão, onde por muitos anos esteve o sepulcro
Paradoxalmente às ideias de Dom Lopo, Maria havia escolhido a vida de monja. 
Quando na capela do Escamarão, perante o povo que lhe acedia, o sacerdote procedia ao cerimonial de aceitação dos votos da prometida de Cristo (renunciar ao mundo materialista e obedecer à regra de S. Bento, viver em pobreza, abstinência e castidade) Dom Lopo irrompeu porta dentro, protestando furiosamente contra a usurpação dos seus direitos. Dom Lopo apoderou-se assim da jovem Maria, levando-a para a sua casa senhorial, o Paço da Cardia.
Deus não tolerou esta atitude.
Quando Dom Lopo chegou ao apalaçado solar de Cardia, só encontrou as ruínas do mesmo. Havia sido destruído, por mão divina. Desta forma voltou ao Castelo na Foz do Paiva. Ao galgar a ponte levadiça de acesso, todo o morro onde o Castelo assentava estremeceu. 
O Castelo ruiu e Dom Lopo foi atingido de morte, por um raio.
Quando tentaram sepultar o corpo, nem a terra nem a tumba o aceitaram. 
Na Igreja:
«... a entrada, lhe vedou a imagem
Do Anjo S. Miguel, que era descido
Do seu altar e com o seu montante
Da porta é sentinela vigilante».
A arca tumular de granito onde pretendiam guardar os restos mortais de Dom Lopo também o rejeitou, erguendo-se e permanecendo ao alto, e os esforços para o enterrarem na terra foram frustrados de tal forma, que se diz que nem a terra o quis. O corpo do devasso Senhor desapareceu na noite desse mesmo dia e na noite dos tempos.
Arca tumular incorporada na escadaria
Resume-se desta forma a antiga lenda de «O Penado do Escamarão» segundo Strecht.
A arca tumular em granito, permaneceu muitos anos no mesmo local, vazia e ao alto, posteriormente a servir de apoio a uma escada de uma casa fronteira à Igreja. 
Diz o povo local que «Em certas noites de tempestade ouve-se, perto da Igreja de Escamarão, uma voz fantasmagórica a cantar o Miserere, bem como o som de uma campainha» 
Esta casa, onde estava o Penado de D. Lopo, foi restaurada recentemente e foi retirado de lá o túmulo histórico. Correm vozes que o mesmo foi para Cinfães, outras dizem que foi para Castelo de Paiva.
Pelo que soubemos mais recentemente, o túmulo regressou ao local (Escamarão) e está exposto, perto do local onde funcionou como "degrau".
Pormenor do túmulo, servindo ainda de "degrau" de escada


Bibliografia:
- Inácio Nuno Pignatelli, in O Paiva, ou a Paiva... como também lhe chamam, Edições Afrontamento, Porto, Dezembro de 1998
- Biblioteca Municipal do Porto
Imagens:
- Alexandre Silva