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A criação do concelho de
Valongo remonta ao ano de 1836 e ocorre no contexto da reforma administrativa
do País, compreendida no reinado de D. Maria II. Contudo, a ocupação humana
desta região é muito anterior à romanização. Atendendo às características
geo-morfológicas do território do actual concelho, Valongo apresenta uma grande
riqueza geológica e paleontológica – factos que têm interessado particularmente
os meios universitários. A sua evolução histórica enquadra-se, com maior ou
menor especificidade, no devir histórico da sua envolvente. A pluralidade
de espaços repartidos entre o vale e a serra, a abundância de água garantida
pelos cursos dos Rios Leça e Ferreira e a riqueza do seu subsolo, terão
facilitado a fixação de povos desde épocas remotas. Vestígios toponímicos como
“Evanta”, “Monte da Mamoa”, “Mamoa do Piolho” e outros, atestam a existência de
monumentos funerários inerentes à ocupação destas zonas no período
Neolítico. Uma ocupação mais tardia corresponde às civilizações castrejas
da Idade do Ferro, localizadas nas Serras de Stª. Justa e Pias. Estão aí
referenciados três castros: Alto do Castro; Castro de Pias e Castro de Couce.
Povoados primitivos posteriormente ocupados pelos Romanos. Os materiais romanos
como mós, tegulae e cerâmica são frequentes nestes castros, locais muito
próximos das jazidas minerais profundamente exploradas em Valongo por este
povo. É muito significativa a ocupação romana desta área. Repare-se que o
próprio topónimo que a designa teve origem nas palavras latinas Vallis Longus. Sem
constituir, pelos factos conhecidos, um núcleo populacional importante do ponto
de vista urbano, Valongo teria a sua importância como centro mineiro, de onde
saía ouro para o Império. Estando, embora, afastado das principais vias mencionadas
no Itinerário de Antonino, servia, este centro, uma rede viária cuja criação
terá obedecido ao plano seguido por Augusto. Restam ainda vestígios que
permitiriam a detecção de dois eixos principais que atravessariam o concelho:
estrada Porto-Guimarães; estrada Alfena-Valongo-Aguiar de
Sousa/Penafiel. É também nesta altura que se inicia uma implantação
habitacional de planície, mais ligada à exploração agrícola, como meio de
alimentar os grupos que não trabalhavam no campo, como o exército, os
administradores das minas e os servos ou operários que nelas
labutavam. Abundam os vestígios materiais desta ocupação: aras votivas e
uma estela funerária, numerosos achados arqueológicos e grande quantidade de
poços e galerias, respiros e cortas que se encontram na serra. Há ainda
testemunhos seguros de uma necrópole de incineração. A queda de Roma marca
o fim de um ciclo histórico, mas não leva consigo os grandes contributos para
sempre legados à civilização ocidental. A romanização tinha feito emergir um
novo sistema económico-social, determinando uma nova organização administrativa
em tempos de ocupação e usufruto do território, tendo introduzindo novas
técnicas agrícolas – factores que marcarão todo o desenvolvimento da vida
económica e social durante a Idade Média. Não dispomos de dados que
permitam traçar o perfil individual do concelho de Valongo nos tempos que se
seguiram às invasões bárbaras. Os antecedentes onomásticos do topónimo “Luriz”
apontam para uma origem germânica. Da presença muçulmana, sobrevivem topónimos
como “Moirama”, “Ilhar Mourisco” e “Alfena”.
É todavia inquestionável que se assista por estes séculos, ainda
que com reveses, à progressiva fixação da mancha ocupacional nas terras baixas,
nos vales férteis dos Rios Ferrreira e Leça, com exploração fundeada no casal
como unidade económica de base. Formam-se povoados como S. Lourenço de Asmes,
Cabeda, Rua, Ferraria, Transleça e Baguim, em Ermesinde e Alfena; e Malta,
Susão, Valongo de Cima, Balselhas e Vilar, em Valongo, Campo e
Sobrado. Todas estas povoações estão ligadas por uma rede viária cada vez
mais densa, entroncando nos dois grandes eixos que atravessam o concelho e
ligam Porto a Guimarães e Porto a Vila Real. Valongo aparece então colocado na
órbita de influência de cidades tão importantes como o Porto e
Guimarães. Pelas Inquirições Gerais de 1258 sabemos que o actual concelho
se repartia à data, entre o Julgado de Aguiar de Sousa – que incluía S.Martinho
de Campo e Sobrado, e o Julgado da Maia, onde se incorporavam S.Vicente da
Queimadela, Valongo e S.Lourenço de Asmes.
Do ponto de vista económico-social,
a terra, como base da economia e do posicionamento social de cada um,
constitui, neste período, o elemento primordial de sobrevivência e de poder. Na
área do concelho, os grandes senhores da terra são o Rei e o Clero –
particularmente o Clero Regular. As parcelas detidas pela Nobreza e outras
instituições não adquirem especial relevo. Em contrapartida, o número de terras
reguengas era significativo e a propriedade dos mosteiros beneditinos
(fundamentalmente) tinha uma forte implantação na zona. Logo em 1062 o padroado
da Igreja da Freguesia de Valongo é doado às freiras do Mosteiro de S.Bento da
Avé Maria, sucedendo a esta doação muitas outras de terras privilegiadas. Com o
tempo, vários outros mosteiros são detentores de propriedades e benefícios no
concelho. Repartida a terra entre dois grandes possidentes – sem ter
constituído, no entanto, zona patrimonial de nenhum senhor – a larga maioria da
população seria constituída por camponeses e rendeiros, agentes de uma economia
agro-pastoril. Todavia, é possível registar desde cedo o exercício de outras
actividades, como complemento ou não da prática agrícola. Referências a moinhos
chamam a atenção para a importância do aproveitamento económico dos cursos de
água – actividade que conhecerá um franco desenvolvimento com a introdução do
cultivo do milho graúdo a partir do final da centúria de quinhentos.
Valongo - "Moleirinha dorme, dorme...". Cliché da Casa Alvão
Encontram-se também alusões à profissão de artífices como ferreiros,
correeiros, sapateiros e outros. E à profissão de almocreve, esta particularmente
favorecida pela situação geográfica de Valongo, como ponto de ligação entre o
litoral e o interior. O aparecimento de novos povoados, o alargamento
progressivo do termo das povoações já existentes, a multiplicação de capelas
sufragâneas e o fraccionamento da propriedade, comprova o notório crescimento
demográfico desta região ao longo dos séculos. Acompanha este aumento da
população um progressivo desenvolvimento de outros sectores de economia. A
indústria e o comércio, assentando inicialmente em formas incipientes, adquirem
uma forte expressão na economia. A indústria panificadora tradicional é disso
exemplo excelente: as suas origens remontam à Baixa Idade Média, mas conhece
tal desenvolvimento o fabrico de pão de trigo, que permitirá aos padeiros de Valongo
alimentar toda a região envolvente e com o produto do seu trabalho, contribuir
decisivamente para a construção da nova igreja, começada a edificar pelos
finais do século XVIII. No dealbar do séc. XIX, Valongo vive as
vicissitudes da presença do invasor francês. Uma divisão instala-se em Valongo,
transforma a igreja em cavalariça e saqueia valores a particulares e à igreja.
Em 1832, o concelho é palco das Guerras Liberais – Constitucionais e
Miguelistas enfrentam-se na Batalha da Ponte Ferreira.
Valongo - Ponte Ferreira
Em Ermesinde, o antigo
Convento de Nª. Srª. do Bom Despacho (Stª. Rita), torna-se hospital militar das
forças absolutistas e no adro da igreja são enterrados em vala comum muitos dos
que pareceram no Cerco do Porto. Contudo, num plano mais geral, recrudescem
os factores de desenvolvimento que se vinham observando. É entre os finais do
séc. XVIII e os inícios do séc. XX que se constroem as grandes casas de
lavoura em todas as povoações cujo cariz rural permanecerá por mais tempo.
Igreja Matriz de Valongo. Foi construída em meados do século XIX
Tem uma só nave coberta por uma abóbada cilíndrica cingida por quatro arcos
Adensa-se e multiplica-se a rede viária dentro dos limites do concelho, que
passa a ser servido por transportes como o carro eléctrico e o comboio.
Sucede-se a abertura de estabelecimentos comerciais, com particular relevo para
a principal artéria de Valongo e outros locais de Ermesinde. Os agregados
populacionais alongam sucessivamente os seus termos com a chegada contínua de
gentes vindas do interior. Assiste-se também à instalação de várias
indústrias. Por meados do séc. XIX, começa a exploração sistemática de ardósia
(uma indústria tradicional com grandes implicações ao nível social). Extrai-se
ainda do subsolo antimónio, volfrâmio e carvão. Nos limites de Ermesinde
implantam-se grandes fábricas como a “Resineira”, a “Cerâmica” – “Empresa
Industrial de Ermesinde” e a “Têxtil de Sá”. Outras nascerão noutras áreas do
concelho. Com maiores ou menores dimensões, adquirem relevo no concelho ramos
da indústria como a Metalomecânica, a Metalúrgica, a Têxtil, a Construção Civil
e Obras Públicas, a Alimentar e as Madeiras e Mobiliário. Freguesias como
Campo e Sobrado conservam um maior pendor de ruralidade. Domina o regime de
minifúndio com produções tradicionais – a vinha, o milho e as forragens, a que
está ligada a produção de leite. Têm surgido culturas novas como a kiwicultura
e a hortifloricultura. Valongo é hoje um concelho empenhado em cumprir um
desenvolvimento harmonioso e equilibrado. O crescimento económico terá que
conviver com a preservação dos bens culturais e naturais. Uma dualidade que
garantirá sempre a qualidade de vida.
Fontes:
- CMV
- Arquivo Municipal de Valongo
- CMV
- Arquivo Municipal de Valongo
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