O "Penado de D. Lopo" ou "Penado de Escamarão". (Escamarão)

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Consta-se que Dom  Lopo de Cardia era um senhor feudal, que tinha tanto de poderoso, como de impiedoso.
No relato de Adriano Strecht de Vasconcelos em "O Penado do Escamarão", Dom Lopo tomou-se de afeição por uma rapariga, invulgarmente bela, de nome Maria, filha de um foreiro chamado Inverneiro do lugar de Avessadas, onde lhe cultivava as terras. Querendo desfrutar-se da rapariga, Dom Lopo pretendeu usar da prerrogativa feudal do direito de pernada, impondo-lhe marido, para depois com ela passar a noite de casamento.
Casa em Escamarão, onde por muitos anos esteve o sepulcro
Paradoxalmente às ideias de Dom Lopo, Maria havia escolhido a vida de monja. 
Quando na capela do Escamarão, perante o povo que lhe acedia, o sacerdote procedia ao cerimonial de aceitação dos votos da prometida de Cristo (renunciar ao mundo materialista e obedecer à regra de S. Bento, viver em pobreza, abstinência e castidade) Dom Lopo irrompeu porta dentro, protestando furiosamente contra a usurpação dos seus direitos. Dom Lopo apoderou-se assim da jovem Maria, levando-a para a sua casa senhorial, o Paço da Cardia.
Deus não tolerou esta atitude.
Quando Dom Lopo chegou ao apalaçado solar de Cardia, só encontrou as ruínas do mesmo. Havia sido destruído, por mão divina. Desta forma voltou ao Castelo na Foz do Paiva. Ao galgar a ponte levadiça de acesso, todo o morro onde o Castelo assentava estremeceu. 
O Castelo ruiu e Dom Lopo foi atingido de morte, por um raio.
Quando tentaram sepultar o corpo, nem a terra nem a tumba o aceitaram. 
Na Igreja:
«... a entrada, lhe vedou a imagem
Do Anjo S. Miguel, que era descido
Do seu altar e com o seu montante
Da porta é sentinela vigilante».
A arca tumular de granito onde pretendiam guardar os restos mortais de Dom Lopo também o rejeitou, erguendo-se e permanecendo ao alto, e os esforços para o enterrarem na terra foram frustrados de tal forma, que se diz que nem a terra o quis. O corpo do devasso Senhor desapareceu na noite desse mesmo dia e na noite dos tempos.
Arca tumular incorporada na escadaria
Resume-se desta forma a antiga lenda de «O Penado do Escamarão» segundo Strecht.
A arca tumular em granito, permaneceu muitos anos no mesmo local, vazia e ao alto, posteriormente a servir de apoio a uma escada de uma casa fronteira à Igreja. 
Diz o povo local que «Em certas noites de tempestade ouve-se, perto da Igreja de Escamarão, uma voz fantasmagórica a cantar o Miserere, bem como o som de uma campainha» 
Esta casa, onde estava o Penado de D. Lopo, foi restaurada recentemente e foi retirado de lá o túmulo histórico. Correm vozes que o mesmo foi para Cinfães, outras dizem que foi para Castelo de Paiva.
Pelo que soubemos mais recentemente, o túmulo regressou ao local (Escamarão) e está exposto, perto do local onde funcionou como "degrau".
Pormenor do túmulo, servindo ainda de "degrau" de escada


Bibliografia:
- Inácio Nuno Pignatelli, in O Paiva, ou a Paiva... como também lhe chamam, Edições Afrontamento, Porto, Dezembro de 1998
- Biblioteca Municipal do Porto
Imagens:
- Alexandre Silva

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