O Empório Por Fi Rios: Efervescência Sociocultural na Rua de Santa Catarina

quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

A antiga casa de pronto a vestir Por Fi Rios, situada na Rua de Santa Catarina, no Porto, transcendeu a mera função comercial, constituindo-se como um emblema da modernidade e da efervescência sociocultural que varreu Portugal a partir de meados do século XX.

​O estabelecimento iniciou a sua actividade aproximadamente na década de 1950 sob a designação primitiva de "Porfírios das Meias" (alusiva ao seu fundador, Porfírio Augusto de Araújo). Contudo, foi a partir de 1965/1966, com a sua expansão e a adopção do nome "Porfírios-Contraste" (ou Por Fi Rios), que a loja se metamorfoseou num centro catalisador de tendências.

​A sua relevância histórica reside na importação pioneira de vestuário e acessórios que reflectiam as correntes da moda jovem internacional, particularmente a estética da swinging London. A Por Fi Rios era o repositório por excelência das peças mais audazes, desde as calças boca de sino e as mini-saias às cores vibrantes, desafiando o conservadorismo indumentário vigente.

​O ambiente interno do estabelecimento era, por si só, uma experiência inovadora: o recurso a iluminação de luz negra e a reprodução de música contemporânea criava uma atmosfera sensorial, atípica para o comércio da época. O rigor no styling do seu próprio pessoal cimentava o seu estatuto de vanguarda.

​A Por Fi Rios encerrou as suas portas, pondo fim a uma era no comércio portuense, no ano de 2001. Deste modo, a loja não foi somente um entreposto comercial; funcionou como um fenómeno sociológico que ditou os cânones da moda de uma geração, deixando um legado indelével na história social e urbana do Porto.

A Livraria Lopes da Silva na Rua Chã: Uma Instituição no Contexto Urbano Portuense

Livraria Lopes da Silva, situada nos imóveis sob os números 101 e 103 da histórica Rua Chã, no coração nevrálgico da cidade do Porto, constituiu um relevante polo de difusão de conhecimento especializado.

​Formalmente reconhecida pela sua especialização, a livraria dedicava-se à comercialização de literatura técnico-científica e manuais de ensino escolar, suprindo uma necessidade crucial da comunidade académica e profissional da época. O seu acervo era notavelmente enriquecido por obras voluminosas de proveniência estrangeira, nomeadamente nas áreas de desenho e ciências médicas, servindo como um recurso bibliográfico de excelência para o estudo aprofundado e a curiosidade intelectual.

​A gestão do estabelecimento estava a cargo dos proprietários, D. Guilhermina e o Sr. Moreira, que habitavam as dependências superiores do edifício, utilizando o primeiro piso como armazém, numa conjugação típica entre habitação e atividade mercantil. O escritório, curiosamente, situava-se num prédio fronteiro.

​A cultura laboral da casa distinguia-se pela sua índole humanitária; a proprietária assegurava diariamente a distribuição do lanche aos seus colaboradores, um gesto que sublinha a dimensão social e familiar da instituição. Detalhes do espaço, como a rica decoração em madeira das vitrines interiores e a presença de um cofre de barro em forma de boneco representando um preto, no balcão elevado (destinado a recolher contribuições para missões humanitárias em África), ilustram as convenções estéticas e sociais da época.

​A Livraria Lopes da Silva transcendeu a mera função comercial, inscrevendo-se na memória coletiva como um dos esteios do circuito erudito do Porto, onde o comércio especializado se interligava com o quotidiano e as práticas de mecenato social.